Mulheres
- Tania Regina Pinto
Título de uma música de sucesso, várias autorias, mil interpretações, uma questão de gênero, um caso de amor, uma boa roda de conversa.
O samba Mulheres, lançado em 1995, de autoria de Antonio Eustaquio Trindade Ribeiro, o Toninho Geraes, sucesso na voz de Martinho da Vila, diz assim:
“Já tive mulheres de todas as cores
De várias idades de muitos amores
Com umas até certo tempo fiquei
Pra outras apenas um pouco me dei
Já tive mulheres do tipo atrevida
Do tipo acanhada, do tipo vivida
Casada carente, solteira feliz
Já tive donzela e até meretriz
Mulheres cabeças e desequilibradas
Mulheres confusas, de guerra e de paz
Mas nenhuma delas me fez tão feliz como você me faz
Procurei em todas as mulheres a felicidade
Mas eu não encontrei e fiquei na saudade
Foi começando bem mas tudo teve um fim
Você é o sol da minha vida a minha vontade
Você não é mentira você é verdade
É tudo que um dia eu sonhei pra mim.”
Resumindo: Nos primeiros versos, o “cara” confessa que já teve relacionamento – longos e casuais – com todo tipo de mulheres, no que diz respeito a tipo físico, faixa etária, personalidade, estado civil e até saúde mental. E ele só buscava uma coisa: felicidade!
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Na terceira estrofe, ele vai ao ponto: deixa claro que está fazendo uma declaração de amor e confessa que, finalmente, encontrou o que procurava!
E até mais. Pois a amada é sinônimo de “felicidade”, “verdade”, “luz”, o amor que sempre desejou e sonhou viver.
Tanto romantismo, transforma Mulheres em trilha sonora de pedidos de namoro e casamento, mas também alvo de críticas, por incluir estereótipos que limitam o ser mulher.
A mulher desequilibrada, por exemplo, reforça o pensamento machista de que namoradas e esposas, quando estão estressadas ou em uma discussão, tendem a perder a cabeça e ficar loucas.
Crítica musical
Pensando nisso, as cantoras Doralyce e Silvia Deffrayer, com o cavaco de João Borsoi, decidiram apropriar-se da melodia e do título da música de Toninho Geraes e responderam ao amor romântico do compositor, escrevendo uma versão, na qual se propõe desconstruir a mulher dos sonhos do artista:
“Nós somos Mulheres de todas as cores, de várias idades, de muitos amores.
Lembro de Dandara, mulher foda que eu sei,
De Elza Soares, mulher fora da lei.
Lembro de Anastácia, Valente, guerreira.
De Chica da Silva, toda mulher brasileira.
Crescendo oprimida pelo patriarcado, meu corpo, minhas regras.
Agora, mudou o quadro.
Mulheres cabeça e muito equilibradas,
Ninguém tá confusa, não te perguntei nada.
São elas por elas, escuta esse samba que eu vou te cantar.
Eu não sei porque tenho que ser a sua felicidade, não sou sua projeção.
Você é que se baste.
Meu bem, amor assim quero longe de mim.
Sou mulher, sou dona do meu corpo e da minha vontade.
Fui eu que descobri prazer e liberdade.
Sou tudo que um dia eu sonhei pra mim.”
Papo de homem
Não bastando o confronto, em 2017, quase 25 anos depois do lançamento da música, surge uma nova teoria incluindo um terceiro protagonismo na composição. Mulheres não é papo de casal heterosexual, mas homossexual, é papo de homem!
Tudo começou no Facebook. Lá surgiu uma nova interpretação da letra, dando conta que o personagem da canção é, na verdade, um homem gay, que tentou sentir desejo e amor por todas as mulheres que conheceu, mas algo sempre pareceu impedi-lo.
Até que, depois de muita procura, ele finalmente “encontrou alguém”, que, na letra, ele apenas identifica como “você” – não há gênero definido, de modo que pode sim ser um cara.
Na análise, que ganhou vida nas redes sociais, o personagem principal está contando que nunca sentiu com nenhuma mulher o que sente, agora, com o cara. Ou seja, ele está saindo do armário!
A YouTuber Jout Jout fez um vídeo analisando a letra, de estrofe em estrofe, não só validando a tese, mas levantando a hipótese contrária: o personagem poderia ser uma mulher homossexual que, depois de tentar se relacionar com outras mulheres, acabou se apaixonando por um homem.
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Poesia – como diz Martinho – é para ser interpretada. E com toda atualidade vale muito uma roda de conversa!
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Como complemento, dois artigos: um sobre o samba, da potência ao ato, outro sobre o primeiro samba gravado, comprovando que nem tudo é como parece, que a verdade tem várias versões.
Fontes: Análise de Mulheres, Observatório
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