Sufragista negra, jornalista, heroína social e política, a primeira a compilar e publicar dados estatísticos sobre o linchamento do povo negro. E, 71 anos antes de Rosa Parks, a se negar a ceder seu lugar a uma pessoa branca em transporte público.
O que este artigo responde: Quem foi Ida B. Wells-Barnett? QuaI foi o pioneneirismo de Ida B. Wells-Barnett ? Qual foi a profissão de da B. Wells-Barnett? Qual foi o papel de Ida B. Wells-Barnett na luta pela justiça racial? Quais foram as realizações mais importantes de Ida B. Wells-Barnett? Por que Ida B. Wells-Barnett é considerada uma pioneira? Qual é o legado de Ida B. Wells-Barnett?
Enquanto no Brasil, os negros ainda lutam para libertar-se dos grilhões, Ida B. Wells-Barnett, do outro lado da América, nos Estados Unidos, enfrenta – primeiro a mordidas e, depois, pela palavra – a discriminação racial e luta pelo direito ao voto econtra o linchamento de seus irmãos de raça, todos libertos.
Ida B. Wells nasce escravizada, como os pais, mas compromissada com a luta pela liberdade de existir. Apesar de não ser tão conhecida como alguns de seus contemporâneos, é uma pioneira de seu tempo.
Nossa pioneira nasce em Holly Springs, Mississippi, em 16 de julho de 1862. É a oitava dos doze filhos do casal Elizabeth Izzy Bell Warrenton e James Wells E cerca de seis meses depois toda a família Wells “conquista” a liberdade por decreto do governo federal, com a Proclamação de Emancipação.
O problema é que eles viviam em um dos estados confederados dos EUA – no Mississippi. E ela cresce testemunhando maus tratos a negros, enfrentando preconceito e sentindo todas as restrições das regras e práticas discriminatórias do país. Mas não sem indignar-se.
Ativo no Partido Republicano e no movimento negro, seu pai, James, a inicia na Shaw University, uma escola para escravizados recém-libertos. Lá, Ida recebe sua escolarização precoce. Quando fica órfã, no entanto, tem de abandonar os estudos e, aos 16 anos, assume a responsabilidade sobre seus irmãos que sobreviveram ao surto de febre amarela.
Habilidosa, inteligente, consegue um emprego como professora. Libertária, não demora, perde o trabalho.
Primeiro confronto
Em maio de 1884, ainda com 21 anos (e 71 anos antes de Rosa Parks), Ida se recusa a ceder seu assento para um homem branco, quando está em um trem a caminho de Nashiville.
Em sua autobiografia, “Cruzada pela Justiça”, ela conta que argumentou com o condutor do trem, dizendo que estava no carro das senhoras e havia pago para ir em um carro de primeira classe – o que na época era proibido pela lei da segregação.
Mesmo assim, ele ordena que ela vá para o carro dos negros e tentau arrastá-la à força. Só que no momento em que ele segura seu braço, ela prende seus dentes na parte de trás da mão dele. Machucado, o condutor chama outro homem para ajudá-lo e os dois a jogam para fora do trem.
Ida não se dá por vencida: entra com uma ação na Justiça contra a empresa ferroviária, vence em primeira instância – 500 dólares como reparação, mas sua vitória é anulada pelo Supremo Tribunal Tennessee. Desta violência, contudo, surge a luz para sua carreira de escritora.
A força da palavra Ida começa a escrever e trata de vários temas, como o linchamento de negros e as péssimas condições de educação de seu povo. Tudo sem abandonar seu trabalho como professara em uma escola pública segregada em Memphis.
Sua posição crítica em relação à qualidade de ensino para os negros, no entanto, culmina na sua demissão em 1891, mas não no seu silêncio.
Demitida por suas ideias incendiárias – entre elas a de que negros eram seres humanos que possuíam direitos -, passa a dedicar-se integralmente ao jornalismo.
A vida educa Ida B. Wells. E ela de articulista passa a editora e co-proprietária de dois jornais da comunidade negra de Memphis, chamados The Free Speech e Headlight.
Linchamento negro
Ida B. Wells lidera uma cruzada antilinchamento nos Estados Unidos que chega à Casa Branca, no ano de 1898, quando ela lidera um protesto em Washington, pedindo ao presidente William McKinley para fazer reformas.
O movimento jornalístico de Ida B. Wells é considerado o pontapé do movimento antilinchamento nos EUA. Vários artigos criticam os linchamentos, nos quais amigos seus foram vítimas e, por pouco, ela também.
Antes de escrever seu relatório, Ida passou dois meses viajando pelo sul dos EUA, coletando informações. Enquanto isso, a redação do seu jornal era invadida e depredada. Para ela, o aviso: seria morta se voltasse Memphis.
Ela se muda para Chicago, onde escreve uma série de reportagens investigativas para o jornal New York Age, de propriedade de um ex-escravizado, T. Thomas Fortune.
“A History Series: Ida B. Wells Anti-Lynching Crusader“, livro de Edgar A. Toppin, cita Ida como “a primeira a compilar e publicar dados estatísticos sobre linchamento do povo negro nos Estados Unidos“.
De acordo com seu relatório Crusader Tells Story of Crime – apresentado em 1909, durante conferência realizada em Nova York -, um total de 3.284 homens, mulheres e crianças foram linchados entre 1882 e 1908, período em que a incidência do crime passou de 200 para 900 vítimas/ano.
Entre suas outras publicações que documentam a longa história de linchamento do sul dos Estados Unidos estão “Southern Horrors” (1892) e “A Red Record” (1894).
Direitos Civis
Como parte de seu trabalho por igualdade de direitos, Ida B. Wells luta pelo fim de práticas de contratação discriminatórias para cargos no governo e cria o primeiro jardim de infância afroamericano em sua comunidade.
Em relação aos direitos da mulher, sua atuação é igualmente corajosa e combativa. Trabalha pelo direito ao voto das americanas e enfrenta o movimento sufragista que se coloca contra o voto dos homens negros – as mulheres brancas afirmavam que não era justo que os homens negros votassem e as mulheres brancas e negras não.
Ida B. Wells cria várias organizações de direitos civis. Em 1896, forma a Associação Nacional de Mulheres de Cor. Depois de agressões brutais contra a comunidade afroamericana em Springfield, Illinois, em 1908, participa da primeira conferência para a fundação da Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor.
Em 1930, concorre a vaga no Senado por Illinois -o mesmo estado pelo qual Barack Obama, o primeiro presidente negro dos EUA, fez carreira política -, mas não ganha. Morre no ano seguinte, em 25 de março de 1931, de doença renal, com 69 anos, em Chicago. O Barnett de seu nome é de Ferdinand Barnett, com quem se casa e teve quatro filhos.
Fontes: Coletivo de Jornalistas Feministas Nísia Floresta, Afro, Biography, Remembering
Escrito em 31 de dezembro de 2015
Boa tarde, qual a data de publicação dessa matéria, não encontro na página.
Obrigada