O escritor e educador estadunidense Booker Taliaferro Washington é o primeiro negro a receber um convite e aceitar jantar na Casa Branca, residência oficial do então presidente Theodore Roosevelt, e primeiro negro a dividir uma tribuna com brancos em um evento nacional nos Estados Unidos.
Estes dois feitos pioneiros deram a Booker a condição de “o negro mais famoso do mundo“. Na mesma época, o escritor havia publicado sua autobiografia “Up from Slavery” (Superando a Escravidão). Tudo aconteceu entre 1895 e 1901.
O aparentemente inofensivo convite enfureceu os supremacistas brancos, para os quais um homem negro sentar-se na mesma mesa com um branco, especialmente o presidente dos Estados Unidos, juntamente com a primeira dama e família, era um péssimo precedente de igualdade racial. Além disso, representava o perigo da miscigenação, devido a sua proximidade com mulheres brancas.
A comoção deflagrada por esse jantar causou um grande revés nas tentativas de Booker de administrar uma coexistência pacífica com os supremacistas brancos, que reagiam violentamente ao menor sinal de oposição à segregação racial.
Porém, o mais duro golpe no prestígio de Booker viria dois anos depois, quando o historiador e ativista W.E.B. Du Bois censurou publicamente a maneira com que Washington abordava as relações raciais e a educação do negro, no ensaio intitulado “Sobre o Sr. Booker T. Washington e outros“, editado em sua obra mais conhecida, “As Almas da Gente Negra”, lançada na cidade de Chicago em 1903.
Sem apoio
Booker tornou-se o principal conselheiro para assuntos referentes aos negros da Casa Branca, mas suas ideias não contavam com a unanimidade nem no meio negro nem no meio branco.
Uma das acusações mais graves contra Booker era seu suposto “comodismo”, sua estratégia de não violência. O educador sempre quis ser ouvido por uma plateia de antigos confederados proprietários de escravizados. Seu sonho se concretizou quando proferiu um famoso discurso na Exposição de Atlanta em 1895 – primeira vez que um negro dividiu a mesma tribuna com brancos em um evento nacional nos EUA.
O impacto de sua fala e o reconhecimento que recebeu de figuras relevantes da época, como o presidente dos Estados Unidos, Grover Cleveland, estão registrados em sua autobiografia. Lá, também, as maiores queixas dos negros que queriam que Booker reivindicasse mais direitos para seu povo.
Para o educador, inculcar valores da responsabilidade individual, da dignidade do trabalho e da necessidade de manter um caráter moral e espiritual firme eram os melhores meios de ex-escravizados conquistarem um lugar justo nos Estados Unidos da América:
“É justo que gozemos de todos os privilégios que a lei concede, porém é infinitamente mais importante que estejamos preparados para o exercício deles. Na atualidade deve preocupar mais o direito de ganhar cem soldos numa fábrica do que despendê-los numa sala de opera” – declarou.
“….para as coisas propriamente mundanas, brancos e pretos, podemos estar tão estanques como os dedos de cada mão e, entretanto, não formarmos senão um todo no que é essencial ao progresso comum”.
E a melhor forma de assumir esse lugar – afirmou – era incentivar os negócios, a indústria e o empreendedorismo, tudo a partir da educação. Portanto, ele trabalhou incessantemente para ajudar aos negros a se tornarem mais prósperos ao ajudá-los a construir um fundamento econômico, como a Liga Nacional Negra de Comércio, em 1900.
Passado sob chibata
Nascido escravizado no Condado de Franklin, Virgínia, em 5 de abril de 1856, Booker foi levado para o oeste do estado da Virgínia por sua mãe logo após a emancipação.
Na infância, ele só trabalhou – primeiro em uma fábrica de sal e, depois, em minas de carvão. Mas, determinado a estudar, entrou para a escola noturna, no Instituto Normal e de Agricultura de Hampton aos 16 anos, custeando os próprios estudos, trabalhando de dia como zelador.
E, uma vez graduado, passou a lecionar para crianças e adultos até tornar-se, em maio de 1881, diretor do recém fundado Instituto Tuskegee, no Alabama, onde ensinou aos negros as habilidades técnicas que acreditava necessárias na nova condição de cidadãos, até sua morte, em 14 de novembro de 1915.
Seu trabalho mais conhecido, “Up from Slavery”, foi publicado em vários números do Diário da Bahia em 1902, mas a autobiografia do educador negro só foi lançada no Brasil em 1940, com o título Memórias de um Negro, traduzida por Graciliano Ramos.
<
Pingback: Marcus Garvey, o pan-africanista