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Etiene Medeiros, a melhor nadadora da história do Brasil

Medalhas de ouro, prata, bronze, quebra de recordes e pioneirismos. Conquistas de uma mulher preta para o país forjado no racismo.

Etiene Medeiros
(Satiro Sodré/SSPress/CBDA)

O ponto de partida é Recife, capital de Pernambuco. Lá, em 24 de maio de 1991, nasce Etiene Pires de Medeiros, filha de Etiene Pires e  Jamison Medeiros – ela, funcionária pública; ele, autônomo. 

Aos 2 anos, por questões de saúde, a bebê Etiene já está na piscina. Aos 8, inicia a carreira de atleta e segue, vitoriosa, ativista, querendo mudar a trajetória de vida do seu povo.

Etiene Medeiros põe seu nome sob holofotes ao se tornar:

  • A primeira mulher brasileira – e negra – campeã nas piscinas em 44 anos de história do Campeonato Mundial dos Esportes Aquáticos, da Federação Internacional de Natação (FINA);
  • E a primeira mulher a conquistar a segunda medalha individual de ouro da história da natação feminina brasileira –  seu segundo ouro individual -, nos 50m livre.

No detalhe…

Primeiro, Etiene é a primeira a subir no pódio do mundo em piscina ao conquistar a medalha de prata do Mundial Júnior de 2008. 

Depois, em 2014, ela é a primeira a subir no pódio adulto ao vencer os 50m costas – medalha de ouro – e bater o recorde das Américas (27s14), no no Mundial em Piscina Curta de Doha, no Qatar.

Na sua bagagem de retorno, três medalhas:

  • Duas de ouro nos 50m costas e no revezamento 4x50m medley misto do Brasil (junto com Felipe França, Nicholas Santos e Larissa Oliveira);
  • E uma de bronze no revezamento 4x50m livre misto (com César Cielo, João de Lucca e Larissa Oliveira).

Cinco anos depois, em 2019, nos Jogos Pan-Americanos, em Lima, Peru, a nadadora conquista mais um pioneirismo: a primeira mulher a receber a segunda medalha de ouro, individual.

Etiene Medeiros, medalhas, Pan-Americano, Lima, 2019
Eitene exibe medalhas conquistadas em Lima 2019 (Divulgação/Folha de Pernambuco)

E, na volta para casa, a mala está ainda mais pesada, com cinco medalhas:

  • Uma de ouro;
  • Duas de prata no 4x100m livre e 4x100m livre misto;
  • E duas de bronze nos 100m costas e 4x100m medley.

Leia mais sobre a jornada de Etiene Medeiros no artigo Jogos Olímpicos –  Piscinas: Território quase proibido! que conta das estratégias racistas para afastar negros e negras das águas com cloro!

Sem limites

Etiene Medeiros se torna, também, a primeira brasileira – e preta – a conquistar uma medalha de ouro na natação na história dos Jogos Pan-Americanos de 2015, em Toronto, nos 100m costas, com novos recordes – do Pan e do sul-americano.

Na mesma noite, ela integra à sua coleção uma medalha de prata nos 50m livre, com quebra do recorde sul-americano, e ajuda o Brasil a ganhar duas medalhas de bronze nos revezamentos 4×100 m livre (neste, quebrando o recorde sul-americano) e 4x100m medley, junto com Larissa Oliveira, Graciele Hermann, Daynara de Paula e Jhennifer Conceição.

Etiene Medeiros, Dayanara de Paulo, Graciele Gerrmann, Larissa de Oliveira Martins, Pan-Americano, Toronto 2015
Conquista do bronze no revezamento 4x100m feminino, no Pan-Americano de Toronto 2015. Da esquerda à direita: Etiene Medeiros, Dayanara de Paulo, Larissa de Oliveira Martins e Graciele Gerrmann. (Danilo Borges/brasil2016.gov.br)

No Mundial de Esportes Aquáticos de 2015, a atleta derruba mais um paradigma e se torna a primeira brasileira a subir ao pódio de um campeonato mundial de piscina longa – prata na prova dos 50m costas, batendo o recorde das três Américas, com o tempo de 27s26.

Quebra de recordes

Pioneiríssima, Etiene se supera e supera a concorrência. Ela é recordista mundial dos 50m costas em piscina curta e recordista das Américas tanto nos 50m costas em piscina longa, como nos 50m livre em piscina curta.

Em 3 de dezembro de 2013, no revezamento 4x50m medley misto, abre a final com o tempo de 25s83 – que só não foi considerado recorde das Américas por ter sido realizado em um revezamento misto – e o Brasil ganha a prova batendo o recorde sul-americano com o tempo de 1m37s26.

Três dias depois, no revezamento 4x50m livre misto, ganha a medalha de bronze e quebra o recorde sul-americano com 1m29s17. Na prova dos 50m costas, bate o recorde das Américas na semifinal com a marca de 25s99 e o recorde mundial na final com 25s67. 

Etiene Medeiros, Guinness Book
Etiene Medeiros entrou para o Guinnes Book, pelo recorde mundial dos 50 metros de costas mais rápidos nadados em piscina curta por uma mulher, em Doha, em 2014 (Igo Bione/ etienemedeiros.com)

“Não satisfeita”, também quebra duas vezes o recorde sul-americano dos 100m costas, com 57s36 nas eliminatórias e 57s13 na semifinal, e duas vezes no revezamento 4x50m medley feminino do Brasil.

Passado menos de um ano, em setembro de 2014, participa do Troféu José Finkel, em piscina curta, em Guaratinguetá (SP), quebra três recordes sul-americanos:

  • Nos 50m livre, com 24s15;
  • Nos 50m costas, com 26s41;
  • E nos 100m costas, com 57s53.

