O autor do primeiro gol no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, em 1950, sonhava comandar a seleção canarinho, à qual deu dois campeonatos, mas conquistou seu pioneirismo à frente da seleção peruana de futebol.
Mister Football, Príncipe Etíope, Bola de Ouro da FIFA, 25° maior jogador do século XX no mundo, 7° maior do Brasil…
Nada conseguiu fazer de Waldir Pereira, um técnico da seleção canarinho… nem o bicampeonato nas seleções brasileiras de futebol de 1958 e 1962…
Craque, Waldir Pereira era considerado um dos melhores meio-campistas da história do futebol, também por sua maestria com bolas paradas, a ponto de ter uma de suas jogadas mais brilhantes batizada de “chute folha-seca”.
É um estilo de cobrar falta que dá à bola um efeito inesperado, semelhante ao de uma folha caindo. A técnica consiste em bater na bola, com o lado externo do pé, de modo a fazê-la girar sobre si mesma e modificar sua trajetória.
O lance ficou famoso justamente numa cobrança de falta, nas eliminatórias para a Copa do Mundo, contra a Seleção do Peru, em 1958, seleção que o consagrou 12 anos depois.
Pioneiro
Grande na posição, no entanto, ele foi na Seleção Peruana de Futebol, na Copa do Mundo de 1970, classificando o país para a sua primeira Copa desde a edição de 1930, chegando às quartas-de-final.
É como técnico da seleção peruana que Didi conquista o pioneirismo de ser o primeiro negro brasileiro técnico de uma seleção de futebol de Copa do Mundo!!!
Ele comanda a maior geração da seleção peruana, leva o país de volta à Copa do Mundo depois de 40 anos e rege aquela que é, até hoje, a melhor campanha peruana em um Mundial.
Quanto ao pioneirismo negro em território nacional, não aconteceu, ainda! Fato que denuncia o tamanho do racismo no país invadido por portugueses e gigante pela força de trabalho de negros e indígenas.
Canarinho Preto
A Seleção Brasileira de Futebol é a única que participou de todas as edições da Copa do Mundo. Ao longo de sua jornada teve 15 técnicos, nenhum autodeclarado negro.
Em campo, na conquista dos cinco títulos mundiais – 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002 -, dos dois vice-campeonatos – 1950 e 1998 -, dos dois terceiros lugares -1938 e 1978 -, e dos dois quartos lugares – 1974 e 2014 – muitos negros.
Entre eles, Pelé, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Rivaldo, Romário, Neymar…
Detalhe: jogadores negros só puderam atuar pela seleção a partir de 1922.
Para melhorar a qualidade técnica do futebol, os cartolas tiveram que vestir os craques negros com a amarelinha.
Destaque-se, ainda, que desde 1994, jogadores negros são maioria nas convocações da seleção brasileira – em 2010, 70% dos 23 convocados, ou seja, 16 jogadores, eram negros!
O levantamento, acima, é do site Terra. E, de acordo com o site de notícias Alma Preta, até 2018 a seleção brasileira masculina de futebol atuou 907 vezes em partidas oficiais e amistosos, mas em apenas seis jogos, sob comando de uma pessoa negra, nenhum deles durante a Copa.
Racismo
Segundo informações do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, o mais habitual a cada temporada é que não haja nenhum técnico negro, apesar da longa lista de jogadores negros históricos.
Para Marcelo Carvalho, diretor-executivo do Observatório, em entrevista ao Diário de Pernambuco, o que mais impressiona é a postura da sociedade, diante da presença de pessoas negras em campo e da ausência delas no comando das seleções:
“Causa estranheza que esse debate não exista no futebol brasileiro”.
O racismo científico pode “esclarecer” este ponto, sugere o doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP, Igor Moreira, autor da tese Racismo no futebol brasileiro: a ótica do jogador negro.
Isso porque o racismo científico é determinante na transição do jogador para fora do campo no fim da carreira.
Se “considera”, se “convencionou”, que o negro é apto apenas para jogar futebol e praticar exercícios físicos. Já “pensar” o futebol é de domínio do homem branco.
Tal lógica – ignorante pela própria natureza, uma vez que não se comprova cientificamente – esclarece porque boa parte dos técnicos negros, que tenta alcançar cargos de treinadores dos times principais de grandes clubes, são limitados ao cargo de auxiliares e treinadores das categorias de base.
O jogador
Didi defendeu a Seleção Brasileira em 68 partidas oficiais de três Copas do Mundo – 1954, 1958 e 1962 -, sendo campeão das duas últimas. Fez história como um dos maiores ídolos dos rivais cariocas Botafogo e Fluminense.
[Imagem de Didi jogando/vestido camisa por Seleção/Botafogo/Fluminense]
Marcou 237 gols – 21 deles pela Seleção Brasileira.
Meia habilidoso, começou a carreira no Americano (RJ) e depois atuou no Lençoense (SP), Madureira (RJ), Fluminense (RJ), Botafogo (RJ) e São Paulo.
No Exterior, chegou a jogar no Real Madrid, na Espanha.
Seu pioneirismo em território nacional: a autoria do primeiro gol da história do Maracanã, em junho de 1950, em um amistoso entre as seleções de São Paulo e Rio de Janeiro.
Chegada e partida
Nascido em 8 de outubro de 1929, na cidade de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, Waldir Pereira morreu aos 71 anos, no Hospital Público Pedro Ernesto, na cidade do Rio, no dia 12 de maio de 2001, dois dias após passar por cirurgias para retirada de parte do intestino e da vesícula.
Didi levava uma vida mais confortável do que muitos ex-jogadores. Morava com a mulher, Guiomar, na Ilha do Governador, na zona norte do Rio de Janeiro.
…
Didi e Pelé acreditavam que estavam livres de discriminação e que
não tinham problemas por serem pessoas negras! Assim foi declarado em entrevista à Folha de S.Paulo, em 1984. Será?!
Fontes: Globo Esporte, Wikipédia, Terceiro Tempo, Midia Ninja, Alma Preta, Alma Preta – Copa do Mundo, Terra – Negros em Copa
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