ELEIÇÕES NEGRAS 2022
Fake news: o vale-tudo da desinformação
por Primeiros Negros
Imagem: Reprodução
Crie o hábito de checar todas as mensagens que recebe. Pode ser uma mentira sobre você mesmo. Não divulgue notícias falsas. Somos a população que mais acredita em informações fraudulentas. Confira: no final do texto, agências de checagem e links para vídeos voltados à cultura do questionamento. Na dúvida, não compartilhe.
Notícias falsas, fraudulentas – conhecidas como fake news, do inglês – são informações inverídicas, boatos, desinformação, conteúdo enganoso no todo ou em parte. Tudo é publicado como dado da vida real quando, na verdade, não passa de invenção.
Fake news são criadas para legitimar um ponto de vista, enganar leitores, telespectadores, povo, cidadãos, nós, eleitores e induzir a erro, a um determinado comportamento, prejudicar uma pessoa ou grupo, proporcionar vantagens financeiras, políticas…
No passado, as fake news faziam parte da chamada “imprensa marrom” – expressão de cunho pejorativo, utilizada para se referir a veículos de comunicação considerados sensacionalistas, exagerados, que noticiavam fatos sem compromisso com a verdade.
Na atualidade, o conceito é aplicado principalmente a portais de comunicação online, como redes sociais, sites e blogs, que são plataformas de fácil acesso e, portanto, mais propícias à propagação de notícias falsas, visto que qualquer um pode fazer publicações.
Poder viral
As fake news têm enorme poder viral, espalham-se como pólvora – destróem! Isso porque as informações falsas apelam para o emocional do leitor/espectador, fazendo com que se consuma o material “noticioso” sem confirmar se é verdade ou não.
Em 2018, por exemplo, mais de 15 milhões de notícias falsas foram compartilhadas no Brasil – uma enxurrada! De lá para cá, instituições do Estado e organizações da sociedade trabalham para combatê-las. Mas para sairmos vitoriosos neste confronto entre a verdade e a mentira, cada um, cada uma de nós, também tem de fazer a sua parte.
Não divulgar mentiras é atitude cidadã, por um Brasil honesto!
#FakeNewsNão
Para alertar e conscientizar a população dos perigos do compartilhamento de informações falsas, em 1º de abril de 2019, representantes do CNJ – Conselho Nacional de Justiça, de associações da magistratura, tribunais superiores e da imprensa lançaram o Painel de Checagem de Fake News.
Uma das iniciativas do Painel é a campanha #FakeNewsNão, que divulga posts, vídeos, textos e artes que esclarecem sobre os danos provocados por informações falsas e ajudam a população a identificar publicações suspeitas, impedindo a sua circulação.
Em apenas um mês de campanha, houve mais de 2 milhões de impressões – número de vezes em que os tweets com a hashtag #FakeNewsNão foram vistos.
Além disso, o Painel recomenda a utilização das hashtags #FakeNewsPerigoReal e #FakeNews para compor a postagem nas redes sociais.
De olho nas eleições
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mantém um Programa Permanente de Enfrentamento à Desinformação, uma Comissão de Segurança Cibernética, um termo de cooperação com a Câmara dos Deputados para combater a disseminação de notícias falsas, um link em seu site chamado Fato ou Boato, além de convênios com agências de checagem de conteúdo, como Lupa, Aos Fatos, Boatos.org e E-farsas.
No Poder Legislativo, em 2019, foi criada uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), envolvendo deputados federais e senadores, para investigar o fenômeno de notícias falsas, que ganharam protagonismo nas eleições para a Presidência da República em 2018 e foram determinantes para a vitória de Jair Messias Bolsonaro.
A pandemia de covid, entretanto, suspendeu a CPMI e o projeto de lei, conhecido como PL das Fake News, de nº 2.630/20, foi enviado para a Câmara Federal. Mas o aumento da base de apoio do presidente da República no Parlamento, de lá para cá, tem inviabilizado sua aprovação, o que inclui a análise da matéria por deputados e senadores e, posteriormente, a sanção ou veto do presidente.
Contexto
Assim chegamos a 2022 e estamos às vésperas de mais uma eleição, com mais de 650 mil mortos na pandemia, ultrapassando os 12 milhões de desempregados, inflação de dois dígitos e violência nas alturas, incluindo maior número de armas nas mãos da população civil e queda radical na qualidade da nossa educação, que já não era boa!
Mudar esta realidade está nas nossas mãos. E somos mais que números defasados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que desde 2010 não contabiliza o tamanho da população. Mas, sobreviventes da pandemia e do desgoverno, seguimos pessoas de todos os gêneros, classes sociais, idades, nível educacional, raça, fé religiosa… Somos a maioria – como população negra e feminina – que é tratada como minoria, exatamente por não termos poder, por não nos fazermos representar nas esferas de poder.
