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Francisco de Paula Brito, primeiro grande editor do Brasil

Primeiro empresário negro, numa época em que livros eram considerados “coisa diabólica”, transforma a leitura em caminho para a libertação.

Francisco de Paula Brito é o nome de um grande empreendedor que se transformou em precursor da imprensa e do mercado literário no país e o editor preferido da elite carioca. Sem ele a imprensa e a literatura brasileira não seriam as mesmas.

Ele nasce no Rio de Janeiro em 2 de dezembro de 1809, filho do carpinteiro Jacinto Antunes Duarte e de Maria Joaquina Conceição Brito. Desde muito cedo, enfrenta as dificuldades peculiares da população pobre: abandona os estudos para se tornar um ‘operário das tintas’ tendo executado trabalho como aprendiz na Tipografia Nacional. Seu senso de mercado e de oportunidades, entretanto, compensa sua deficiência escolar.

Tipógrafo

Em 1827, o Jornal do Commércio o contrata como compositor gráfico. Quatro anos depois, após o período de experiência como aprendiz na Tipografia Nacional, de empregado passou a ser o próprio patrão, dono de uma loja de encadernação,  a Tipografia Fluminense de Brito & Cia, ponto de encontro de intelectuais e políticos.

Por este feito, o jornalista Oswaldo de Camargo destaca Paula Brito como o “iniciador do movimento editorial no Brasil” – diríamos, hoje, um empreendedor à frente do seu tempo

Em suas gráficas, além de rodar jornais e pasquins, Brito promove discussões literárias, das quais participam escritores como Machado de Assis, Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Joaquim Manuel de Macedo e Manuel Antônio de Almeida, e o compositor Francisco Manuel da Silva, autor da música do Hino Nacional Brasileiro, entre outros.

Era a Sociedade Petalógica, um clube literário que promovia, além da discussões políticas, encontros entre poetas e músicos em saraus regados a Lundus e Modinhas.

A palavra “Petalógica” vinha de peta, mentira, mas, naqueles dias românticos supunham-na derivada de “pétala” os não iniciados que dela ouviam falar. 

Frentes de luta

Como tipógrafo, nosso pioneiro atua nos bastidores da produção literária e jornalística brasileira e, como ‘operário das letras’  escreve artigos jornalísticos, desenvolve gêneros literários e levanta suas bandeiras.

Visionário, em 1832, redige e publica “A Mulher do Simplicio” ou “A Fluminense Exaltada”, ornal que,  de forma pioneira, busca atrair o público feminino.

No periódico A Marmota (1849-1864), o editor, embora saliente que o jornal é voltado ao  entretenimento e diversão, expressa de maneira mais solta e contundente sua relação com a sociedade em que vivia, seus costumes, religião, comércio e as relações morais e éticas.

Em setembro de 1833, lança o periódico “O Homem de Cor”,  ba luta por igualdade de oportunidades e o direito de todo cidadão brasileiro a ocupar cargos públicos civis e militares, sem distinção de raça.

O Homem de Cor” – que depois passou a ser chamado “O Mulato ou o Homem de Cor “– circulou por apenas dois meses e meio, até 4 de novembro de 1833 e marca o início da Imprensa Negra no Brasil.

Embora não pertencesse ao Movimento Abolicionista, Paulo Brito ressalta sua posição contrária à escravidão. Defensor da igualdade racial e da garantia dos direitos civis, o editor, através de versos e prosas, usa seus pasquins para mostrar o descontentamento com os ideais políticos que estavam surgindo no mundo e para inserir no debate a questão racial e torná-la pública.

O livro e os leitores

Com a sua loja no largo do Rocio, Francisco de Paula Brito contribui para a expansão comercial do livro – antes estigmatizado como ‘coisa diabólica’.

Suas ações comerciais e literárias romperam com a clandestinidade que marcava o universo livresco no país, em consequência dos séculos de passado colonial marcados pela censura à atividade impressa, só permitida a partir de 1808.

