São ambiciosos os projetos da intelectual nordestina e única candidata negra a pleitear a chefia do Poder Executivo do País.
Por Nayara de Deus
Em 2022, toda a base da sociedade brasileira sobe ao trono com a confirmação da candidatura à Presidência da República de Vera Lúcia: mulher, faxineira, acostumada a limpar a sujeira da branquitude, que já carregou muita bandeja para, enfim, se formar cientista social pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).
E é ela quem afirma que é chegada a hora de faxinar o que chama de “democracia dos ricos”, o perverso regime instaurado no país que agora vai-se despedindo da pandemia com seus poucos ricos ainda mais ricos, e a multidão de pobres, mais pobres do que nunca.
Natural de Inajá, município do interior de Pernambuco, Vera despertou para as pautas de luta ao longo da jornada operária no chão de fábrica de uma empresa de calçados.
A candidata é uma das fundadoras do PSTU – Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, sigla que a sustenta na jornada presidencial. Jornada que nos reserva, no mínimo, fortes emoções e quiçá, novos rompimentos com velhos fascistas, enrustidos sob a alcunha do falso progressismo e facilmente identificados pelos discursos de mudanças, sem a intenção real de subverter a ordem.
Mas qual é o plano de Vera Lúcia?
A orquestração da classe trabalhadora, sob a sua batuta!
“…há tantas mudanças profundas necessárias para responder à perversa realidade do país que a concretização do progresso se torna impossível sem que a classe trabalhadora esteja de fato, mobilizada e organizada à frente do controle do Estado” – palavras dela.
Se isso soa como um ensaio para a revolução, apenas aceite. A percepção de Vera é que as opções que a “esquerda” ofereceu até agora para pretos, quilombolas, indígenas e toda a “minoria”, que corresponde ao maior pedaço da pizza, nos fizeram subir pouquíssimos degraus em mais de 30 anos de pseudo democracia em curso.
E se revolucionar é um verbo que já impõe uma série de dificuldades para que Vera possa apresentar sua proposta de governo para mais de 210 milhões de cidadãos da República Federativa do Brasil, este é o menor dos problemas!
Enfática, ela afirma: “A grande verdade é que o programa capaz de responder às demandas desafiadoras do País é justamente esse que o PSTU está apresentando”.
Robin Hood que se cuide!
O lendário personagem inglês que roubava da nobreza para dar aos pobres lá nos tempos das grandes Cruzadas aparece, no século XXI, na figura de uma mulher corajosa e intelectual, que quer tirar 116 milhões de pessoas da extrema miséria transferindo a riqueza de quem detém o poder econômico de verdade.
Parte de sua estratégia ambiciosa, inclusive, é desapropriar as cem maiores empresas do Brasil para que a classe trabalhadora organizada possa comandá-las. Isso inclui, por exemplo, encerrar as regalias de donos de impérios como os bancos Itaú, Safra e a Ambev, especialmente porque o processo de estatização dessas e outras tantas empresas privadas seria muito lento e nós…
A candidata
O currículo de Vera Lúcia é farto em disputas político-eleitorais. Só em Sergipe, ela concorreu uma vez ao Governo do Estado, duas vezes à Câmara dos Deputados e quatro vezes à Prefeitura da capital Aracaju. Em 2018, candidatou-se à Presidência da República – conseguiu 55,7 mil votos – e, em 2020, à Prefeitura da capital paulista.
Uma das fundadoras do PSTU, conseguiu eleger-se presidente de seu partido em Sergipe.
Para a candidata, “embora o Brasil venha assistindo a avanços pontuais – fruto das lutas das mulheres e a ampliação dos debates sobre desigualdade de gênero e raça –, o processo ainda é contraditório e não há como acabar com a opressão dentro do modelo capitalista”.
Cenário que, na sua visão, exige maior resiliência de gênero. “Mulheres que se colocam em espaços de representação percebem o aumento das ideologias de opressão”, em especial as mulheres negras.
Nós, além de sentirmos na pele o preconceito de gênero – vivido por toda mulher -, não conseguimos cicatrizar as feridas cotidianas provocadas pelo preconceito racial – que mira a população preta – e o preconceito de classe, que foca na população mais vulnerável…
…a potência desse pensar, independentemente do sucesso nas urnas, legitima sua candidatura à Presidência da República…
Afinal, até quando os nossos deixarão de receber o nosso voto porque, em algum momento, o perverso sistema eleitoral nos forçou a acreditar que as dificuldades estrategicamente impostas deveriam nos fazer desistir dos mesmos?
Já esperamos tempo demais.
Convoque seus amigos e familiares e lute pela reintegração de posse dos espaços políticos para que o processo de construção de um mundo mais igualitário e justo não demore mais 500 anos.
A pessoa
Vera Lúcia Pereira da Silva Salgado tem 55 anos – nasceu em 12 de setembro de 1967 – e é casada.
Antes do mergulho na política partidária, Vera Lúcia trabalhou como garçonete, datilógrafa e faxineira. Aos 19 anos, começou a atuar no movimento sindicalista e chegou a ser diretora da CUT – Central Única dos Trabalhadores e da Federação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Têxtil.
Filiada ao Partido dos Trabalhadores, foi expulsa em 1992, junto com outros integrantes da Convergência Socialista, que defendiam o impeachment do então presidente Fernando Collor.
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Siga Vera Lúcia nas redes sociais e lembre-se que trabalhar por candidaturas negras, sobretudo de mulheres em todas as posições políticas, exige comprometimento.
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Fontes: Alma Preta, Poder Entrevista, Uol/Folha, PSTU, Uol Eleições, G1, Exame
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Nayara de Deus – Nascida em Santo André, no ABC paulista, Nayara de Deus é jornalista, mestre de cerimônias e apresentadora, embora se autodefina ‘comunicadora’! Filha de Lúcia de Deus, professora de língua portuguesa e literatura, teve boa parte da carreira voltada à produção textual. Como repórter, atuou nas editorias de Política e Cidades em impressos diários. Com comunicação corporativa, escreveu para funcionários da Avon e do Citibank. No entanto, nunca escondeu seu prazer pelo fazer jornalístico em prol do movimento de moradia, dentre outras frentes do interesse público.
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