Na recriação de A Princesa e o Sapo, um clássico dos contos de fadas, uma princesa africana, muito jazz, mas sem direito a um príncipe com a cor da nossa pele.
Tiana é a escolhida, a pioneira, a heroína que resgata o príncipe com um beijo de amor do conto de fadas A Princesa e o Sapo e integra a criança negra no mundo infantil, com espaço para se sentir representada. Isso, 72 anos depois (!!!) de ser lançada a animação da Branca de Neve, que deu início ao legado de princesas do produtor cinematográfico Walt Disney.
Lançada em 2009, a animação recria o conto dos Irmãos Grimm, escrito a mão em 1810, e o traz para o século XXI, substituindo a valsa pelo jazz e o asco pelo ‘amor verdadeiro’.
É. Apesar de nas versões mais modernas a transformação do sapo em príncipe se dê, invariavelmente, quando a princesa beija o sapo, na versão original dos Grimm, o feitiço do sapo é quebrado quando a princesa o atira contra uma parede, cheia de nojo.
Direto da África
Tiana não é a primeira heroína diferente dos desenhos da Disney, mas é a primeira de origem não-caucasiana que mora nos Estados Unidos e tem o sonho de abrir um restaurante em New Orleans, a capital do Jazz, o coração cultural da comunidade negra americana.
A animação é uma combinação de histórias clássicas e modernas. Ninguém atira o sapo contra a parede, mas a princesa vira rã quando o beija, dando início a uma aventura pelos místicos pântanos da Louisiana.
A transformação da princesa em rã só confirma que ainda estamos longe do ideal em termos de representatividade negra no mundo das princesas e dos heróis – opina a cineasta Rosa Miranda, primeira mulher negra no Brasil a se formar em licenciatura e mestre em Cinema e Audiovisual, pela Universidade Federal Fluminense.
No artigo intitulado A Princesa e o Sapo e suas reproduções dos estereótipos negros, Rosa Miranda se ressente das poucas falas da personagem, entre outros sinais de discriminação racial:
“O filme A princesa e o Sapo tem vários personagens negros, mas também tem vários estereótipos, tanto sobre a religião vudu quanto sobre os personagens com traços mais negroides, que são os vilões.”
Polêmica
Registre-se que o filme foi acusado de preconceituoso por a protagonista, no começo da história, quando é garçonete, ser chamada de Maddy – nome parecido com Mammy, com que os americanos se dirigiam às escravizadas.
A Walt Disney Animation Studios também foi acusada de ter-se aproveitado da “obamania”, apesar de o projeto ter sido iniciado muito antes da eleição de Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos.
A questão racial, no entanto, é abordada apenas implicitamente, para quem observar a miscigenação existente na Nova Orleans retratada. Uma cidade plural também por sua efervescência musical.
O fato é que A Princesa e o Sapo marca a volta da Disney à animação desenhada à mão, após cinco anos, e parte do trabalho foi feito em São Paulo pela HGN Produções, selecionada pelo estúdio americano.
Princesa empreendedora
A primeira princesa afro-americana – nona na lista de princesas lançadas pela Disney -, em 2022, será a primeira princesa a ter uma série própria.
De acordo com a sinopse oficial, divulgada pelo estúdio, será uma série de comédia musical com a princesa empreendedora, a ser vivida na mesma Nova Orleans.
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Fontes: Blog Mackenzie, Omelete, IGN Brasil, O Globo, Projeto Colabora
Escrito em 14 de setembro de 2009. Atualizado em 24 de setembro de 2024