No Open de Natação – Rio de Janeiro, em dezembro, bate o recorde das Américas dos 50m costas em piscina longa, com o tempo de 27s37; assume o topo do ranking de 2014 nos 50m costas também em piscina longa, e termina a competição batendo o recorde sul-americano dos 50m livres.

Em Santa Catarina, no mesmo Open, em 2015, bate o recorde sul-americano nos 100m livre, com o tempo de 54s26.

Nos Jogos Olímpicos de Verão 2016, a atleta termina em oitavo lugar na final olímpica dos 50m livre, mas na semifinal bate o recorde sul-americano da prova, com a marca de 24s45.

Etiene Medeiros, Rio 2016, recorde sul-americano
Etiene durante semifinal dos 50m livre, na Rio 2016 (Dominic Ebenbichler/Reuters)

Um novo recorde sul-americano dos 50m livres em piscina curta, com a marca de 23s88, é registrado por ela em setembro de 2016, no Troféu José Finkel.

No Mundial de Esportes Aquáticos de 2017, na prova dos 50m costas, Etiene bate duas vezes o recorde da América, com os tempos de 27s18 na semifinal e 27s14 na final.

Na China, durante o Mundial de Piscina Curta de 2018, a atleta tenta o tricampeonato mundial seguido dos 50m costas – perde. Se dedica aos 50m livre, conquista uma medalha de bronze inédita para o Brasil nesta prova e bate, definitivamente, o recorde da América, com a marca de 23s76.

Vitoriosa

O Mundial de Esportes Aquáticos, em Barcelona, 2013, é o palco para a conquista do 4° lugar na final dos 50m costas, com 27s83, sua melhor marca pessoal, obtendo a melhor colocação de uma mulher brasileira em campeonatos mundiais.

No 13° Mundial em Piscina Curta, no Canadá, em 2016, Etiene conquista o bicampeonato mundial dos 50m costas, com 25s82.

Em 2019, no Mundial de Esportes Aquáticos, na Coreia do Sul, conquista a terceira medalha consecutiva nos 50m costas em campeonatos mundiais.

A melhor

Etiene Medeiros foi escolhida a melhor nadadora da década no Brasil no Troféu Best Swimming 2020 – Melhores da Década, eleita por especialistas. 

E, no início de 2023, deixa o Sesi SP – Serviço Nacional da Indústria, onde consolida sua carreira, e retorna a Recife para acompanhar mais de perto o Instituto que leva o seu nome.

Não é um anúncio de aposentadoria, mas um redirecionamento de carreira

Aos 31 anos, a atleta multicampeã quer treinar e competir pelo seu projeto social, o Instituto Etiene Medeiros – IEM, que já é filiado à Federação Aquática Pernambucana e participa de competições locais.

“Preciso estar perto da minha família, perto da equipe onde eu deixei um legado. Voltar para Recife e competir pelo Instituto está sendo uma nova fase da minha vida.”

(Palavras da nadadora)

Etiene quer compartilhar suas experiências e contribuir no processo de formação dos jovens:

 “Estou numa fase de passar o que é ter uma alta performance na natação. Falar sobre responsabilidade, ser exemplo”. 

Braçadas e vida

Em seu site, o IEM afirma seu propósito de transformar a vida de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, a partir de atividades educacionais e esportivas acessíveis a todos. 

Intituto Etiene Medeiros, Copa Nordeste de Natação
Participação de 12 integrantes do Instituto Etiene Medeiros na Copa Nordeste de Natação (Instituto Etiene Medeiros – IEM)

Na missão, se refere a buscar igualdade de gênero, combater o racismo e incentivar a consciência social, com uma ótica de respeito, acolhimento e afeto. 

O Relatório de Impacto Social do IEM 2022 informa o envolvimento de 150 crianças no Núcleo Braçadas que Transformam e, entre as atividades, registra:

  • Mais de 900 horas/aula de natação;
  • Mais de 500 horas/aula de cidadania, cultura, diversidade e habilidades socioemocionais;
  • Mais de 90 horas de encontro com nutricionista voltadas à educação alimentar e nutricional;
  • E mais de 70 horas de orientação psicossocial.

A professora de diversidade do Instituto, Dayse Rodrigues, comenta que a formação cidadã é uma demanda que os jovens trazem muito, uma vez que na escola formal não se tem acesso a esses conhecimentos:

 “Nosso foco é a formação da pessoa. Dentro da temática da diversidade, a gente trabalha raça, gênero, orientação sexual, identidade de gênero, a questão de etarismo, capacitismo… Levar isso aos jovens faz com que eles desenvolvam um senso crítico. E trabalhamos esses temas com jovens de 13 a 17 anos”.

A melhor

Quando deixou Recife, Etiene era uma grande promessa. E, agora, ela volta para casa como:

  • Uma das maiores da natação de todos os tempos;
  • Eleita, por especialistas, a melhor nadadora da década no Brasil no Troféu Best Swimming 2020 – Os Melhores das Águas Abertas Brasil & Mundo Década

Revelada no Sport Clube do Recife aos 8 anos inicia sua carreira. Aos 12, nada pelo Nikita Natação, do Sesi – Serviço Nacional da Indústria. Tem uma passagem rápida pelo Flamengo, no Rio de Janeiro, em 2012. 

No ano seguinte, vai para o Sesi de São Paulo. E, com o técnico Fernando Vanzella, se profissionaliza e vive o seu auge no esporte.

Por duas vezes é atleta olímpica. Na Rio 2016, chega à final dos 50m livre e vence o Prêmio Brasil Olímpico como a melhor da natação da temporada.


Fontes: COB, Federações CDBA, Sesi, Swimm Chanel, Instituto Etiene Medeiros, Folha de Pernambuco, Wikipédia

Escrito em maio de 2023

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