- Categoria: África, Espiritualidade, Movimento Negro
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Etiópia, a África não colonizada
- Artigo por Beth Brusco e Tania Regina Pinto
Tropas etíopes deixando Addis Ababa, capital do país, antes de derrotarem os invasores italianos na Batalha de Adua, durante a guerra de 1896. (Imagem: Hulton Archive/Getty Images/Thought Co)
Etiópia, a África não colonizada. A terra onde surge o ser humano para ser livre.
O que este artigo responde:
Quais países da África não foram colonizados?
A Libéria é um país colonizado?
Onde surge o primeiro ser humano?
Os Estados Unidos colonizaram algum país africano?
Qual é o país cristão mais antigo do mundo?
Como a Etiópia impediu a colonização europeia?
Qual a importância de Taitu, esposa de Menelik II?
Quem foi Haile Selassie?
Existem santas africanas?
Quem foi Menelik II?
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Por Beth Brusco e Tania Regina Pinto
Terceiro continente mais extenso do mundo e o mais massacrado pela colonização europeia, a África foi vítima de atos ultrajantes, humilhantes, desumanos, irreparáveis, contra seus povos, no século XIX.
Apenas Etiópia e Libéria – dos atuais 55 países do continente – não estiveram sob o jugo da Europa.
Após a ocupação do Egito pelos ingleses em 1887, só Etiópia conseguiu resistir à Partilha da África perpetrada pelas grandes potências europeias, para explorar matéria-prima e criar novos mercados consumo.
Tal partilha, infame, acontece entre novembro de 1884 e fevereiro de 1885, na Conferência de Berlim, capital da Alemanha.
A Libéria, o outro país africano que não caiu nas garras europeias, surge da invasão de território africano por norte-americanos que queriam, literalmente, se livrar dos negros e garantir a “pureza” (?!) da raça branca. Não houve guerra ou disputa.
Etiópia livre
Com cerca de 80 grupos linguísticos e mais de cem milhões de habitantes, a Etiópia é o segundo país mais populoso da África.
É na Etiópia que surge o ser humano há cerca de 200 mil anos, às margens do rio Nilo. E é lá que se concentra a maioria dos locais considerados Patrimônio da Humanidade pela Unesco, a agência das Organizações Unidas para Educação, Ciência e Cultura.
A Etiópia é o país cristão mais antigo do mundo! Não se confunda “cristão” com cristianismo, catolicismo, pentecostalismo e outros “ismos”.
A Bíblia, no livro Atos dos Apóstolos descreve, logo após a morte de Jesus, o batismo de um etíope pelo apóstolo Felipe. Tem também a história da princesa Ifigenia da Etiópia, tornada a primeira santa cristã no século I.
Antes da Era Comum
A relação da Etiópia com a cultura hebraica começa antes de Cristo, com a visita de Makeda, a rainha de Sabá – reino mais poderoso da Arábia Feliz -, ao rei Salomão, de Israel.
Salomão e Makeda vivem uma história de amor. E, desse amor, nasce Menelik I, primeiro imperador etíope hebreu.
Menelik I cresce na terra da mãe – que envolvia partes dos territórios atuais da Etiópia – e conhece a terra do pai aos 22 anos. Salomão vê em seu filho a imagem do próprio pai, o rei Davi, e o coroa como Rei Davi da Etiópia, por volta de 950 antes da Era Comum.
Toda esta história tem protagonismo negro. Fala da vida de gente preta.
A cegueira do poder
A Etiópia era o único território mais ou menos organizado ao sul do deserto do Saara, não muito pobre. A Itália, prepotente, subestimou o país ao tentar colonizá-lo e fracassou.
Ao seguir os passos dos vizinhos – França, Espanha, Portugal, Inglaterra, Holanda, Bélgica e Alemanha –, a Itália não considerou sua condição de país recém-unificado, o mais subdesenvolvido da Europa Ocidental.
Tamanha confiança italiana veio após a conquista da Eritreia, em 1882, pequeno território às margens do Mar Vermelho, pela vantagem de estar na rota marítima que ligava as Índias à Europa, através do Canal de Suez, e a aquisição da Somália, com a ajuda do sultão de Zanzibar, em 1887.
Mas a ousada tentativa de dominar a Etiópia acontece, também, porque a Itália está interessada no planalto fértil da região que cerca os países semi desérticos já conquistados.
No caminho, Menelik II
Atacar pela Eritreia – no nordeste de África, na costa do Mar Vermelho, fronteira com a Etiópia, o Sudão e o Djibouti, já dominada pelos italianos – fazia parte do plano. O que os invasores não sabiam é que havia um líder no meio do caminho, um líder nem sempre diplomático, o imperador etíope Menelik II, herdeiro dos príncipes de Choa, monarquia autônoma dentro da Etiópia, descendente do rei Salomão com a rainha de Sabá.
Menelik II chega ao poder na Etiópia livre em 1889, o país está isolado, rodeado pelos colonizadores. Ele percebe as consequências do neocolonialismo branco na Eritreia e na Somália, países vizinhos, as ameaças e as oportunidades no poder técnico, científico e militar branco e dedica-se a adequar a nação aos desafios daqueles tempos, sem perder de vista a identidade nacional.
Assim, fortalece a Igreja Ortodoxa, funda o primeiro banco do país, investe em estrutura urbana, em eletricidade; constrói ferrovias, estradas, escolas; instala telefones, telégrafos, serviço postal, e defende os oprimidos e carentes.
