A primeira negra eleita Miss Brasil é gaúcha. Ela quebra um tabu, mas, antes, tem de enfrentar a fúria da sociedade de seu estado – sua votação vitoriosa como Miss Rio Grande do Sul teve de ser repetida três vezes.
A data histórica de coroação de Deise Nunes Ferst como a primeira negra eleita Miss Brasil é 17 de maio de 1986. Só depois de 30 anos, o feito se repetiu, com a paranaense Raíssa Santana, em 2016, e a piauiense Monalysa Alcântara, em 2017.
“Em um país tão miscigenado, com tantas negras lindíssimas é meio estranho. Torço para que não seja preconceito”, declarava a primeira miss em 2013, denunciando o mito da democracia racial, em entrevista ao portal Ego, do Globo.com, sobre, na época, desde a sua consagração, 27 anos antes, nunca mais uma negra ter sido eleita.
Deise ganhou o concurso com 1,75m de altura, 86cm de busto, 90cm de quadril e 60cm de cintura. Foi a primeira Miss Brasil negra da história do concurso, consequentemente a primeira negra brasileira a disputar o Miss Universo, do qual foi uma das semifinalistas, classificando-se em sexto lugar.
A eleição no sul
A carreira de modelo profissional de Deise Nunes começa dois anos de sua coroação como Miss Brasil, em 1984, ao ser descoberta pelo então diretor social do Sport Club Internacional, Paulo Franchini, clube ao qual representou no concurso Rainha das Piscinas do mesmo ano, tornando-se vencedora de um dos concursos de beleza mais importantes do seu estado na época.
Para chegar ao título pioneiro, teve de enfrentar muito preconceito durante a caminhada – a conquista dos concursos de Miss Canela e Miss Rio Grande do Sul.
Quarta representante do Rio Grande do Sul a ser coroada Miss Brasil, viu sua vitória ser contestada com ferocidade pelas famílias das demais candidatadas por conta da cor da sua pele.
Os organizadores, mesmo diante de sua vitória em um estado reconhecido por uma maioria de mulheres loiras de olhos claros, repetiram três vezes a votação e a contagem dos votos antes de lhe entregarem a faixa e a coroa.
Vida profissional
O mundo da moda, até hoje, faz parte da vida de Deise Nunes. Das passarelas nacionais e internacionais, incluindo a chamada “passarela do samba”, o Carnaval.
Deise Nunes, por alguns anos, desfilou como rainha de bateria da escola de samba União da Ilha, no Rio de Janeiro. Em Porto Alegre, desfilou em várias escolas, destacando-se como rainha de bateria da Bambas da Orgia.
Fora das passarelas, depois do concurso, Deise comandou o programa Papos & Pratos da Tv Bandeirantes nos anos 1990 e o programa Terceiro Setor, em um dos canais da NT gaúcha nos anos 2000.
Em 1988, fez uma participação num dos episódios do seriado Tarcísio e Gloria, na Rede Globo. Na mesma emissora, foi convidada do júri do Cassino do Chacrinha em algumas ocasiões.
Atualmente, ministra cursos em sua escola de modelos em Porto Alegre e é empresária do setor de moda.
Sem glamour
Deise Nunes nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em 30 de março de 1968. Filha de Ana Maria Nunes, ainda adolescente quando ela nasceu, vivia na casa onde sua mãe trabalhava. Não era uma vida fácil, mas Deise sonhava ser miss.
Ainda na infância, em 1977, com apenas nove anos, foi eleita «Miss Simpatia» do seu colégio, e seis anos depois, em 1983, foi eleita «Primeira Princesa» em outro colégio em que estudava. A vencedora desse concurso adoeceu e ela foi representar o colégio no concurso Miss Unespa, da União dos Estudantes Secundários em Porto Alegre, e ganhou a coroa.
O livro Do Tanque a Paris, de sua mãe, conta a história dura que ambas tiveram que passar até o estrelato de Deise como Miss Brasil.
Sobre a chegada das duas a Paris a mulher mais bonita do Brasil e sua mãe, a revista Manchete, edição 1907, de 1988 publicou:
“São duas mulheres negras, mãe e filha, que venceram literalmente na raça. Deise Nunes, 21 anos, a primeira Miss Brasil mulata, para cuja beleza o preconceito racial teve de se curvar, agora está imprimindo um novo rumo à sua carreira de modelo internacional – na condição de maneca contratada do costureiro Guy Laroche, a Cinderela negra brasileira faz seu début na passarela francesa, em janeiro do ano que vem, em Paris. Ana Nunes, 36 anos, mãe de Deise, já foi lavadeira, mas com o sucesso profissional da filha — modelo desde os 15 anos de idade e uma supercampeã de títulos — tornou-se sua empresária.“
A primeira mulher negra a representar o Brasil em um concurso internacional foi a carioca Vera Lucia Couto, segunda colocada no Miss Brasil 1964. Por sua posição de destaque no concurso, ela obteve o direito de concorrer ao Miss Beleza Internacional em Long Beach, Flórida.
Conheça a história de outros pioneiros negros no mundo da moda: Edward Enninful, Vera Lucia Couto e Donyale Luna.
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Fontes: Wikipédia, Jornal do Comércio
Escrito em 17 de maio de 2010