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Francisco Carregal, pioneirismo negro no futebol do Brasil

Hoje, vamos contar a história de Francisco Gomes Carregal, uma verdadeira lenda no mundo do futebol brasileiro. Nascido em 26 de março de 1884, no Rio de Janeiro, Carregal não foi apenas um jogador; ele foi o pioneiro que desbravou o caminho para a inclusão de negros no futebol do Brasil. Em uma época em que o racismo era a norma, ele teve que enfrentar barreiras inimagináveis, desde usar pó-de-arroz para clarear a pele até esconder seu cabelo crespo sob uma touca, tudo para poder jogar o esporte que amava. Vamos mergulhar na sua jornada incrível?

White face” para conseguir jogar bola no país do futebol e de maioria do povo preto desde sempre!

Francisco Carregal (Imagem: Reprodução)
Francisco Carregal (Imagem: Reprodução)

Em 1905, o The Bangu Athletic Club, fundado por ingleses em 1904, pela Companhia Progresso Industrial do Brasil, uma fábrica de tecidos, tinha no seu elenco: cinco ingleses,  três italianos, dois portugueses e um brasileiro, negro, Francisco Gomes Carregal!

Vamos contar de outro jeito:

Com a imigração europeia, não havia “espaço” para os negros jogarem futebol. Francisco Carregal é pioneiro, único, no meio de Frederick Jacques, John Stark, Willlian Hellowell, W. Procter e James Hartley – os ingleses,  de César Bocchialini, Dante Delloco e Segundo Maffeo – os italianos – e dos portugueses Francisco de Barros e Justino Fortes. 

Diferente dos outros jogadores, não bastava para Carregal vestir o uniforme do time, calçar as chuteiras e, principalmente, jogar um bom futebol. Ele – e outros boleiros negros contratados depois – tinha de usar touca para esconder o cabelo crespo e se maquiar com pó-de-arroz para clarear a pele.

Era isso – “se passar por pessoa branca” – ou ser barrado na porta do clube.

Histórico

Francisco Gomes Carregal faz parte da história não só do time do Bangu, mas é quem o chute inicial do futebol negro do Brasil.   

Quer dizer, há controvérsias! Vasco da Gama e  Bangu, times do Rio de Janeiro, disputam o pioneirismo da democracia racial no futebol com a Ponte Preta

Leia o artigo sobre Miguel do Carmo, que jogou na Ponte Preta de 1900 a 1904.

Quanto ao viver de cidadão de Francisco Carregal, pouco se sabe…

Nasceu em 26 de março de 1884, no Rio de Janeiro e traz em sua certidão de nascimento o registro de que é Francisco Gomes Carregal, em referência ao vilarejo onde o pai, português, nasceu, e ao senhor de escravizados da família de sua mãe, negra brasileira.

No mercado de trabalho começou cedo, como tecelão na Companhia Progresso Industrial do Brasil, fundada em 1889, e que depois passou a se chamar Fábrica de Tecidos Bangu.

A história do time

Passados 15 anos da criação da fábrica, os diretores resolveram fundar The Bangu Athletic Club para a prática de esportes da colônia britânica. Mas a ideia de exclusividade, de clube fechado, não vingou.

Não havia gente suficiente para montar um bom time. E foi só por isso que Carregal se tornou o primeiro jogador negro do Brasil

Em outras palavras: nada a agradecer, apesar de o clube ter sido homenageado por ser o primeiro a ter um jogador negro no time . 

Pra nós, vale a foto histórica!

Dia 14 de maio de 1905, o Bangu recebe, no campo da fábrica, o time reserva do Fluminense. E, depois do jogo, lá está ele. Francisco Carregal, segurando a bola, com sua camisa impecável, chuteiras lustradas, meiões esticados. E tudo para driblar o racismo , “fazer presença em meio à maioria britânica”.

Time do Bangu 1905, Francisco Carregal segurando bola
Bangu que enfrentou o Fluminense no dia 14 de maio de 1905. Fila de cima, a partir da esquerda: José Villas Boas (presidente), Frederick Jacques e João Ferrer (presidente honorário); fila do meio: César Bochialini, Francisco de Barros, John Stark, Dante Delocco e Justino Fortes; sentados: Segundo Maffeu, Thomas Hellowel, Francisco Carregal, William Procter e James Hartley. (Imagem: Reprodução/Jogada 10).

Quem conta esta história é o jornalista Mário Filho em seu livro O Negro no Futebol Brasileiro, de 1947.

