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Al-Qarawiyyin, a universidade mais antiga do mundo

O continente africano é o berço da humanidade e do conhecimento moderno, o que inclui, além de uma universidade que atravessou séculos, uma biblioteca ainda em atividade.

Marrocos
Al-Qarawiyyin, 2015
Al-Qarawiyyin, 2015. (Foto: Abdel Hassouni).

A Universidade de Al-Qarawiyyin – ou  Karaouine -, na cidade de Fez, Marrocos, África, é “a instituição educacional mais antiga existente e em contínua operação no mundo” e data de 859 depois de Cristo.

A informação é da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura – Unesco e está registrada no Guinness Book of World Records, o livro dos recordes. 

A muçulmana Fatima al-fihri, nascida na Tunísia no ano 800, é a fundadora. Filha de Mohammed Bnou Abdullah al-Fihri, um comerciante muito rico, investiu praticamente toda a sua herança na criação da instituição.

De família xiita – religião que reivindica o direito de o genro do profeta Maomé Ali, e seus descendentes, de liderar os mulçumanos  -, Fátima havia emigrado, junto com a família, para a cidade de Fez. Com a morte do pai, dedicou-se à construção de uma mesquita – templo consagrado de culto a Maomé –  para a sua comunidade e nela instalou-se a primeira madraça – escola muçulmana ou casa de estudos islâmicosde que se tem notícia.

Da África à Europa

Várias fontes descrevem a madraça medieval como uma universidade. Alguns acadêmicos, inclusive, acreditam que elas influenciaram as universidades medievais europeias. Mas há os que questionam essa influência do mundo islâmico sobre a Europa cristã e destacam as diferenças de estrutura, metodologias, procedimentos, currículos e estatuto legal.

O fato é que só depois de 229 anos de construída Universidade de Al-Qarawiyyin é que surgiu a primeira universidade na Europa, em 1088, na cidade de  Bolonha, Itália.

Espiritual e educativo

No centro histórico da cidade de Fez está também a mais antiga biblioteca do mundo ainda em atividade. Ela  integra o complexo da Universidade de Al-Qarawiyyin.

Fundada no século IX, possui mais de quatro mil livros raros e manuscritos árabes, dentre os quais um Alcorão do mesmo século  e um manuscrito do filósofo Averroes (1126-1198), do Marrocos.

No começo,  a universidade era um dos mais importantes centros espirituais e educativos da cultura islâmica. Mas, segundo estudiosos,  passou a concentrar estudos de várias disciplinas, muito contribuindo nos avanços nas áreas da matemática e da filosofia, especialmente durante os séculos da Idade Média.

Tempo de sombras

A Universidade de Al-Qarawiyyin manteve-se em atividade durante a  “idade das trevas”, mais conhecida nas aulas de história como “Idade Média”, dominada culturalmente pela religião, criando uma sombra sobre as artes e as ciências, entre os séculos V e XV.

medina de Fez
Al-Qarawiyyin, medina de Fez. (Foto: Dea/S. Amantini).

A expressão “idade das trevas” foi criada pelos pensadores do século XVIII, conhecidos como iluministas, que se colocaram como herdeiros do pensamento e da ciência, fazendo renascer a Cultura da Antiguidade, encerrada com a conquista de Roma, no ano de 476, e retomada em 1453, com a conquista da cidade de Constantinopla pelos turcos-otomanos.

Ao todo são 1.162 anos – de  859 a 2021 –  de atividades ininterruptas na Universidade de Al-Qarawiyyin, acompanhados pelo reconhecimento como importantíssimo centro de conhecimento

Atualmente, a universidade oferece cursos de Estudos Islâmicos, Ciências Jurídicas e Jurisprudência Comparativa, entre outros.

Disputa de pioneirismo

A Universidade de Sankore de Timbuktu, no Mali, país da África Ocidental, a sudoeste da Argélia, também disputa o pioneirismo acadêmico genuinamente africano no planeta.

Universidade de Sancoré
Exterior dos muros da Universidade de Sancoré, 1972. (Foto: Fred van der Kraaij).

Sua mesquita foi fundada em 989  pelo juiz do Tombuctu, Alcaide Acibe ibne Maomé ibne Omar. E, tempos depois, pelo que se sabe, uma mulher muito rica  financiou a Universidade e ajudou a torná-la o principal centro de educação daquele país.

Ponto de passagem de uma ampla rede de comércio que se estendia desde o Médio Oriente até o norte da África, como um centro de peregrinação religiosa, foi transformada em madraça no final do século I, com acervo com mais de  400 mil  livros e manuscritos em sua biblioteca.

Capaz de abrigar 25 mil estudantes, tinha seus cursos divididos em quatro estágios, sem currículo pré-determinado. Apesar de não serem aceitas argumentações que ferissem os preceitos do Alcorão, as aulas atraíam estudantes do médio oriente e  da Europa, para as  áreas da medicina, astronomia, matemática, física, química, filosofia, linguística, geografia, história, arte e estudo do alcorão.

Desde 1988, a universidade é reconhecida  pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade, mas  inúmeros mausoléus de seus santos estão destruídos e muitas das escrituras de valor inestimável foram queimadas pelos islamitas.

Mesquita ou universidade?

A Universidade Ez-Zitouna, Universidade Zitouna ou al-Zaytuna  também disputa o pioneirismo acadêmico africano. A diferença é que esta universidade da Tunísia – país no norte da África -, funcionou por mais de mil anos como mesquita. 

Mesquita Zeitouna
Postal de 1890 da Mesquita Zitouna. (Coleção particular de Bertrand Bouret, 1880).

Segundo o historiador Hassan Hosni Abdelwaheb, a Ez-Zitouna é o estabelecimento de ensino mais antigo do mundo árabe. Isso porque a madraça que lhe deu origem é de 737.

Da madraça, cinco anos depois,  foi fundada a mesquita, em 742, um lugar de ciência onde o ensino ministrado era simultaneamente religioso, literário e científico.

Inspire-se com a história de Henrique Dias, o primeiro afro-brasileiro letrado da história do Brasil

Fontes de pesquisa: Canal Mwana Afrika, Canal reVisão, Site DW, Jornal Diáspora Negra, Viva Mundo , Wikipedia, Uol

escrito em junho de 2021

7 comentários em “Al-Qarawiyyin, a universidade mais antiga do mundo”

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