Lenda da natação brasileira, baiano, de origem humilde e sem grande estrutura para treinamento, superou inúmeros obstáculos para se tornar o primeiro nadador negro do Brasil a conquistar uma medalha olímpica. Sua história é de determinação, talento e superação.
O que este artigo responde:
Quem é Edvaldo Valério ?
Como Edvaldo Valério entrou para a história dos Jogos Olímpicos?
Por que Edvaldo Valério é conhecido como “Bala”?,
Qual foi o desempenho de Edvaldo Valério nos Jogos Olímpicos de Sidney 2000?
Quais foram os principais desafios enfrentados por Edvaldo Valério em sua carreira?
Qual é o legado de Edvaldo Valério para a natação e para o esporte brasileiro?
Edvaldo Valério fez história na natação brasileira durante os Jogos Olímpicos de Sidney 2000:
- Foi responsável por fechar o revezamento 4x100m livre e garantir a medalha de bronze ao Brasil, colocando o país no pódio olímpico do esporte;
- Foram 49s12 para a glória – o segundo melhor tempo do time brasileiro na competição – Gustavo Borges fez 48s61.
A batida na borda da piscina poderia ser apenas mais uma na vida dele. Mas foi a que mudou a sua história.
Além de transformar-se em pioneiro na história do negro no Brasil, sua reação e recuperação na piscina de Sydney fizeram com que o Brasil e o mundo entendessem o motivo de o nadador baiano ter sempre o aposto na sequência do nome: Edvaldo Valério, o Bala.
Valério contava 22 anos – ele é de 20 de abril de 1978 – e era cotado para ser o segundo nadador a cair na piscina, mas acabou deslocado para o fim da fila por sua capacidade poderosa de arrancada, o sprint. A estratégia não poderia ter sido melhor executada.
O “Bala” pulou na piscina em quinto, mas superou dois adversários e bateu em terceiro, entregando a medalha de bronze ao Brasil. Mas não foi só!
Na mesma Olimpíada, o atleta chegou em 13º lugar no 4×200 metros livre e o 23º lugar nos 50 metros livre.
Apesar do feitos, Valério sofreu para se manter no primeiro escalão da natação brasileira. Faltaram patrocinadores. Tudo ficou na celebração.
Leia o artigo Jogos Olímpicos – Piscinas: território quase proibido! sobre a dura realidade da natação, que historicamente afasta negros e negras das piscinas.
Mesmo assim ele insistiu por mais nove anos, desde a conquista olímpica:
- Em 2001, no Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos, em Fukuoka, no Japão, chegou à semifinal dos 100 metros livre, terminando em 15º lugar.
- Em 2002, nos Jogos Sul-Americanos conquistou a medalha de ouro nos 50 metros livre.
Nos últimos quatro anos da carreira, ficou longe de sua cidade natal. Passou duas temporadas em Minas Gerais e outras duas no Rio Grande do Sul. Mas a peregrinação não rendeu os efeitos esperados.
A velocidade foi diminuindo com o tempo. A idade pesou e, depois de algumas transferências, resolveu voltar à faculdade para terminar o curso de Educação Física, como contou em entrevista ao GloboEsporte.com:
“Eu ganhei a medalha em 2000 e, na metade de 2001, já tinha perdido quase todos os patrocinadores. Quando eu resolvi parar, foi justamente em função disso. Preferi abandonar a natação e dar seguimento aos meus estudos”.
Este “abandono” do esporte, porém, é relativo. Valério começou a nadar aos três anos de idade e parou aos 32. Ele passou quase 30 anos de sua vida nas piscinas – é referência na natação. E passou a compartilhar todo o seu conhecimento – incluindo, entre os contemplados, mais de 700 crianças carentes do projeto social do grupo AraKetu.
Vida de desafios
Manter-se na piscina nunca foi tarefa fácil. Aos 16 anos, sua rotina já era desgastante. Morava em Itapuã, na cidade de Salvador (BA), e acordava de madrugada para treinar na piscina do Fonte Nova – um trajeto de quase 25 quilômetros que fazia de ônibus.
Da piscina, seguia para a escola e, em seguida, voltava para casa. Pela tarde, nova viagem para mais um treinamento no Clube Olímpico de Natação.
Cansado do compromisso diário, Valério só não parou por conta da insistência de seu pai e da promessa de mudança do local de treinamento. Assim, ele passou a nadar pelo Costa Verde Tênis Clube, bem mais próximo de onde morava.
A mudança rendeu. O atleta começou a apresentar resultados mais expressivos e cativou os companheiros de clube. Sem patrocinadores, o nadador contava com as rifas e colaborações dos pais de colegas de piscina para pagar as viagens.
Valério superou desconfiança, confrontou a ciência e o preconceito para chegar ao topo do esporte e sua história de vida virou o livro Edvaldo Bala Valério – a braçada da esperança, de autoria do jornalista Raphael Carneiro, lançado em maio de 2015, e o documentário Baladágua.
Único, número 1…
Vinte anos depois da conquista do bronze olímpico, em entrevista ao Globo Esporte, em 2020, Valério segue torcendo por mais nadadores negros do Brasil nas piscinas e, pode-se dizer, segue fazendo sua parte, como registra em sua rede social.
No Instagram, ele conta que parou com as competições em 2009, resolveu voltar a nadar em 2020 “para ter uma melhor qualidade de vida” e acabou participando do Campeonato Brasileiro Master, na Arena Aquática Salvador, na Bahia.
Resultado?
Número 1 do mundo no revezamento 4x50m livre da categoria 160+ no ano de 2022.
Fora das piscinas, Edvaldo Valério Silva Filho experimentou “braçadas políticas” e, nas eleições de 2022, candidatou-se a uma vaga de deputado federal pelo Partido Republicanos. Recebeu 1.385 votos.
Fontes: Globo Esporte, Wikipedia, Globo Esporte 2, Estadão, GE – 20anos depois
Atualizado em maio de 2023
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