#EleiçõesNegras2022 #VotePreto #VotePreta
Senso crítico é a nossa ferramenta para combater notícias mentirosas. E seres humanos têm capacidade de desenvolver senso crítico, alfabetizar-se digitalmente, construindo uma história diferente da que temos vivido nos últimos tempos, com mais responsabilidade por quem somos e pelos nossos que virão depois.
A educação virtual pode ajudar cada eleitor e eleitora a detectar informações falsas, de modo a não tumultuar o debate público nem alimentar o sentimento de intolerância.
Não se trata de ser de direita ou de esquerda, a favor deste ou daquele candidato, professar uma ou outra religião. Combater fakes news tem a ver com respeito, com honestidade, com jogo limpo, transparente, vida, segurança, emprego, educação.
Não é papel só da imprensa, mas do professor, da família, do vizinho, de todo mundo, nos reconhecermos como povo. Todos precisamos entender como o noticiário é produzido e mudarmos o nosso jeito de ser brasileiros!
Retrato em preto-e-branco
Estudo divulgado em 2018, pelo Instituto Mundial de Pesquisa (IPSO), intitulado “Notícias falsas, filtro de bolhas, pós-verdade e verdade” (Fake news, filter bubbles, post-truth and trust ) revela que 62% dos entrevistados do Brasil, no levantamento, admitiram ter acreditado em notícias falsas, valor acima da média mundial que é de 48%.
Quer dizer, somos a população que mais acredita em fake news no mundo. Um levantamento da Avaaz, organização de pesquisa e plataforma de mobilização online, revela ainda que o brasileiro acredita em qualquer informação, sem fazer nenhum tipo de verificação de conteúdo e que 7 em cada 10 brasileiros se informam pelas redes sociais.
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Um outro estudo, de junho de 2020, sobre o Relatório de Notícias Digitais do Instituto Reuters (Reuters Institute Digital News Report), mostra que o WhatsApp é uma das principais redes sociais de discussão e troca de notícias no país – só perde para o Facebook. E mais: 48% dos brasileiros, participantes da pesquisa, usavam o aplicativo como fonte de notícias – número bem superior comparado ao índice de países como Austrália (8%), Reino Unido (7%), Canadá (6%) e Estados Unidos (4%).
Outro pormenor não menos importante: fake news crescem conforme o número de compartilhamentos. Quer dizer, sem repasse, fake news não vingam! Por isso, cuidar do que se compartilha é fundamental.
Isso NÃO É bobagem!
Divulgar fake news não é considerado crime, ainda, mas é um ato muito perigoso. Não existe uma legislação específica sobre as mensagens falsas, mas criadores e compartilhadores podem responder por crimes como calúnia, difamação ou mesmo racismo, a depender do conteúdo da mensagem falsa compartilhada.
No Brasil, em 2014, a disseminação de uma fake news provocou o linchamento de Fabiane Maria de Jesus, 33 anos, dona de casa, casada, mãe de dois filhos. Ela morava no Guarujá, litoral paulista, e foi acusada de sequestrar crianças para fazer rituais de magia negra, no entanto, a informação era falsa.
Em 2018, a manipulação de imagens – outro expediente das fake news – induziu a erro diversos eleitores – pessoas trocaram os números de candidatos nas propagandas partidárias.
Na Índia, também em 2018, cenas fictícias foram editadas e veiculadas como suposto sequestro de crianças em Rainpada, uma vila local. Desesperados, os moradores começaram a perseguir os supostos sequestradores, resultando na morte de cinco pessoas.
Movimentos anti vacinação têm disseminado notícias falsas, aumentando a resistência à vacinação e diminuído consideravelmente o número de pessoas imunizadas, colocando em perigo a saúde da população em épocas de epidemias e surtos.
No ano de 2016, o Ministério da Educação teve de ir a público esclarecer que não havia a circulação do falso “kit gay”nas escolas públicas do Brasil.
O discurso de ódio que toma conta das redes sociais tem resultado em ataques a acampamentos de imigrantes venezuelanos em território nacional e a ativistas dos direitos humanos, como a vereadora carioca Marielle Franco, assassinada em 2018. Entre os boatos, estava a suposta ligação da vítima com o tráfico. A Justiça do Rio de Janeiro entrou no caso e determinou a retirada do conteúdo do ar. Mas não garantiu sua vida!
Pelo fim da credulidade
Estudiosos do assunto acreditam que o ideal seria a criação de políticas públicas com foco na análise crítica da mídia, educação de massa da sociedade. Mas enquanto isso não acontece, o caminho é a auto-educação e o compartilhamento de estratégias para que a verdade prevaleça. Para isso, no entanto, é necessário criar uma cultura de questionamento.
Na dúvida, não compartilhe.
- Jogue um trecho da mensagem em um buscador. Procure as mesmas informações em outros veículos.
- Consulte os sites de verificação de fatos
- Verifique a fonte da informação, a autoria. Nas mídias tradicionais, já aprendemos a identificar sinais de demagogia. Mas nos novos canais ainda não.
