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InícioBethania Gomes, bailarina: “expulsa” no Brasil, top no exterior

Bethania Gomes, bailarina: “expulsa” no Brasil, top no exterior

Ela é a primeira bailarina negra do país a alcançar o posto mais alto em uma companhia de dança internacional.

Bethania Gomes topo
Bethania Gomes. (Foto: Nadya Jacobs).

Bethania Gomes começou a fazer balé aos 9 anos de idade por indicação do ortopedista. Ela não gostava das aulas, se sentia deslocada por ser a única menina negra da turma.

Mas as coisas mudam quando a sua mãe lhe apresenta livros e revistas com fotos de bailarinas negras, várias delas do Dance Theatre of Harlem. E ela descobriu onde queria dançar.

Aos 13 anos, ingressa na escola do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e é aluna de Consuelo Rios. Nesse mesmo ano, o Dance Theatre of Harlem vem ao Brasil e uma de suas professoras a leva para assistir a uma masterclass da companhia.

Assim, ela conhece Arthur Mitchell, bailarino, coreógrafo e fundador da companhia.

1988 – centenário da dita abolição, assinada pela tal princesa na então capital federal, Rio de Janeiro. Bethania, com 13 anos, entra na escola de dança do Theatro Municipal da cidade, porém, desde a audição , sofre agressões diárias e, um ano depois, decide sair.

Quarenta anos antes, em 1948, Mercedes Baptista, a primeira bailarina negra a integrar o corpo de baile do Municipal do Rio de Janeiro, abandonou a companhia pelo mesmo motivo.

“Meninas negras não são incentivadas a se tornarem grandes bailarinas.(…) Minha mãe sempre me incentivou, sempre foi grande incentivadora da minha carreira e sempre incentivou que eu saísse do Brasil, principalmente depois que tive a experiência do Teatro Municipal”

– palavras de Bethania.

E, até hoje, na história do o corpo de baile do Municipal do Rio de Janeiro, não há registro de uma solista ou primeira bailarina negra.

Do Harlem para o mundo

Em 1990,  a outra América é o foco. Ela segue para Nova York. Faz um teste, passa e ingressa no Dance Theatre of Harlem School. Dois anos depois, entra como aprendiz na companhia.

Na virada do século, em 2001, torna-se solista e no ano seguinte é promovida a primeira-bailarina do Dance Theatre of Harlem, a primeira brasileira negra a alcançar o posto mais alto de uma companhia internacional.

Em sua primeira viagem com o Harlem, o destino é a África do Sul. E ela dança para Nelson Mandela. Viaja profissionalmente a 26 países.

Bethania Gomes pose
Bethania Gomes em 2014. (Foto: Nadya Jakobs).

Isso depois de ter dançado para para o Prince e The New Power Generation em uma temporada, em 1997 e de ter participado como artista convidada do Complexions Contemporary Ballet e coreografado para a campanha Nike Black History Month.

Entre os papéis principais na ponta dos pés, as obras Romeu e Julieta (1976), de Gabriella Taub-Darvash; Firebird (1982), de John Taras (1919-2004); O corsário (1974), de Karel Shook (1920-1985); Return (2000), de Robert Garland; South African Suite (1999) e The Greatest (1977), de Arthur Mitchell (1934-2018); Signs and Wonders (1995), de Alonzo King; Adagietto No. 5 (1977), de Royston Maldoom; The Four Temperaments (1946), de George Balanchine (1904-1983); e Concerto in F (1981), de Billy Wilson (1935-1994).

Pas de Deux

Bethania Nascimento Freitas Gomes é filha de Maria Beatriz Nascimento ‒ uma das principais intelectuais negras brasileiras, que dá nome hoje à Biblioteca do Arquivo Nacional, no Rio Janeiro.

E o encontro entre mãe e filha tão especiais promete transformar-se em uma série dramática produzida pela Conspiração Filmes – a ideia está sendo gestada desde outubro de 2020.

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Beatriz Nascimento. (Foto: Arquivo Nacional).

Pas de Deux vai tecer as vidas e respectivas lutas de mãe e filha em sociedades distintas, com 20 anos de diferença, mas submetidas ao mesmo racismo.

A historiadora, ativista e poetisa Beatriz Nascimento, precursora do movimento feminista negro no Brasil dos anos 1970, foi  assassinada por intervir na briga doméstica de uma amiga.

No hoje

Ao voltar ao Brasil em 2007, grávida, em 2007, Bethania dá aulas no projeto Dançando Para Não Dançar e descobre Ingrid Silva, hoje primeira-bailarina do Dance Theatre of Harlem.

Anos depois, volta aos Estados Unidos – onde vive atualmente -, como professora e técnica dos bailarinos e bailarinas da companhia, coreógrafa e coach.

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Bethania em performance. (Foto: Facebook/Dance Theatre of Harlem / Pipoca Moderna).

Além de todas as atividades ligadas à dança, Bethânia trabalha para que outras mulheres negras brasileiras tenham oportunidades internacionais e investe na divulgação do legado de sua mãe.

Em 2021, a nossa brasileira carioca pioneira – que se assume “meio cabo-verdiana”, por conta de seu pai, o arquiteto e artista plástico José do Rosário Freitas Gomes – deve lançar seu primeiro livro infantil.

Inspire-se também com a história de Mercedes Baptista, a primeira bailarina clássica negra do Brasil.

Fontes: São Paulo Companhia de Dança, NegraVoz podcast

1 comentário em “Bethania Gomes, bailarina: “expulsa” no Brasil, top no exterior”

  1. Olá, tudo bem?
    Quero usar essa matéria como referência em um trabalho acadêmico, mas gostaria de saber a data da publicação. Seria possível?
    Agradeço desde já.

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