Em outro trecho, o jornalista registra:

“William Procter podia descuidar-se, Francisco Carregal, não. No meio de ingleses, de portugueses, de italianos, sentia-se mais mulato, queria parecer menos, quase branco. Passava perfeitamente. Pelo menos não escandalizava ninguém”.

Ele estava sozinho. 

Detalhe: o jogo terminou com a vitória do Bangu por 5 a 3. O resultado abriu espaço para o time filiar-se à Liga Metropolitana de Futebol e participar do primeiro Campeonato Carioca, em 1906.

O Bangu ficou em penúltimo lugar. Eram seis os times participantes. O incômodo maior, entretanto, foi fora de campo, com os dirigentes a torcer o nariz para jogadores operários e com um negro entre eles.

Os cartolas não gostaram de ver um time revelar que abria a porta para operários e negros. 

Carregal atuou em 28 partidas e marcou seis gols pelo Bangu entre 1905 e 1912. Depois, como atacante, defendeu o Flamengo. 

Profissionalmente, continuou a trabalhar na fábrica de tecidos e, mais tarde, virou tesoureiro do Bangu.

Seu nome está no quadro de funcionários do clube em 1933, o primeiro ano da era do futebol profissional, quando o Bangu é campeão.

Carregal morreu aos 65 anos de idade, em 21 de abril de 1949, e teve seu nome reconhecido como um figura histórica em 2001, quando o Bangu foi agraciado pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro com a Medalha Tiradentes, a maior honraria concedida pela Casa, por ter sido o primeiro clube a ter um negro em sua linhas.

Bola fora

Depois de 1905, o Bangu foi excluído da Primeira Divisão e só voltou à elite em 1912, depois de disputar a Segunda Divisão. À essa altura, jogadores negros eram presença no meio futebolístico.

No Bangu,  jogavam o irmão mais novo de Carregal, Antônio, e Manuel Maia, goleiro, filho de dois negros. No América, tinha Carlos Alberto, que depois foi para o Fluminense e, para driblar o racismo, também passava  pó de arroz na pele para parecer mais claro.

São as micro agressões que nos impõem, o racismo estrutural, institucional...

Vale a leitura do artigo da jornalista Beth Brusco sobre Racismo Recreativo, racismo que tem como um de seus “palcos prediletos” os campos de futebol.


Fontes: Jogada 10, Livros de Futebol , Wikipedia e blogs HisBrasil e Cervebolíticos

Atualizado em maio de 2023

Francisco Carregal: O Desbravador Negro do Futebol Brasileiro

Francisco Gomes Carregal é uma figura emblemática no futebol brasileiro, marcando sua história como o primeiro jogador negro a atuar no país. Em 1905, ele se juntou ao The Bangu Athletic Club, um time formado majoritariamente por europeus. A presença de Carregal no time não apenas quebrou barreiras raciais no esporte, mas também desafiou as normas sociais da época. Ele teve que superar o racismo de maneira dolorosa, maquiando-se para “passar por branco” e poder entrar em campo. Apesar desses obstáculos, Carregal deixou um legado inestimável, abrindo portas para futuros atletas negros no futebol brasileiro e contribuindo para a luta contra o racismo no esporte.

Quem foi Francisco Gomes Carregal? Francisco Gomes Carregal foi o primeiro jogador negro do futebol brasileiro, atuando pelo The Bangu Athletic Club a partir de 1905.

Como Francisco Carregal superou o racismo no futebol? Carregal superou o racismo usando pó-de-arroz para clarear a pele e uma touca para esconder seu cabelo crespo, medidas necessárias para ser aceito em campo.

Qual foi a importância de Francisco Carregal para o futebol brasileiro? Sua importância reside no pioneirismo e na luta contra o racismo, abrindo caminho para a inclusão de jogadores negros no futebol brasileiro.

Quais foram os desafios enfrentados por Francisco Carregal? Além do racismo, Carregal enfrentou desafios como a exclusão social e a necessidade de “se passar por branco” para poder jogar.

Qual o legado deixado por Francisco Carregal? O legado de Carregal inclui a quebra de barreiras raciais no esporte, inspirando futuras gerações de atletas negros e contribuindo para a luta contra o racismo no futebol.

2 comentários em “Francisco Carregal, pioneirismo negro no futebol do Brasil”

  1. Pingback: Miguel do Carmo, outro pioneiro da primeira hora do futebol nacional

  2. Pingback: Os esportes e a superação negra

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