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Hipersexualização do corpo negro masculino

- Caio Cesar dos Santos

Minha irmã me questionou esses dias sobre o fato deu ter escrito sobre hiperssexualização do homem negro e, dias depois, postar uma foto de sunga nas redes sociais. Eu achei o questionamento interessante porque me parece uma confusão na cabeça das pessoas mesmo.

Exercer a sexualidade é um direito de todos nós, seja qual for a sua cor, gênero ou orientação sexual.

Quando falo sobre hipersexualização de homens negros, não quero dizer que você está proibida (o) de achar o corpo daquele homem bonito, atraente etc., isso é normal e faz parte das relações humanas. O desejo, o interesse, tudo isso é realmente normal.

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Hipersexualizar um homem negro é tirar dele a condição de homem. É vê-lo somente como um corpo, um fetiche, pronto para ser usado e abusado pelos seus desejos sexuais. É caracterizá-lo sexualmente como selvagem, viril e violento. É especular sobre o tamanho do seu órgão sexual sem nunca tê-lo visto nu.

No artigo “Qual é a identidade do homem negro?”, escrito por Osmundo Pinho, ele afirma que o corpo negro masculino é visto fundamentalmente como um corpo-para-o-trabalho e corpo sexuado, fragmentado em pele, marcas corporais de raça, músculos e o sexo, genitalizado como o pênis, símbolo plus de sexualidade, que serve de fetiche ao olhar branco.

“Bom de cama”

Me lembro que quando tinha 16 anos uma amiga minha, numa conversa, disse que eu “tinha cara de que fazia sexo bem”. E a julgar por opiniões que ela tinha dado sobre si em outros momentos, aquele tipo de sexo, era um sexo violento. A questão é que essa minha amiga nunca tinha sequer me beijado, nem ouvido falar sobre outras relações que eu tive, com outras mulheres.

Ela simplesmente deduziu. Pelo meu porte físico, pela minha cor. Era como se ela tivesse me encaixado num estereótipo de negros de filme pornô.

Arte: Candido Vinícius sobre obra “Ajitto” (1981), de Robert Mapplethorpe

Tudo isso é problemático quando volto ao primeiro parágrafo e ao questionamento da minha irmã. Se eu fosse um homem branco, nem precisaria estar escrevendo sobre a hipersexualização do meu corpo. Aquela foto seria só uma foto. A questão toda é bem simples. Homens brancos exercem, com todo direito, sua sexualidade sem que aquilo os categorize emocionalmente, intelectualmente e/ou sexualmente.

Uma foto sem camisa, de sunga, seja lá como for, de um homem negro não deveria ser taxativa. É como se, para não ser hiperssexualidado, eu não pudesse exercer minha sexualidade, não pudesse amar meu corpo, me mostrar. É como se, ao fazer isso, eu me diminuísse enquanto ser pensante, enquanto intelectual negro, enquanto ser humano emocional.

A hipersexualização é um problema de quem o faz, não de quem se mostra.

A função do homem negro no debate é entender que ele não precisa se encaixar nos estereótipos criados pela sociedade, que ele pode ir além da questão sexual e afirmar sua sexualidade da forma que lhe achar melhor e mais conveniente.

E a função de todo resto é nos ver não somente como um corpo sexuado, mas como homens por inteiro.

Publicado no Portal Geledés em 03/01/2017

Leia também sobre Mulherismo Africana, o feminismo que acolhe o ser negro

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2 comentários em “Hipersexualização do corpo negro masculino”

  1. Maurício Saaverda

    Eu me identifiquei com muitas coisas citadas. Eu sou branco, hetero e desde muito cedo fui exposto a pornografia, sou um viciado em recuperação.

    Por ter sido exposto desde cedo a pornografia moldou e muito minha cabeça. No começo eu só assistia mulheres, eu não curtia ver um pênis na tela, ainda mais sendo tão diferente (maior) que o meu.

    Mas depois migrei para o porno hetero sempre buscando homens brancos por serem maioria e por eu ser branco. Quando assisti o primeiro porno com negro (“negão” como eles chamam) fiquei assustado, parecia ter encontrado um nova pornografia. A indústria sexualiza os negros de tal forma que eles são maiores, mais ousados e mais desejáveis em suas produções

    Isso me instigou a procurar mais sobre os BBC (Big Black Cock) e foi quando descobri o Cuckold, gênero que me manteve preso por anos nesse mercado tão prejudicial.

    Me questionava se seria “normal” um rapaz branco ter essas preferências. E a Internet apresentou as explicações mais estranhas possíveis:
    – Negros são superiores
    – A vida de brancos com pênis pequeno é assim
    – Aceite sua condição
    – Por que não virar BI e aproveitar o negão?
    – Ou vc aceita que é um macho beta ou vira travesti
    – A Feminização é o futuro dos cornos
    – Você só está observando o que mercado tem de melhor (homens negros) e o Cuckold seria uma forma de “participar” disso tudo.

    Quando lia os relatos eu percebi muitas pessoas que começaram no mesmo caminho que eu. Exposição muito cedo, vício, insegurança… Só que essas pessoas buscaram suas respostas em fetishs ainda mais estranhos. Talvez alguns até tenham se descoberto nisso mas fiquei com a impressão que a maioria só buscando respostas para o estrago que o porno, e outros setores da cultura, causaram.

    Isso foi me despertando a deixar de consumir e a inclusive me conscientizar em como o racismo é velado e perigoso. Não basta não ser racista, tem que ser anti-racista. E um dos lugares onde o racismo é mais forte e destrutivo é na pornografia

    1. Caramba!!

      Cara, pelo menos isso te despertou a lutar verdadeiramente contra o racismo.

      Melhoras para você

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