Pular para o conteúdo
InícioIrresistível, Ruth de Souza derruba preconceitos no rádio, no cinema e na TV

Irresistível, Ruth de Souza derruba preconceitos no rádio, no cinema e na TV

São muitos os pioneirismos na carreira desta atriz negra que viveu 98 anos. Além da derrubada de barreiras no teatro e na televisão, é a primeira brasileira indicada a um prêmio internacional de cinema e a pisar no palco do Teatro Municipal do RJ.

Ruth de Souza como “Mãe Tuiá” na novela “Passo dos Ventos”

Ruth de Souza é a primeira atriz negra a subir ao palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro – dia 8 de maio de 1945. A peça? O Imperador Jones, de Eugênio O’Neill, em uma montagem do Teatro Experimental do Negro (TEN), grupo liderado por Abdias do Nascimento. Seu feito ajudou a abrir caminho para o artista negro no Brasil.

Com mais de 70 anos de profissão, Ruth de Souza é ícone de várias gerações de atores, a primeira atriz negra a construir carreira na dramaturgia e primeira brasileira indicada a um prêmio internacional de cinema – no Festival de Veneza de 1954.

Mais que um devaneio

Ruth de Souza nasce e é batizada Ruth Pinto de Souza em 12 de maio de 1921, no Rio de Janeiro.

Filha de um lavrador e de uma lavadeira, desde criança Ruth sonhava em ser atriz:

Eu era apaixonada por cinema. Queria ser atriz, mas naquela época não tinha atores negros, e muita gente ria de mim: ‘Imagina, ela quer ser artista! Não tem artista preto’. Eu ficava meio chateada, mas sabia que ia fazer; como? não sabia”.

A infância, ela vive com a família em Porto do Marinho, Minas Gerais. Mas, após a morte de seu pai, volta ao Rio de Janeiro com a mãe, para uma vila de lavadeiras e jardineiras em Copacabana.

Sua paixão por cinema continua vivo e ela e o Teatro Experimental do Negro se encontram. E, do encontro, a conquista do primeiro de muitos pioneirismos, aos 24 anos de idade.

Até Ruth de Souza pisar no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na época capital do Brasil, aquele espaço cultural só havia recebido pés, pernas, corpos de atrizes brancas.

No cinema

Ruth de Souza nos primeiros anos de sua carreira

Três anos depois, Ruth recebe uma bolsa de estudos da Fundação Rockfeller e passa um ano estudando na Universidade de Harvard e na Academia Nacional do Teatro.  

Não demora e estreia no cinema com o filme Terra Violenta, baseado no romance Terras do Sem-Fim, de Jorge Amado.

A este trabalho, somam-se mais de 30 filmes, incluindo a versão para telona de Sinhá Moça, de Tom Payne, no qual foi indicada para o prêmio de Melhor Atriz do Festival de Veneza de 1954; Pureza Proibida – prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante – e As Filhas do Vento, de Joel Zito Araujo, com o qual foi premiada no Festival de Gramado de 2004, como Melhor Atriz.

Em entrevista ao site Memória Globo, ela conta que, por pouco, não ganhou o prêmio, que superou atrizes consagradas: como Katherine Hepburn e a Michèle Morgan – Lili Palmer foi a vencedora.

Era muito importante o festival de Veneza naquela época. Acho que era mais importante que o de Cannes. Quando soube que Lili Palmer ganhou e que eu perdi por dois votos. Dois votos… Então, a Katherine Hepburn e a Michèle Morgan ficaram para trás, ficaram em quarto lugar, não sei.. Para mim, foi como se eu tivesse ganho o prêmio, foi muito importante para a minha carreira, inclusive”.

Outro clássico da carreira de Ruth de Souza é O assalto ao trem pagador, de 1962, de Roberto Farias.

Na televisão

Ruth de Souza é também pioneira na televisão brasileira.

Presente em programas de variedades e musicais no início das transmissões da TV Tupi. Entre eles, a peça O Filho Pródigo, com Haroldo Costa, que já havia encenado no Teatro Experimental do Negro.

“Eu acredito que foi o primeiro teatro na televisão”, registra.

Ruth de Souza

O sucesso na tela pequena, entretanto, chega quando está trabalhando na TV Excelsior, nos anos 1950, com a primeira telenovela, A Deusa Vencida, de Ivani Ribeiro, em 1965.

Em 1968, Ruth é contratada pela Rede Globo para atuar na novela Passo dos Ventos, de Janete Clair, onde interpreta a mãe de santo Tuiá, uma mulher sábia cujos antepassados eram escravizados no Haiti.

Na Globo, ela integra o elenco de mais de 20 novelas e brilha incorporando a personagem Tia Cloé na novela A Cabana do Pai Tomás, de 1969. Em Sinhá Moça, fez dupla com Grande Otelo.

Outro pioneirismo de Ruth de Souza acontece na novela Mandala, de Dias Gomes, em 1987. Ao lado de Milton Gonçalves e Aída Lerner integra, pela primeira vez, uma família de classe média negra na TV brasileira.

Seu último trabalho é a minissérie “Se eu fechar os olhos agora”, de 2019, ano de sua morte. Na história recriada por Ricardo Linhares a partir do romance original de Edney Silvestre, Ruth vive Madalena. Idosa e abandonada, que acaba assassinada de forma brutal e misteriosa.

O último ato

Ruth de Souza morreu em 29 de julho de 2019, aos 98 anos, de pneumonia, deixando – nas palavras da atriz Zezé Mota, em suas redes sociais, “um legado, uma história incrível e portas abertas para muitos jovens artistas negros”.

As duas fizeram inúmeros trabalhos juntas e quinze dias antes de sua morte, Zezé e Ruth gravaram uma cena para um m filme que ainda vai estrear. Quer dizer, Ruth – pelo olhar de sua amiga e colega de trabalho – “partiu fazendo aquilo que mais amava!”

Fonte: Wikipedia, Mulheres no Cinema Brasileiro, Memória Globo, Último Segundo, O Globo

5 comentários em “Irresistível, Ruth de Souza derruba preconceitos no rádio, no cinema e na TV”

  1. Pingback: Taís Araújo: a primeira protagonista negra da Globo • Primeiros Negros

  2. Pingback: Pioneiros na TV • Primeiros Negros

  3. Pingback: Yolanda Braga, a primeira protagonista de telenovela no Brasil • Primeiros Negros

  4. Pingback: Taís Araújo: a primeira protagonista negra da Globo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *