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Primeiros Reis Momos negros do Carnaval

A mitologia grega conta que Momo (Reclamação) era uma das filhas que a deusa Nix, personificação da noite, teve sem um pai. Momo, que não gostava de nada, foi escolhida para julgar qual dos deuses, entre Zeus, Poseidon e Atena, poderia fazer algo realmente bom. Zeus fez o Homem; Atena, uma casa, e Poseidon, o touro. Momo criticou o touro, porque não tinha olhos embaixo dos chifres que o permitissem mirar os seus alvos quando fosse dar uma chifrada; o homem, por não ter uma janela no seu coração para que o seu semelhante pudesse ver o que ele estava planejando, e a casa, porque não tinha rodas de ferro na sua base para que fosse movida.

Na Roma Antiga, o mais belo soldado era designado para representar a deusa Momo – a se montar, travestir-se no carnaval, ocasião em que era coroado rei. E durante os três dias da festividade, o soldado era tratado como a mais alta autoridade local, sendo o anfitrião de toda a orgia. Encerrada as comemorações, o “Rei Momo” era sacrificado no altar de Saturno. Posteriormente, passou-se a escolher o homem mais obeso da cidade, para servir de símbolo da fartura, do excesso e da extravagância.

Palhaço Benjamin

Assim, o Rei Momo chega ao Brasil, ao Rio de Janeiro, como homem sem, no entanto, incorporar uma figura específica, até que em 1910, Benjamim de Oliveira – o primeiro artista negro do cinema brasileiro, o primeiro palhaço negro do Brasil e primeiro palhaço negro do mundo (de acordo com o pesquisador Brício de Abreu) – personificou o primeiro Rei Momo negro do país.

(Até isso, tiraram das pessoas nascidas com o sexo feminino: no Carnaval, Momo é um Rei sem rainha, só com princesas. Mas, ok, o espaço é do pioneirismo negro, não do debate de gênero.)

Benjamim de Oliveira, criança ainda quando a Lei Áurea imperava em território nacional, abandonou o lar aos 2 anos e juntou-se à troupe do Circo Sotero, atuando em números de trapézio e de acrobacia.

Além de seus números de clown e acrobacia, Benjamim cantava, atuava e  escrevia peças teatrais. “Minha existência poderia ter ficado encoberta pelas muitas montanhas que encobrem as Minas Gerais se, um dia, uma troupe de circo não tivesse passado por lá”, disse ele um dia.

Benjamin nasceu em Pará de Minas (MG), no dia 11 de junho de 1870. Encerrou sua carreira no circo na década de 1940 e morreu no Rio de Janeiro 3 de maio de 1954.

Sua história foi transformada no livro “Benjamim, o filho da felicidade”, de Heloísa Pires Lima, e faz parte da Coleção De Repente, com histórias de vidas que mudaram da noite para o dia.

Lelé

Em Porto Alegre (RS), o pioneiro é Adão Alves de Oliveira, Lelé, que  reinou entre 1949 e 1952 e que era chamado de Rei Negro.

Durante entrevista ao Diário Gaúcho, em 2005, Lelé conta como tornou-se Rei Momo da capital gaúcha: “Estava com amigos e resolvi fazer uma brincadeira para arrecadar grana para beber. Fizemos uma coroa de papelão e saímos pela rua”.

E deu mais que certo. No ano seguinte, Lelé foi convidado para ser o primeiro Rei Momo negro de Porto Alegre.

Além de ter agitado o Carnaval, Lelé jogou futebol profissional entre 1943 e 1945, ocasião em que surgiu o apelido, por conta de seu chute igual ao do atacante Lelé, do Madureira, time do Rio de Janeiro.

Lelé morreu aos 88 anos no ano de 2013.

Henricão

Na capital paulista, o primeiro rei negro do Carnaval só foi empossado em 1984: Henrique Felipe da Costa, Henricão, compositor nascido em Itapira, no interior de São Paulo, identificado por seus quase dois metros de altura e sorriso cativante.

Além de primeiro Rei Momo negro do Carnaval de São Paulo, compositor, intérprete e ator de cinema e televisão, Henricão foi um dos fundadores da Vai-Vai e autor das primeiras marchas do então cordão carnavalesco.

Entre suas mais de cem músicas, sucessos como o samba-choro “Só Vendo que Beleza” (“Eu tenho uma casinha / Lá na Marambaia…”), em parceria com Rubens Campos; “Sou Eu” (“Se acaso você encontrar / alguém dormindo na rua / coberto com o manto da lua / sou eu…”), e “Está chegando a hora”, marchinha carnavalesca adaptada da música mexicana “Cielito Lindo”.

No mesmo ano que se consagrou pioneiro no Carnaval paulistano, Henricão morreu. Hoje ele é nome de rua e de escola.

Fontes:

https://juliomorenoblog.wordpress.com/tag/rei-momo/

http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/dia-a-dia/noticia/2013/07/primeiro-rei-momo-negro-do-carnaval-de-porto-alegre-e-sepultado-na-capital-4203513.html

http://primeirosnegros.blogspot.com.br/search?q=benjamin

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