O Resgate de Poder também acontece através da política.
Históricas também na violência
Pequenas grandes verdades das históricas eleições de 2020…
Em todas as regiões do Brasil, alguma coisa mudou…
As Américas enegreceram as urnas
A revolução começa Preta e Trans
Câmaras negras
Palmas, capital do Tocantins, é a cidade com maior quantidade de pessoas negras eleitas: das 18 cadeiras, 17 serão ocupadas por negros. Em Cuiabá, capital do Mato Grosso, também, os negros eleitos são 76%. Os dados são do Tribunal Superior Eleitoral.
Na outra ponta está Florianópolis, capital de Santa Catarina, que não elegeu nenhuma pessoa negra nestas eleições. E Curitiba, capital do Paraná, que apesar de ser a capital mais branca do país, elegeu sua primeira vereadora negra, Carol Dartora, a terceira mais votada na cidade.
Históricas também na violência
Impossível celebrar a vida de Marielle Franco sem lembrar a sua morte prematura, injustificada e até hoje “sem autoria”, sem temer pelo futuro de suas sementes e outros negros, negras e negres vitoriosos de 2020. Mas, o fato é que, quando o assunto é política, as mulheres são o foco inclusive da violência virtual.
Pesquisa realizada pelo Instituto Marielle Franco identifica que 8 em cada 10 mulheres que concorreram às eleições no ano de 2020 sofreram violência virtual, a partir de mensagens machistas e racistas e invasão durante lives das quais participaram, ataques na internet, ofensas relacionadas ao corpo e agressões físicas
O estudo, divulgado em dezembro de 2020, mostra que 14,6% dos indivíduos identificados como praticantes de violência virtual estão ligados a grupos neonazistas, racistas e antifeministas.
Houve ainda relatos de intimidação pela desistência de candidaturas ou para a concordância com decisões partidárias por 32,9% da respondentes, de candidatas que não receberam nenhum recurso financeiro do partido para a campanha (29,1%) e de assédio sexual nas legendas (2,5%).Foram ouvidas 142 mulheres negras de 16 partidos e de 93 municípios de todo o país.
Zoom qualitativo
Os números não indicam muita mudança na representatividade do povo preto, mas o perfil dos eleitos indica mudanças. Não há como contestar o nascimento de um projeto de país a partir da representatividade.
Vinte e cinco vereadoras trans eleitas, incluindo Erika Hilton, que conquistou mais de 50 mil votos e, aos 27 anos, tornou-se a mulher mais votada entre os eleitos para a Câmara de Vereadores da capital paulista, a maior cidade do país – um aumento de mais de 200% na comparação com as eleições de 2016, de acordo com dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).
Destaque-se também o fenômeno dos mandatos coletivos, a maioria liderada por mulheres. Nos últimos oito anos, o número de candidaturas coletivas no Brasil saltou de três para 257. Destas, pelo menos 20 foram eleitas no pleito municipal de 2020 – não há um cálculo oficial do Tribunal Superior Eleitoral, já que a modalidade não é reconhecida oficialmente.
Apesar dos espaços de poder ainda estarem, majoritariamente, nas mãos de homens maduros, ricos, brancos e heterossexuais, as eleições municipais, históricas, tiraram todo mundo da zona de conforto.
Em diferentes partes do país, indígenas e quilombolas também conquistaram vitórias sem precedentes.
Segundo a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), 58 quilombolas foram eleitos em diversos estados do Brasil para cargos de vereador. Entre eles, Vilmar Kalunga, eleito prefeito de Cavalcante (GO), município que abriga a maior área quilombola do país, o Território Kalunga, e Nivaldo Araújo, eleito vice-prefeito de Alcântara (MA).
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) conta 159 candidaturas vitoriosas de 47 povos indígenas – cargos nos poderes Executivo e Legislativo de 81 cidades de 21 estados, em todas as regiões do país, na que foi a maior participação indígena nas urnas de todos os tempos, com 2.177 candidatos nos 5.568 municípios brasileiros.
