E a vida segue em frente inspirada na primeira dama do samba, com seu sorriso negro que traz felicidade.
Ivone Lara da Costa nasceu carioca. Filha de João da Silva Lara, mecânico de bicicletas, violinista e componente do Bloco dos Africanos, e Emerentina, pastora do Rancho Flor do Abacate. Ficou órfã de pai e mãe aos 6 anos. Seu lar, até os 17 anos, foi o Colégio Orsina da Fonseca, onde já era admirada por suas professoras de música, a ponto de ser indicada por elas para o Orfeão dos Apinacás, da Rádio Tupi, cujo regente era Heitor Villa-Lobos.
Enfermeira e assistente social, especializou-se em Terapia Ocupacional. Ivone Lara fez carreira trabalhando em hospitais psiquiátricos e no Serviço Nacional de Doenças Mentais até 1977 quando decidiu se aposentar e investir na carreira artística.
A compositora
Desde 1947 Ivone Lara compunha samba, mas seu primo Fuleiro (também compositor) os apresentava como se fossem dele, para driblar o preconceito com mulher sambista.
Ivone casou-se aos 25 anos com o filho do presidente da Escola de Samba Prazer da Serrinha, Oscar Costa. Passou então a frequentar a escola, que acabou virando a Império Serrano. Foi lá que, em parceria explícita com Fuleiro, compôs o samba “Não me perguntes“, considerado por muitos o hino da escola.
Figura constante nos espetáculos do Teatro Opinião, nos anos 60, ganhou o “Dona” no nome a partir de comentário do radialista Adelzon Alves.
Em 1965, com o clássico samba-enredo “Os cinco bailes da história do Rio“, em parceria com Silas de Oliveira e Bacalhau, da Império Serrano, Dona Ivone Lara tornou-se oficialmente a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores de uma escola de samba.
Sonho meu
Com o tempo, entretanto, ela deixou de compor para a escola, assumindo o posto de madrinha da ala dos compositores e passando a desfilar na ala das baianas.
No início dos anos 1970, ela lança os primeiros discos, pela gravadora Copacabana, “Sambão 70” e “Samba minha verdade, samba minha raiz”.
Nessa época, suas músicas passaram a ser interpretadas por diversos artistas e veio o começo da fama com “Sonho meu”, de sua autoria com Délcio Carvalho, gravada por Maria Bethânia e Gal Costa – Prêmio Sharp de Melhor Música.
Em 1980, Maria Bethânia novamente levou uma composição de Dona Ivone Lara para as paradas, com o samba “Alguém me avisou”, cantado com Caetano Veloso e Gilberto Gil. Depois teve “Sorriso Negro”, em 1982; Enredo do meu samba“, na voz da cantora Sandra Sá, em 1984, e muitos outros.
Centenária
13 de abril de 2021 – 100 anos de Dona Ivone Lara. Ela não está entre nós para celebrar, mas sua história, sua voz, sua música são eternas e estão registradas no próprio Carnaval que, em 2012, através da Império Serrano, escola de seu coração, a transforma em samba de enredo.
Dona Ivone Lara tem prêmios pelos serviços prestados à música e à cultura, pelo conjunto de sua obra. Entre eles, o Troféu Eletrobras de Música Popular Brasileira e a Medalha Pedro Ernesto, em 1999, e o Prêmio Shell de MPB, em 2002.
Sua carreira artística conta com reconhecimento internacional – em 2001, ela recebe o Prêmio da Academia Charles Cros, Paris, França, pelo CD internacional “Nasci pra sonhar e cantar”. Isso depois de apresentar-se pelos quatro cantos do mundo.
Antes de partir
Dona Ivone Lara morreu em 16 de abril de 2018. Mas, antes de partir, aproveitou muito do século XXI.
Em 2004, lança, na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil, seu segundo CD internacional “Sempre a cantar“.
Em comemoração aos 62 anos de vida artística, em 2009, lança o CD e DVD “Canto de rainha” e, no ano seguinte, os CDs “Nas escritas na vida“, com Bruno Castro, e “Bodas de coral“, com Délcio Carvalho.
Em agosto de 2011 é a grande homenageada no Prêmio da Música Brasileira, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Ao completar 90 anos, em 2011, entre os eventos comemorativos, é lançado o site oficial www.donaivonelara.com.br, um projeto realizado com o apoio financeiro da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro.
O “Baú da Dona Ivone” é aberto em 24 de agosto de 2012, com um show e CD de músicas inéditas, a partir de projeto patrocinado pela Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, para ser distribuído nas Escolas da Rede Municipal.
Mais uma homenagem acontece em 2015 com projeto “Sambabook Dona Ivone Lara”, contendo um DVD, um CD, um livro sobre a vida artística da cantora e um álbum com as partituras dos seus maiores sucessos musicais.
E a vida segue em frente inspirada na primeira dama do samba.
Fontes: Cantoras do Brasil