Per Ankh, Casa da Vida, um sistema de ensino
– Primeiros Negros
À frente, Ankh, hieróglifo egípcio que significa vida, usado também como amuleto de proteção, e ao fundo, Maat, a deusa que representa a harmonia universal, a própria ordem, justiça, equilíbrio e verdade. (Wikipedia/Reprodução)
A educação é de todos os tempos e, nesta área, também somos pioneiros.
Para compreender o texto abaixo, em essência, vale contemplar outras escritas e expressões:
- Kemet = “terra preta”, nome original do Egito, derivado do grego Aígyptos, forma como os europeus adotaram para identificar o país
- keméticos = egípcios
- Era Comum = a datação cristã – do a.C., d.C. – é uma limitação do Ocidente
- Deusa Maat = a ordem, a justiça, a ética, a retidão
- Per Ankh = Casa da Vida
Per Ankh eram as “casas da vida” no antigo Kemet – “terra preta”, nome original do Egito -, instituição dedicada ao ensino no seu nível mais avançado, funcionando também como biblioteca, arquivo e oficina de cópias de manuscritos.
Naquele tempo, 3.100 anos antes da Era Comum, havia um modelo de mundo associado à deusa Maat, sinônimo de ordem, justiça, ética, retidão.
As pessoas compreendiam que precisavam estar em equilíbrio constante, o que implicava um modo de ser, de estar na vida, de comportar-se. Até porque nos reconhecíamos, pessoas negras, como protagonistas nas Ciências, na Tecnologia, na Medicina, na Arquitetura …
Entre os ensinamentos ministrados encontravam-se, ainda, Astronomia, Matemática, Doutrina Religiosa e Línguas Estrangeiras. Conhecimentos que tornaram-se importantes durante o Império Novo devido ao cosmopolitismo da era, marcada pelo domínio do Egito sobre uma vasta área que ia da Núbia até ao rio Eufrates.
Infância
As crianças chegavam nas Per Ankh bem pequenas e ficavam até os sete anos de idade em silêncio. Não que fossem silenciadas, mas por quererem desfrutar daquele espaço de saber não hierárquico.
Na opinião da doutora em Filosofia Katiúscia Ribeiro, isso acontecia devido à conexão com a ancestralidade e a espiritualidade, uma vez que as crianças haviam acabado de chegar. Quer dizer, elas estavam retroalimentadas e, por consequência, mais conectadas com o mundo ancestral.
Após 7 anos, as crianças ficavam mais 35 anos aprendendo todos os ofícios e, com 42 anos de ensinamentos, retornavam para suas comunidades, conhecendo profundamente o código de leis na vida do Egito, as 42 leis de Maat – no final deste artigo.
Detalhes
Toda cidade mediana tinha uma Per Ankh e os keméticos mantinham um alinhamento natural com a ancestralidade. Em outras palavras, a harmonia da vida era um valor supremo e incluía o respeito a todos os seres viventes (não só os humanos).
Havia, ainda, alguns detalhes bastante simbólicos nessas casas. A localização geográfica das Per Ankh, por exemplo, era determinada pelo sol para que todos se sentissem iluminados dentro delas.
Os escribas também eram escolhidos por sua iluminação. E trabalhando nas Casas da Vida tomavam títulos como “Servidores de Rá” ou “Seguidores de Rá” – Rá é o deus solar egípcio, aquele que dá a vida. Assim, o título estava associado à ideia de que os escribas seriam, eles próprios, transmissores de vida.
Didática
Nas Per Ankh, oferecia-se a síntese de todo aprendizado. E isso só era possível a partir do amor à vida como princípio – uma ética individual que pressupõe uma ética coletiva, que leva ao respeito mútuo.
Entre as estratégias de transmissão de conhecimento, a contação de histórias do território, o conhecer das coisas… Entre os ensinamentos, a lapidação da palavra, a responsabilidade pelo que se diz.
“A palavra encaminha para a vida. Cada um fala por si e também como presença da ancestralidade. Nós só passamos à frente o saber da ancestralidade.”
O Ocidente destrói a relação com a palavra, que é considerada sagrada como o sopro ancestral, o fluxo vibracional, o axé, a força vital, o nosso caminho para o alinhamento cósmico.
O existir
Para os keméticos, nós somos co-criações – seres materiais e espirituais, matéria e espírito em diálogo permanente.
“Cada um de nós é a própria experiência espiritual”, ensina a professora Katiúscia. “Filosofia africana é entender que somos seres espirituais, regentes do nosso caminho. A ideia do corpo-território é, também, porque o corpo é a morada da espiritualidade”.
E ela vai além em sua análise. Entendendo que “a nossa eterna busca por não nos sentirmos existindo tem a ver com essa separação imposta pelo Ocidente”, com a ideia do pensar e do sentir como realidades apartadas.
Mas, a nosso favor, ainda pelo olhar da acadêmica, está o fato de a colonização não ter triunfado por completo:
“Ela colonizou a nossa racionalidade, mas não o nosso coração. E nós pensamos com o coração, a morada do nosso espírito, que fala com a gente o tempo todo. Por isso, também, mesmo com tanta violência, a gente ressurge!”
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Os 42 princípios de Maat
- Honrar a virtude
- Beneficiar com gratidão
- Ser tranquilo
- Respeitar a propriedade alheia
- Afirmar que toda a vida é sagrada
- Dar ofertas que são verdadeiras
- Basear-se na verdade
- Considerar todos os altares com respeito
- Falar com sinceridade
- Consumir apenas o meu quinhão
- Oferecer palavras de boas intenções
- Relacionar-se em paz
- Honrar animais com reverência
- Ser confiável
- Importar-se com a terra
- Manter minha própria opinião
- Falar positivamente dos outros
- Permanecer em equilíbrio com as minhas emoções
- Ser confiante nas minhas relações
- Manter a pureza em alta estima
- Espalhar alegria
- Fazer o melhor que puder
- Comunicar-me com compaixão
- Ouvir as opiniões opostas
- Criar em harmonia
- Provocar o riso
- Estar aberto para o amor em várias formas
- Perdoar
- Ser gentil
- Agir respeitosamente com os outros
- Ser receptivo
- Seguir minha orientação interior
- Conversar com consciência
- Fazer o bem
- Abençoar
- Manter puras as águas
- Falar com boas intenções
- Louvar a Deus e a Deusa
- Ser humilde
- Prosperar com integridade
- Progredir através das minhas próprias habilidades
- Abraçar a Todos
Fontes: YouTube: Educação e Filosofia Kemética, Gênios da Humanidade, de Carlos Eduardo Dias Machado, livro sobre sistemas de ensino africanos, em PDF na Internet ; livro O Legado Roubado: A Filosofia Grega é a Filosofia Egípcia Roubada, de George James, Wikipédia, Ciência Hoje, Segredos do Mundo, Bom dia Europa
Outubro 2023
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