- Confira data e local da publicação – uma notícia real, porém, antiga, pode causar pânico ou criar expectativas sobre alguma situação já resolvida ou controlada. Conteúdo falso nem sempre é 100% mentiroso. Às vezes, é só um trecho usado fora de contexto ou uma matéria muito antiga compartilhada como nova.
- Observe se possui palavras em letras maiúsculas, exclamações, abreviações, erros de ortografia, excesso de adjetivos. Expressões do tipo ‘famoso médico’, ‘famoso especialista’, ‘famoso jurista’ servem para acender o sinal de alerta.
- Duvide dos títulos sensacionalistas, apelativos, exagerados ou milagrosos. Geralmente são feitos para acumular cliques. Não clique.
- Outros truques utilizados pelos criadores de fake news são: copiar a aparência de sites e jornais tradicionais e manipular imagens e vídeos.
- Releia a informação quando perceber que ficou irritado e/ou indignado. Mensagens que nos deixam com raiva, mexem com nosso emocional, nos fazem querer compartilhá-las sem pensar duas vezes. Pergunte-se: A quem interessa?
Importante: denuncie as mensagens falsas em sites e plataformas de redes sociais. No Facebook, é possível classificar o conteúdo suspeito como “falso”: basta clicar nos três pontinhos do canto direito da publicação.
As agências de checagem de fatos – especializadas em confirmar ou desmentir discursos políticos, vídeos e até correntes de WhatsApp – também possuem formulários de denúncia.
Mantenha-se bem informado.
“Siga o dinheiro”
Fake news tem a ver com grana. A expressão “siga o dinheiro” é perfeita para compreender o crescimento desmedido desse expediente. Uma das principais motivações dos criadores de mensagens falsas, aliás, é ganhar dinheiro.
Por conta do funcionamento das redes sociais, eles conseguem renda através dos cliques e do engajamento que as mentiras geram. E este é mais um motivo para não clicar de imediato em links com notícias sensacionalistas, pois tem esse viés de caça-clique. Ao clicar, movidos pela curiosidade, a gente estimula ainda mais esse tipo de material.
As consequências do compartilhamento das mensagens mentirosas vão além do ganho financeiro dos criadores de fake news: quando se passa uma notícia falsa adiante em um grupo de família, pode-se estar colocando em risco a vida de outras pessoas.
Fake News, a história
O termo Fake News ganha força mundialmente em 2016 com a corrida presidencial dos Estados Unidos, época em que conteúdos falsos sobre a candidata Hillary Clinton são compartilhados de forma intensa pelos eleitores de Donald Trump.
O conceito desse tipo de conteúdo falso, no entanto, vem de séculos passados e não há uma data oficial de origem – o que mudou foi a nomenclatura, o meio utilizado para divulgação e o potencial de persuasão que o material falso adquiriu nos últimos anos.
Muito antes de o Jornalismo ser prejudicado pelas fake news, escritores já propagavam falsas informações sobre seus desafetos por meio de comunicados e obras.
Anos mais tarde, a propaganda tornou-se o veículo utilizado para espalhar dados distorcidos para a população, o que ganhou força no século XX.
No Brasil, os pontos de ônibus eram o lugar de divulgação do que chamávamos de “boato”. De uma conversa “inocente” entre duas pessoas, ouvida por uma terceira, criava-se a rede de desinformação, do “diz-que-me-disse”, da fofoca.
E verdade que muitos de nós, quando crianças, aprendemos a brincar de “telefone estragado” ou “telefone-sem-fio”, cochichando palavras ou frases nos ouvidos uns dos outros com o desafio de não corromper a mensagem original, mas sempre corrompendo. Mas a questão, agora, é que somos adultos!
Caminhos para checagem
Lupa – da Revista Piauí com a Fundação Getúlio Vargas e a rede Um Brasil. Analisa conteúdo nacional e internacional e classifica-os em: verdadeiro; verdadeiro, mas…; ainda é cedo para dizer; exagerado; contraditório; insustentável; falso e de olho.
Boatos.org – formado por jornalistas brasileiros que investigam conteúdos que circulam nas redes e informam aos leitores se são verdadeiros ou falsos.
Aos Fatos – com criadores que fazem parte de uma rede internacional de investigadores. Trabalha com a análise dos assuntos mais populares da internet. Possui parceria com o Facebook para ajudar os usuários do Messenger (serviço de mensagens instantâneas da empresa) na navegação e identificação da veracidade dos posts. As notícias são definidas pela equipe como: verdadeiras, imprecisas, exageradas, contraditórias, insustentáveis e falsas.
Minuto da Checagem – ação do Tribunal Superior Eleitoral de combate à desinformação, com uma série de 8 vídeos, de cerca de 1 minuto, com informações sobre a disseminação de notícias falsas e como evitar essa prática.
G1: Fato ou Fake – serviço de monitoramento e checagem de conteúdos duvidosos no celular e pela internet. No Fato ou Fake, também, vídeos explicam o caminho da desinformação:
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Fontes: Brasil Escola, G1, Migalhas, CNJ, Infográficos
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