Pequenas grandes verdades das históricas eleições de 2020…
“Eu posso sim ocupar espaços de poder com meu corpo. Minha voz pode ecoar em qualquer espaço.”
• Candidatas mulheres, negras e transexuais eleitas vereadoras por todo o país em proporção inédita!
• Legislativo, seu nome, agora, é diversidade. Pautas identitárias ganharam as urnas.
• Nas eleições 2020, 165 candidatos se apresentaram com nomes sociais e o resultado nas urnas subiu de 8, em 2016, para 26, em 2020.
• O número de pessoas trans eleitas – 25 mulheres e um homem em 16 partidos de esquerda, 8 em partidos de centro e 2 em partidos de direita.
• 78 pessoas LGBTI+ foram eleitas em cidades de todo país.
• Aumento de 3% no número de prefeitos negros, de 2016 para 2020. Agora 32% das prefeituras do Brasil são pretas.
• O percentual de vereadores negros no Brasil, em 2020, passou de 42,1% para 44,7%.
Em todas as regiões do Brasil, alguma coisa mudou…
• No Pará, Bia Caminha é a mais jovem eleita da capital, Belém.
• As capitais de Mato Grosso e do Espírito Santo, elegeram suas primeiras vereadoras negras – Edna Sampaio, por Cuiabá, e Camila Valadão, por Vitória.
• Jô Oliveira é a primeira em Campina Grande, capital da Paraíba.
• Em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, passou de um para onze o número de vereadores negros! E, ainda, elegeu sua primeira vereadora trans, Duda Salabert (PDT), recordista em votos.
• Em São Paulo, a mulher mais votada da capital paulista é a ativista dos Direitos Humanos Erika Hilton, “mulher preta e trans (…) Feminista, antirracista, LGBT e do PSOL. A primeira da história! Com mais de 50 mil votos”, como escreveu em suas redes sociais. E no Litoral paulista, Débora Camilo é a primeira vereadora do PSOL de Santos, a quarta mais votada da cidade.
• Rio de Janeiro registra a vitória inédita, em Niterói, da eleição da ativista trans Benny Briolly (PSOL).• Negros dos três estados do Sul do Brasil também derrubam barreiras: mais de oito mil votos tornaram a professora Carol Dartora a primeira negra a eleger-se para um cargo público em mais de 300 anos de Curitiba, capital do Paraná. Joinville, em Santa Catarina, elegeu a primeira vereadora da sua história, a professora Ana Lucia Martins, e o Rio Grande do Sul elegeu cinco vereadoras na capital Porto Alegre e a primeira mulher trans negra, Lina Roballo, da cidade de São Borja.
As Américas enegreceram as urnas
Eleições fazem parte do processo de resgate de poder, de ocupação de espaços. E as Américas enegreceram as urnas neste novembro de 2020.
Lá no Norte, conquistamos, pela primeira vez, a Vice-Presidência dos Estados Unidos com Kamala Harris. Aqui, no Sul, as Eleições 2020 serão lembradas, para sempre, como pretamente históricas!
A revolução começa Preta e Trans
É o título da coluna de Thiago Amparo, na edição da Folha de S. Paulo de 17 de novembro de 2020. Ele escreveu: “A esquerda está viva nos corpos pretos e trans que elegeu”.
De quem são esses corpos?
De Erika Hilton e a co-vereadora Carolina Iara, eleitas por São Paulo; Duda Salabert, recordista de votos por Belo Horizonte (MG); da ativista Benny Briolly, por Niterói (RJ), de Linda Brasil, por Aracaju (SE), entre outras.
Ao todo, foram 25 candidaturas trans eleitas em 2020, de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais, 25 possibilidades de um olhar humanizado para pessoas trans e negras. E Thiago escreveu: “O que para os outros é identidade para nós é existência”.
“Negras quebraram o teto de vidro em Curitiba”, destaca, ainda, Thiago em sua coluna, em referência à eleição da professora Carol Dartora, pelo PT, que, com mais de oito mil votos, tornou-se a primeira negra a se eleger para um cargo público em mais de 300 anos de existência da capital paranaense.