De atividade perigosa, a leitura ganha o status de produto de extrema necessidade. Brito acreditava que “ler, aprender, eram atividades que continham, em si mesmas, como sempre, um sentido anticolonialista – representavam um esforço de libertação”. Da gráfica de Paula Brito foram impressos valiosos exemplares da cultura brasileira.

Francisco de Paula Brito é um dos precursores do conto brasileiro ao publicar, no Jornal do Comércio, “O Enjeitado” (28 e 29/03/1839), “A Mãe-Irmã” (10/04/1839) e “A Revolução Póstuma” (9/03/1839), que saíram sob o pseudônimo P.B.

Páginas publicadas

Obras de Antônio José ou o “Poeta e a Inquisição” (1839), de Gonçalves de Magalhães, são motes introdutórios para a criação de um teatro brasileiro. O dramaturgo Martins Pena também teve suas primeiras obras editadas por Paula Brito. Entre elas,  “O Juiz de Paz na Roça” (1838) e “A Festa e a Família na Roça”  (1840), na categoria comédia.

O poema “Ela” (1855), a tradução “Queda que as mulheres têm para os tolos” (1861) e a peça “Desencantos” (1861) são os primeiros trabalhos de Machado de Assis e que contam com o decisivo apoio de Paula Brito para as suas publicações.

Ao todo, como editor, Brito lança 372 publicações que serviram de porta vozes do movimento literário durante o período romântico, 214 obras de ficção, 100 dramas, 43 óperas, 47 traduções do italiano e do francês e 24 edições de autores brasileiros.  Dá início ao movimento editorial brasileiro e, por sua força de vontade para investir em autores nacionais, é admirado por Dom Pedro II, que se torna acionista da sua Tipografia Dois de Dezembro, inaugurada em 1850.

Brito por Machdo de Assis

Brito é o primeiro empresário negro do País e vive até 15 de dezembro de 1861. Após a sua morte, um grande amigo, Machado de Assis, escreve  uma crônica em sua homenagm, publicada em 24 de dezembro de 1861, em sua coluna no Diário do Rio de Janeiro

Machado de Assis elogia Paula Brito “pelas suas virtudes sociais e políticas, por sua inteligência e amor ao trabalho”, o que levou a alcançar com louvor “a estima geral”.  Ressalta a sua bondade, qualificando-o como homem raro.

Jornalista de inclinação liberal, na época, Machado reconhece o valor de sua militância política: “Tinha fé nas suas crenças políticas, acreditava sinceramente nos resultados da aplicação delas; tolerante, não fazia injustiça aos seus adversários; sincero, nunca transigiu com eles”. 

É admirável, salienta Machado, a opção de Paula Brito por se sobressair na “massa comum dos homens”. Ao invés de se projetar individualmente, buscando como causas a fortuna e o prestígio, o jornalista investia o que ganhava em ações generosas que promovessem o bem-estar cultural da Nação, a exemplo dos maquinários da tipografia, por onde foram impressas edições importantes para a Literatura Brasileira.

Por agir assim, adverte Machado, Paula Brito “morreu pobre como vivera”

Artífice das letras, criativo e inventivo valorizava a literatura e a arte como nenhum outro da sua época,  “rompe as barreiras da cor e da pobreza para entrar na história como o primeiro editor negro e o principal articulador do mercado editorial brasileiro“, como escreve a antropóloga, pesquisadora e produtora cultural Valéria Alves no artigo “Admirável Paula Brito: Um Homem à Frente de sua Época”, publicado no site O Menelick.


Fontes: Letras UFMG, O Menelick

Escrito em 30 de agosto de 2010

2 comentários em “Francisco de Paula Brito, primeiro grande editor do Brasil”

  1. Prezada Tânia,

    Parabéns pelo blog, muito interessante e útil. Apenas uma observação: a foto que aparece ao lado da charge do Francisco de Paula Brito não é dele e sim do Luiz Gama. Abraço.
    Flávio Carrança

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