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Yityish Titi Aynaw, primeira negra a vencer o concurso Miss Israel

A jovem perdeu os pais ainda criança e migrou da Etiópia para Israel. Lá, ganhou o concurso de miss e se tornou ícone da comunidade etíope. É a “Rainha de Sabá” dos tempos modernos.

Yityish Titi Aynaw foi a primeira negra a vencer o concurso Miss Israel. Foto: via Pinterest

Século XI antes de Cristo…

Lá está a célebre e bela soberana negra do antigo Reino de Sabá, o mais poderoso da Arábia.

No trono desde os 15 anos idade, tinha como todas as mulheres de seu reino praticamente os mesmos direitos que os homens – a única diferença era a determinação religiosa de a rainha manter-se virgem.

Como uma boa seguidora dos costumes de seu povo, ela abre mão dos prazeres carnais, dedica-se ao estudo da filosofia e do misticismo e se distrai conversando com viajantes – Sabá esbanjava luxo e riqueza, farta colheita, ouro, era ponto de encontro de mercadores. 

E assim ela fica sabendo da existência de Salomão,  conhecido por sua sabedoria e submeter o rei à prova por meio de enigmas. Chega  a Jerusalém com uma imponente comitiva de camelos carregados de perfumes, muito ouro e pedras preciosas. e apresenta-se a Salomão que soube responder a todas as suas perguntas.

Resumindo a história, os dois se apaixonaram e ela tornou-se a mais amada das 700 esposas de classe principesca e 300 concubinas do rei de Israel.

Sabá e Yityish

Belas, etíopes, órfãs e reinando em Israel – sim, faz sentido lembrar esta história registrada no Alcorão, no Velho e no Novo Testamentos, em referência à figura mítica da mulher do rei judeu Salomão, que teria reinado onde é a atual Etiópia, há 3 mil anos.

Yityish Titi Aynaw deixa a Etiópia aos 11 anos de idade, ao tornar-se órfã e, aos 21, transforma-se  em uma das representantes mais conhecidas da comunidade de judeus de origem etíope – povo sempre alvo de preconceito em Israel. Tornou-se a primeira miss Israel negra e é chamada de “Nova Rainha de Sabá”, referência à figura mítica da mulher do rei judeu Salomão, que teria reinado onde é a atual Etiópia, há 3 mil anos.


Abaixo, a reprodução de matéria publicada no jornal Folha de S. Paulo, em 22 de junho de 2013, quatro meses depois da coroação, assinada por Diogo Bercito, de Jerusalém :

Minha história, Yityish Titi Aynaw, 21

Há dez anos, eu vivia em uma pequena cidade na Etiópia e corria de pés descalços nas florestas, brincava na lama. Depois que meus pais morreram, vim para Israel com meu irmão mais velho. Vim ficar com meus avós, que nunca tinha visto.

Era um país estranho para mim, com uma nova língua, uma nova cultura. Estudei em um internato e tive de superar diversos obstáculos.

Soube desde cedo que eu era sozinha e que, se não tomasse conta de mim mesma, ninguém faria isso por mim.

Yityish Aynaw encontra Barack Obama e Shimon Peres (centro) em março, pouco depois de ser coroada Miss Israel. Foto: Reprodução The Times of Israel

Há três meses, minha vida mudou de uma maneira drástica. Frequentemente sinto que estou vivendo em um sonho que eu não ousava sonhar. Estou feliz e nem sempre consigo digerir as experiências que tive em um período de tempo tão curto.

Quando Shimon Peres, presidente de Israel, me apresentou a Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, disse que eu era a nova rainha de Sabá. Foi algo muito animador.

Amiga

Quando vim a Israel, comecei imediatamente a estudar no internato. Não conhecia a língua. Sentei ao lado de uma estudante israelense. Ela virou minha melhor amiga, e somos melhores amigas até hoje. Ela me recomendou o concurso de beleza, me ensinou a língua.

Eu era uma estudante teimosa. Se não entendia alguma coisa que a professora havia dito, não deixava ela continuar a ensinar até eu compreender a explicação.