E nós lembramos: a viúva da negra Marielle Franco, Monica Benício, que se elegeu no Rio, junto com as potências negras de Tainá de Paula e Thais Ferreira, respondendo com o poder do voto à bala que matou a vereadora em seu primeiro ano de mandato.
É verdade que São Paulo reelegeu Fernando Holiday – um negacionista de sua própria existência negra. Mas falaremos mais alto com o mandato coletivo de Elaine, do Quilombo Periférico, Luana Alves, entre outros vereadores antirracistas na mesma Câmara Municipal.
Os desafios permanecem
As Eleições 2020 entram para a história porque, pela primeira vez, as candidatutras pretas superaram as brancas em número – 50% contra 48% – e, pela lei, se conquistou o direito à cota racial na verba destinada ao financiamento público das campanhas e partidos políticos e na utilização do tempo de rádio e televisão.
• A sub-representação continua
Mas ler o abre sobre os desafios não resume a história inteira. O número de vereadores negros que vão ocupar vagas nas Câmaras Municipais do país oscilou muito pouco com relação ao pleito de 2016. Há quatro anos, 42,1% dos eleitos se declararam negros; agora, são 44,7% dos mais de 58 mil eleitos.
Pela primeira vez desde que o TSE passou a coletar informações de raça, em 2014, os candidatos brancos não representaram a maioria dos concorrentes às vagas eletivas (48%). Mas os brancos continuam sendo maioria entre os eleitos, quase 54% dos político. A proporção diminuiu em relação a 2016, quando 57,1% dos eleitos eram brancos.
E o quadro fica ainda pior quando se olha para os eleitos para o cargo de prefeito: 67% brancos e 32,1% negros.
Somos 56,2% os negros do Brasil.
• O dinheiro se mantém em mãos brancas
Desde 2015 o financiamento público é a principal fonte de receita das campanhas políticas. Neste ano de 2020, o Fundo Eleitoral reservou R$ 2,035 bilhões para os partidos destinarem aos candidatos. Mas na distribuição da verba eleitoral não se cumpriu a lei: homens brancos ficaram com 73% do dinheiro.
• Brasil racista
A primeira vereadora negra eleita por Joinville (SC), na mesma semana em que conquistou seu mandato, foi alvo de ataques racistas nas redes sociais. Por meio de um perfil falso, pessoas que se dizem membros de da “juventude hitlerista” publicaram mensagens de ódio e com ameaças de morte.
• Estados brancos
Vinte e dois dos 26 estados do Brasil terão, a partir de 2021, Câmaras Municipais mais brancas e menos negras que os habitantes locais. A maior diferença é o Rio de Janeiro: quase 66% dos vereadores eleitos nas cidades do estado são brancos, representando 45,4% da população.
Os destaques são as Câmaras dos estados do Rio Grande do Sul (93,5% dos vereadores eleitos) e de Santa Catarina (93%), que têm, respectivamente, 79% e 80,2% de população branca.
Os estados que têm menor proporção de vereadores brancos são Acre, Amapá, Roraima e Sergipe. A diferença mais acentuada é no estado de Roraima, que elegeu 13,4% vereadores brancos e a população da mesma cor é 19,9%.
• Curtas tristes
• Das 100 candidaturas que se declararam negras e disputaram a eleição à Prefeitura de 25 capitais brasileiras, apenas seis venceram no primeiro turno e 14 chegaram ao segundo turno.
• Fernando Holiday, o vereador negacionista da sua própria condição social, foi reeleito para mais quatro anos na Câmara Municipal de São Paulo.
• Salvador (BA), a cidade mais preta do país, elegeu um branco, no primeiro turno! E tinha sete candidaturas negras! Um negro nunca conseguiu assumir o poder municipal na cidade!
• No Rio de Janeiro, as duas mulheres pretas candidatas ao Executivo perderam. No segundo turno, os eleitores vão escolher entre dois homens brancos.
• O perfil do político brasileiro é: homem, branco, com ensino superior. E o perfil do brasileiro é: mulher, preta, com ensino fundamental.
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