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Antonieta de Barros, pioneira na política e na luta por direitos para as mulheres

Jornalista, professora e representante do povo, Antonieta de Barros tem uma história de derrubada de muros. Mãe de três filhos, travou incansáveis batalhas contra o analfabetismo. Ela é a primeira mulher negra a ser eleita para um mandato popular no país e a primeira a ocupar a presidência em um assembleia legislativa. Era o ano de 1934!

O que este artigo responde: Quando Antonieta de Barros é alfabetizada? Quem ensina Antonieta de Barros a ler e a escrever? Como Antonieta de Barros luta por educação? Quando Antonieta de Barros foi eleita? Quando e onde nasceu Antonieta de Barros? Quem apresentou o projeto de lei que estabeleceu o 15 de outubro como Dia do Professor? Quantas deputadas estaduais negras Santa Catarina já elegeu?

Antonieta de Barros, a primeira mulher negra eleita no país (Imagem: UFMG | Reprodução
Antonieta de Barros, a primeira mulher negra eleita no país
(Imagem: UFMG | Reprodução

Nasce em 11 de julho de 1901, em Florianópolis (SC), na então cidadea Desterro. Em sua certidão de batismo, apenas o nome da mãe, Catarina Waltrich, escravizada liberta. Desde sempre, ela acredita no poder revolucionário e libertador da educação.

E para fazer cumprir seu direito à educação, Antonieta rompe barreiras.

Preta, sustenta seus três filhos como lavadeira. E só consegue alfabetizar-se na vida adulta – ela mantém uma pequena pensão para estudantes que acabam por ensinar-lhe o bê-á-bá, ponto de partida para seu mergulho, por conta própria, nos livros.

Mulher das letras

Como educadora, aos 21 anos, funda, logo após ter-se diplomado no magistério, o Curso Particular Antonieta de Barros, em sua casa, com foco no combate ao analfabetismo de adultos carentes, instituição que dirige até a sua morte, em 28 de março de 1952 e que foi fechado em 1964.

Sua fama profissional, entretanto, a leva a lecionar também para a elite de Florianópolis, no Colégio Coração de Jesus, na Escola Normal Catarinense e no Colégio Dias Velho, do qual é diretora no período de 1937 a 1945. Antonieta leciona Português e Literatura.

Vale pensar, anos 1920… Era inusitado mulheres trabalharem, terem destaque. Ainda mais uma negra! Entretanto, indo além da sala da aula, Antonieta torna-se jornalista, cria e dirige em Florianópolis o jornal A Semana, mantido até 1927. Três anos depois, passa a dirigir o periódico Vida Ilhoa, na mesma cidade.

Sua carreira jornalística inclui o trabalho para oito veículos e mais de mil artigos publicados sobre educação, condição feminina, política

Abaixo a virgindade no pensar!

Na década de 1930, mantém intercâmbio coma Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, como revela a correspondência entre ela e Bertha Lutz, hoje preservada no Arquivo Nacional – ela defende a emancipação feminina através, principalmente, da educação.

Antonieta de Barros (foto: Museu da Escola Catarinense/Saleta Antonieta de Barros)
Antonieta de Barros (foto: Museu da Escola Catarinense/Saleta Antonieta de Barros)

Como representante do povo, jornalista, professora, Antonieta sempre se posiciona não dando ouvidos aos detentores do poder, que afirmavam que ‘mulheres nasceram para servir, ser mãe e rainha do lar’, ‘não deveriam opinar’…

Mas nada fez eco em sua mente e em seu coração, apesar das calúnias. Entre seus argumentos, a defesa da tese de que as mulheres não deveriam ser “virgens de ideias”.

A parlamentar

Na primeira eleição em que as mulheres brasileiras puderam votar e ser votadas, Antonieta filia-se ao Partido Liberal Catarinense e elege-se deputada estadual, de 1934 a 1937. Ela é a primeira mulher negra a assumir um mandato popular no Brasil. Mas seu mandato é interrompido pelo golpe de Getúlio Vargas, com a criação do Estado Novo, que leva todos os partidos políticos para a clandestinidade.

