De São Paulo para o mundo, ou melhor, para Paris, na França. Ele carregou a bandeira na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Verão de 1924. Sempre correndo. Recordista brasileiro dos 10 mil metros.
Primeiros Negros
- Primeiro atleta e negro a representar o Brasil nas Olimpíadas;
- Primeiro negro a disputar no atletismo.
Alfredo Gomes carregou a bandeira do país na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Verão de 1924, no estádio de Colombes, nos arredores de Paris, França. Na imagem oficial, entretanto, ele aparece no canto esquerdo da delegação.
Mesmo sendo favorito nos 5.000 m, Alfredo Gomes não conquista medalha – a prova é disputada em um terreno muito acidentado e sob condições de extremo calor, por volta dos 40° C, de acordo com relatos da época, tendo sido concluída por apenas 15 dos 38 participantes.
Na época, Gomes era o recordista brasileiro dos 10 mil metros, com 33’21”.
Uma revolução no caminho
A derrota do Brasil nas Olimpíadas da França, contudo, não coloca fim à viagem internacional – a delegação brasileira fica presa na Europa por seis meses, devido à revolução tenentista de 1924.
Nesse período, Alfredo Gomes participa de provas de atletismo, aprende a falar algumas línguas estrangeiras e conquista medalhas que acabam fundidas para virar o par de alianças do seu casamento.
Em solo nacional
Na volta ao Brasil, o corredor segue com seus treinamentos. A vitória, que o coloca como o primeiro ganhador da primeira Corrida Internacional de São Silvestre, em São Paulo, é conquistada com o tempo de 23’19″04, na passagem do ano de 1925 para 1926.
Os 49 participantes da São Silvestre saíram do Parque Trianon, na avenida Paulista, e chegaram 8.800 m depois na avenida Tiradentes, em frente ao bar da dona Sunta, da Atlética São Paulo.
“Era o único lugar que tinha luz ali.”
Justifica Bruno Di Tolla, em declarações gravadas em julho de 1982. Bruno foi companheiro de Alfredo Gomes e conta que
“boa parte do percurso foi feita no escuro”
O jornalista e escritor Henrique Nicolini, que durante anos atuou na organização da corrida, conta que Alfredo Gomes frequentou a São Silvestre até os anos 1960 e, de modo entusiasmado, colaborou de diversas formas, até mesmo na arbitragem e conquistou o segundo lugar por três vezes.
Apesar do racismo
Alfredo Gomes nasce em 16 de janeiro de 1899, no vale do Paraíba. Jovem, se muda para a zona leste da capital paulista. Nas horas de folga, se diverte jogando futebol e correndo.
Em 1919, às margens da represa de Guarapiranga, participa de uma corrida e ganha.
O prêmio?
“Uma caixa de charuto, para atletas que precisam tanto do fôlego”
Brinca o neto e biógrafo do corredor, Antônio Carlos de Paula.
Mas é a partir dessa vitória que o corredor passa a fazer parte do grupo de atletas do Clube Esperia, como lembra seu neto, algo bem mais difícil naquela época em que o racismo não era considerado crime:
“O clube tinha sido criado por um grupo de imigrantes italianos…”
Nas pistas do clube, Alfredo treinava durante à noite, após o trabalho. Sem técnico. E coleciona vitórias nas provas que disputa.
E o racismo oficial segue, lado a lado, com a sua jornada vitoriosa – neste tempo, o presidente da República do Brasil, Epitácio Pessoa (1919-1922), veta a participação de jogadores negros da seleção brasileira que vai à Copa América.
Quando chegam os Jogos Olímpicos de 1924, apesar de ter recebido o convite, outro presidente da República do Brasil, Artur Bernardes, decide não custear a viagem e a estadia dos atletas.
Depois de meses de briga com a Confederação Brasileira de Desportos, a Federação Paulista de Atletismo, com apoio do Jornal O Estado de São Paulo, custeia o envio de 12 atletas, entre eles, Alfredo Gomes, que vence todas as provas eliminatórias realizadas.
Amador!!!
Quando Alfredo Gomes opta pelas corridas, o futebol perde um atacante veloz. Aliás, foi nos gramados que o campeão da São Silvestre descobriu sozinho sua vocação para o atletismo.
Conhecido por sua técnica e pelo comportamento humilde, Gomes trabalhava como eletricista na Companhia Telefônica Brasileira. Ele era o responsável pela fiscalização das linhas que atravessavam a Serra do Mar.
Vencendo a pé as matas e os terrenos difíceis daquela região para realizar seu trabalho, aproveitava para cuidar de seu condicionamento físico.
Mas nem todos os seus feitos conseguiram alçá-lo ao esporte profissional.
Alfredo Gomes cumpre sua jornada inteira no esporte amador, no contra-turno de seus 51 anos de trabalho na companhia telefônica.
Vive 70 anos e morre em 17 de março de 1963.
Fontes: Jornal Diário de São Paulo (15/12/2001), Wikipedia, Notícias Uol
Escrito em 18 de maio de 2010