Meus avós eram adultos e mesmo eles não sabiam a língua hebraica corretamente, então lutei todos os dias para aprender e entender.

Quando Yityish Aynaw se mudou para Israel, passou a estudar em um internato. Foto: via Pinterest

No internato, não havia apenas etíopes. Havia crianças nascidas em Israel e também imigrantes da Rússia. Então eu não me sentia como uma minoria. Sempre fui parte de um ambiente misto.

A comunidade etíope é muito fechada. Estamos em Israel há 30 anos, não muito tempo. Viver em outro país não é fácil, em especial para pessoas mais velhas. É mais difícil para eles aceitarem a mudança, encontrarem trabalho, aprenderem a língua.

Acho que minha geração e a geração seguinte terão mais chances de se adaptar confortavelmente a Israel.

Cor

Percebi que, nos últimos dois meses, depois da minha vitória no concurso, há uma cobertura mais positiva na mídia a respeito dos imigrantes etíopes – e espero que logo as pessoas possam ver através da cor da pele.

Minha melhor amiga, israelense, sempre me encorajou a ir para a competição. Eu achava que já estava na hora de Israel ter uma rainha da beleza vinda da Etiópia.

Yityish em entrevista
Yityish Aynaw conta que serviu o exército durante três anos. Foto: Reprodução The Ithacan

Realmente quero ser uma modelo e quero representar Israel. Acredito que a competição é a maneira mais correta de fazer ambas as coisas.

Depois da escola, estive no Exército. Fui uma instrutora da Polícia Militar. Instruía soldados. Servi durante três anos. Saí do serviço em setembro, e trabalhei como vendedora em uma loja de sapatos. Então ganhei o concurso e larguei o emprego.

Estou orgulhosa de representar a comunidade etíope em Israel. Cada um de nós, à sua própria maneira, contribui para a consciência, criando uma ponte entre o povo que vive em Israel.

Mar

Este é meu país. Eu me senti em casa imediatamente. Mesmo que não seja fácil, ainda assim essa é a minha casa. Amo o calor humano, as paisagens. Amo o mar.

Quando estava no internato, participava de corridas, era meu alívio. Corria na praia. Sempre vou à praia para pensar, para relaxar.

Viajei para a Etiópia em setembro passado, quando saí do Exército. Fiquei um mês lá. Usei minhas economias para construir a lápide do túmulo da minha mãe. Não é muito visitado, porque não há membros da família morando nas redondezas. Quis investir para preservar.

Visitei também minha família na Etiópia e fechei um círculo importante. Depois de tantos anos de dificuldades, me entreguei ao fato de que não tenho pais. Sabia que tinha de ir, tomar conta do túmulo da minha mãe e começar a viver minha vida.” 

O que acontece depois

Yityish Titi Aynay, após vencer o concurso, conquista reconhecimento nacional e internacional por ser a primeira mulher israelense negra a ser coroada Miss Israel. 

Sua vitória foi vista por muitos como um sinal positivo para a representação dos judeus negros e, especificamente, dos judeus etíopes em Israel.

Enquanto reinava, aumentou a conscientização sobre a dificuldade vividas por  judeus etíopes e ajudou vários de seus parentes a virem para Israel após terem seus pedidos de imigração negados várias vezes. 

Como Miss Israel, participou do concurso Miss Universo 2013 realizado em Moscou, Rússia – não se classificou. Mas, no mesmo ano, foi reconhecida como o 39º judeu mais influente de 2013 pelo The Jerusalem Post.

Em 2016,  começou a trabalhar em um centro comunitário de educação artística em Netanya para atender jovens em situação de risco. 

Inspire-se também com a história de Edward Enninful, Vera Lucia Couto e Donyale Luna. Pioneiros negros no mundo da moda!

Fontes:

Jornal Folha de S. Paulo, edição de  22/6/2013, “Minha história, Yitish Titi Aynay, 21”, por Diogo Bercito, de Jerusalém

Verbete da Wikipédia sobre Yitsh Titi Aynay

Rainha de Sabá Soberana do reino de Sabá – Ebiografia

Verbete da Wikipédia sobre o Rei Salomão

Rainha de Saba – Brasil Escola

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