Antes disso, parlamentar escreve dois capítulos da Constituição catarinense sobre Educação, Cultura e Funcionalismo e assina outro pioneirismo: em 19 de julho de 1937, ela se transforma na primeira mulher – e negra – a presidir uma Assembleia Legislativa no Brasil.

Registro da Antonieta de Barros. (Imagem: Museu da Escola Catarinense)
Registro da Antonieta de Barros. (Imagem: Museu da Escola Catarinense)

Com a queda do Estado Novo, Antonieta concorre a deputada estadual nas eleições de 1945, obtém a primeira suplência pela legenda do Partido Social Democrático (PSD) – assume a vaga na Assembleia Legislativa em 1947 e cumpre seu mandato até 1951.

 Antonieta de Barros é a única parlamentar negra da história do Legislativo de Santa Catarina – o primeiro homem negro a assumir o cargo de deputado estadual foi Sandro Silva, pelo PPS, em 2012.

Dia do Professor

Em seu segundo mandato, Antonieta de Barros apresenta a proposta da lei que passou a comemorar, a partir de 1948, o Dia do Professor em Santa Catarina, em 15 de outubro, transformando a data em feriado escolar – Lei Estadual nº 145, de 12 de outubro de 1948. Na justificativa, a deputada afirma:

 Não há quem não reconheça, à luz da civilização, o inestimável serviço do professor“.

A lei, homologada pelo então governador José Boabaid, é publicada 15 anos antes do decreto que oficializa a data no Brasil inteiro – este, assinado pelo presidente João Goulart.

A data de 15 de outubro de 1827 é uma referência ao decreto do imperador D. Pedro I que instituiu o Ensino Elementar no Brasil.

Usando o pseudônimo literário de Maria da Ilha, Antonieta de Barros escreveu o livro Farrapos de Ideias.

Legado

Hoje, em Santa Catarina, Antonieta de Barros empresta seu nome a um programa de formação de jovens aprendizes de comunidades carentes; a um auditório do Palácio Barriga Verde, sede do parlamento estadual, e a Associação de Mulheres Negras; entre outros espaços públicos.

A Secretaria da Igualdade Social do Governo Federal, em 2016, criou o Prêmio Antonieta de Barros para Jovens Comunicadores Negros e Negras. E uma medalha com seu nome é concedida, todos os anos, a mulheres com relevantes serviços em defesa dos diretos da mulher catarinense.

Na rua Tenente Silveira, em 2019, um mural de 32 metros de altura reproduz a sua imagem.

Acesse nossas sugestões de atividades didáticas na página PN Educação.

No Museu da Escola Catarinense, se encontra reconstituída a sala da diretoria ocupada por Antonieta no antigo Colégio Estadual Dias Velho, que também ganhou seu nome.

E a pioneira segue inspirando: virou o livro infantil Antonieta, de Eliane Debus; enredo de 2020 do Grêmio Recreativo e Escola de Samba Consulado, Lute como Antonieta; documentário e episódio em séries.

Existe, ainda, um texto sobre ela no livro Literatura e Afrodescendência no Brasil: Antologia Crítica.

Heroína

E se passaram 89 anos para que Santa Catarina volta-se a ter uma deputada estadual negra… Aconteceu em 19 de outubro de 2023, quando Vanessa da Rosa, primeira suplente do PT, assumiu o cargo – por pouco mais de um mês, até 20 de novembro -, durante licença do deputado Padre Pedro, do mesmo partido.

Na época, ao tomar posse, a deputada Vanessa, docente há 33 anos e ex-secretária de Educação de Joinville, citou como “inspirador” o legado de Antonieta:

“Será um mandato breve, mas gigante, com um simbolismo histórico para as mulheres catarinenses, em especial, para as mulheres negras”.

Em 5 de janeiro de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao assumir seu terceiro mandato, sancionou a lei que inscreve o nome de Antonieta de Barros, a primeira deputada negra do Brasil, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, que se encontra no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília. A sanção está no Diário Oficial da União do mesmo dia.


Fontes: G1NSC, Dicionário Mulheres do Brasil de 1500 até à atualidade, WikipédiaEl Pais, G1-Vanessa

Atualizado em 17/6/2024

3 comentários em “Antonieta de Barros, pioneira na política e na luta por direitos para as mulheres”

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