Figura histórica no Rio Grande do Sul, líder trabalhista, símbolo de superação. Filho de pai negro e mãe indígena, quebra barreiras com suas conquistas políticas políticas.
O que este artigo responde: Quem é Alceu Collares? Qual o pioneirismo de Alceu Collares? Quais cargos Alceu Collares ocupou na política? Qual é a origem de Alceu Collares? Quais foram as principais realizações de Alceu Collares como governador do Rio Grande do Sul? Quais foram as principais realizações de Alceu Collares como prefeito de Porto Alegre? Quais os slogans de campanha de Alceu Collares ?
“Eu venho dos rincões da pobreza, filho de pai negro e mãe índia”
Conta emocionado o líder trabalhista Alceu de Deus Collares, em documentário do projeto O Voto e o Pão, sobre a sua história. Ao nascer, ele não imaginava que teria uma das carreiras políticas mais bem sucedidas do Rio Grande do Sul.
São dois mandatos como vereador de Porto Alegre; cinco como deputado federal, e o pioneirismo de ser o primeiro negro a governar a prefeitura de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, de 1986-1988.
Por engano histórico, é reconhecido também como o primeiro governador negro do Rio Grande do Sul, mas este pioneirismo cabe ao jornalista e sindicalista Carlos da Silva Santos que, eleito presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, assume por duas vezes a cadeira de governador do Estado, em 1967.
Alceu Collares é o primeiro governador eleito para o cargo de governador e cumpre seu mandado entre 1991 e 1994.
Sua trajetória política começa em 1956, quando se muda para Porto Alegre para ingressar na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e se filiar ao PTB – Partido Trabalhista Brasileiro. Na “bagagem”, a participação no movimento sindical na União Brasileira dos Servidores Postais Telegráficos – ele era telegrafista concursado.
Na época, interessa-se mais ativamente pela política e passa a acompanhar os discursos de Leonel Brizola, governador gaúcho que, no futuro, se torna seu aliado político e colega de partido.
“Eu estudava de manhã na UFRGS, era telegrafista das 12h às 19h e, à noite, lecionava Língua Portuguesa na Associação Cristã de Moços para complementar o salário”, relembrou, certa vez.
Nas urnas
A primeira eleição vitoriosa acontece em 1964 – uma cadeira da Câmara Municipal de Porto Alegre. Com dois anos de mandato começa a vigorar o bipartidarismo na ditadura militar (1964-1985) e ele tem de mudar de partido, indo para o MDB – Movimento Democrático Brasileiro, única oposição na época. Reelege-se em 1968.
Em 1970, 1974 e 18978, vence três eleições consecutivas para a Câmara dos Deputados pelo MDB. Mais tarde, depois da redemocratização, se reelege mais duas vezes, pelo PDT, em 1998 e 2002.
Executivo
Ocupar as cadeiras de prefeito e governador exige mais energia, é mais desafiador. Tudo acontece, principalmente, nos anos 1980. A primeira tentativa é em 1982 – candidata-se a governador e consegue 800 mil votos. Mas não se abate. Em 1985, tenta o Poder Executivo de Porto Alegre e conquista sua primeira eleição majoritária e a marca de pioneiro. Governa a Capital do Rio Grande do Sul até 1988.
Empossado em 1º de janeiro de 1986, Collares , o primeiro negro a ser eleito prefeito da capital gaúcha, assume mandato com duração de apenas três anos e não os convencionais quatro anos, de modo a ajustar o calendário eleitoral. Seu gabinete incluía Dilma Roussef, como secretária da Fazenda, primeira mulher a ocupar a Presidência da República no Brasil.
Sua gestão adota o lema O Povo no Governo e, para aumentar a participação popular nas decisões do poder público, especialmente àquelas relativas ao orçamento, cria os Conselhos Populares – para elaboração de políticas municipais, formados a partir de entidades representativas de todos os segmentos sociais da região. Na educação, implementa os Centros Integrados de Educação Municipal, com educação integral – uma versão gaúcha dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), implantados quando do governo de Leonel no Rio de Janeiro.
“O Negrão”
Dois anos mais tarde, candidata-se a governador. Seus opositores o acusam de ligações com a ditadura militar. E ele, em sua propaganda eleitoral, busca vincular sua imagem a de homem do povo e ressalta suas origens humildes, intitulando-se de “O Negrão”. Entre seus slogans de campanha: “de jornaleiro a governador”, “a força que vem do povo” e “neste, o povo confia”. O trabalhismo e a figura de Leonel Brizola também são destacadas. E dá certo.
Em 3 de outubro de 1990, é eleito com 61,17% dos votos válidos no segundo turno e chega ao auge da sua carreira, assumindo o cargo de governador do Estado do Rio Grande do Sul.
O país enfrentava uma grave crise econômico-financeira e, na primeira semana de governo, suspende o pagamento de dívidas do estado, durante dois meses, e dá prioridade ao pagamento do funcionalismo, e, também, extingue a Secretária de Justiça e Segurança, passando a despachar diretamente com os chefes da Polícia Civil e da Brigada Militar.
Promete uma revolução na educação e faz desta área a mais conflituosa e polêmica de seu governo – nomeia sua mulher secretária da Educação e inicia a implantação de 94 CIEPs, centros de ensino em tempo integral, tal como havia feito na sua passagem pela prefeitura de Porto Alegre.
O crescimento econômico registrado durante o governo Collares merece destaque como o maior desde 1982. No início de seu mandato, o Produto Interno Bruto – PIB gaúcho apresentava índices negativos – queda de 2,2% em 1991. A partir de 1992, tem início a recuperação que se prolonga pelo restante do mandato – cresceu 8,3% em 1992, 10,8% em 1993 e 5,2% em 1994.
Em família
Alceu de Deus Collares nasce em Bagé, no Rio Grande do Sul, no dia 7 de setembro de 1927 em uma família muito pobre. Filho de pais analfabetos, foi alfabetizado na infância, mas deixa de frequentar a escola para vender frutas e assim ajudar no sustento da família.
Sua vida amorosa inclui dois casamentos – Antonia e Neuza – e quatro filhos: Antonio, Júlio Cesar, Adriana e Racine. Júlio César falece, aos 16 anos de idade, vítima de afogamento. Racine, fruto de relacionamento do político na adolescência, não tem a paternidade reconhecida por ele, apesar do exame de DNA.
Morre em 24 de dezembro de 2024, em Porto Alegre.
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Fontes: Sul21, Jornal do Comércio, Wikipédia
Escrito em 2 de outubro de 2020. Atualizado em 26 de janeiro de 2025
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Alceu de Deus Collares e Carlos Santos, são nomes a serem sempre lembrados na história política de nosso Estado.
Carlos Santos, Deputado Estadual, Presidente da Assembleia Legislativa e Primeiro homem negro a assumir o Governo do Estado do Rio Grande do Sul em 1967.
Alceu de Deus Collares, Primeiro Prefeito de Porto Alegre e Governador do Estado do Rio Grande do Sul. eleito pelo voto popular.
Tenho muito orgulho em poder ter aprendido muito com esses homens negros.
José Antonio dos Santos da Silva.
Bacharel em Direito.
Eldorado do Sul/RS.