Um terço da população morre na grande fome entre 1888 e 1892, exatamente no período em que os italianos controlam o porto no Mar Vermelho. Por isso, Menelik II tenta negociar via diplomacia.
Só que a resposta, nada diplomática, é uma “cilada linguística”, à qual ele reage com a guerra, impondo a primeira derrota aos europeus.
Mas a ousada tentativa de dominar a Etiópia acontece, também, porque a Itália está interessada no planalto fértil da região que cerca os países semi desérticos já conquistados.
No caminho, Menelik II
Atacar pela Eritreia – no nordeste de África, na costa do Mar Vermelho, fronteira com a Etiópia, o Sudão e o Djibouti, já dominada pelos italianos – fazia parte do plano. O que os invasores não sabiam é que havia um líder no meio do caminho, um líder nem sempre diplomático, o imperador etíope Menelik II, herdeiro dos príncipes de Choa, monarquia autônoma dentro da Etiópia, descendente do rei Salomão com a rainha de Sabá.
Menelik II chega ao poder na Etiópia livre em 1889, o país está isolado, rodeado pelos colonizadores. Ele percebe as consequências do neocolonialismo branco na Eritreia e na Somália, países vizinhos, as ameaças e as oportunidades no poder técnico, científico e militar branco e dedica-se a adequar a nação aos desafios daqueles tempos, sem perder de vista a identidade nacional.
Assim, fortalece a Igreja Ortodoxa, funda o primeiro banco do país, investe em estrutura urbana, em eletricidade; constrói ferrovias, estradas, escolas; instala telefones, telégrafos, serviço postal, e defende os oprimidos e carentes.
Um terço da população morre na grande fome entre 1888 e 1892, exatamente no período em que os italianos controlam o porto no Mar Vermelho. Por isso, Menelik II tenta negociar via diplomacia.
Só que a resposta, nada diplomática, é uma “cilada linguística”, à qual ele reage com a guerra, impondo a primeira derrota aos europeus.
O “mal-entendido”
No mesmo ano que chega ao poder, 1889, no dia 2 de maio, Menelik II e o conde Pietro Antonelli assinam o Tratado de Wuchale, no qual o imperador da Etiópia cede províncias que, anteriormente, pertenciam ao seu país para a Eritreia, então sob colonização italiana. Em troca, o país europeu reconhece a soberania etíope, garante ajuda financeira e suprimentos militares.
Duas versões do acordo são firmadas – uma em italiano e outra em amárico, língua etíope – e a divergência no artigo 17 dá origem ao conflito.
Taitu, terceira esposa de Menelik II, contra a ocidentalização do país, garante que a versão em amárico não transmita a impressão da submissão etíope que havia na versão em italiano.
A versão italiana transformava o reino etíope em um protetorado italiano. Escreveram que a Etiópia estaria obrigada a tratar seus assuntos de política exterior e relações com outras nações estrangeiras, por meio das autoridades italianas.
Já na versão etíope havia apenas a recomendação de consulta ao governo italiano em assuntos que envolvessem outras nações europeias.
O fato é que o embate, mais que linguístico, veio à tona quando Menelik II, que apenas assinara a versão amárica do texto, após ter-lhe sido assegurado de que não havia diferença entre as duas escritas, entrou em contato com a Rainha Vitória do Reino Unido e o Imperador Guilherme II da Alemanha e ambos o responderam que, em virtude do artigo 17 do tratado, a Etiópia apenas poderia contatá-los através da diplomacia italiana.
I-na-cei-tá-vel!
A guerra
1º de março de 1896 – Cem mil etíopes, liderados pelo imperador, se amotinam e surpreendem os italianos. Taitu marcha junto com o imperador e o exército, comandando a tropa de artilharia. É decretada a Primeira Guerra Ítalo-Etíope, a Batalha de Adawa.
Fortemente armados, os etíopes esmagam o exército italiano de 18 mil pessoas – seis mil europeus morrem, 1500 ficam feridos e 1.800 são feitos prisioneiros. A Itália é humilhada.
Os impérios inglês – que ajudou com armas – e francês reconhecem a soberania da Etiópia e as fronteiras com a Eritreia são demarcadas.
Taitu e Selassie
Quando Menelik adoece em 1909 – ele reina até 1913 e é responsável pela consolidação do império etíope -, Taitu, que participa ativamente das decisões políticas nacionais, passa a governar na prática e batiza a nova capital de Addis Abeba (nova flor).
Nos anos seguintes, Haile Selassie desponta como continuador das obras de Menelik II – com 10 anos de idade, cobra do pai que a Etiópia se torne Estado-membro da Liga das Nações.
O projeto modernizador de Selassie sofre interrupção entre 1936 e 1941, quando da Segunda Guerra Mundial com os italianos e a ocupação e resistência da Etiópia, mas, para ele, a educação sempre foi imprescindível à emancipação dos povos negros.
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Fontes: Vermelho, DW, Uol, Exame, Opera Mundi, Diplomacia Bussiness, National Geographic, Guia do Estudante, YouTube, Opera Mundi – etiopes, Geledes, Politize, Bantu Men,: Revista de Pesquisa Fapesp, livro Rastafari, de André Duarte P de Albuquerque
*Atualizado em março de 2024
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