Em 1916, na primeira edição da Copa América da história – então chamada Campeonato Sul-Americano de Futebol -, o Uruguai coloca em campo, pela primeira vez, jogadores negros para atuarem em um torneio internacional de seleções: Isabelino Gradín e Juan Delgado.
O campeonato fazia parte dos festejos do centenário da Declaração da Independência da Argentina, mas a celebração ficaria marcada para sempre pela presença dos pioneiros negros uruguaios.
No jogo de estreia, Isabelino Gradín marcou dois gols contra a equipe chilena e o placar final foi 4, para o Uruguai, e 0, para o Chile. Maus perdedores, os chilenos tentaram impugnar a partida, sob a alegação de que os rivais haviam escalado dois jogadores irregulares, tinham colocado africanos na equipe!!! Justamente Gradín e Delgado, os quais, ficou provado, eram uruguaios mesmo.
Isabelino Gradín nasceu em Montevidéu em 8 de julho de 1897, no Palermo, lendário bairro localizado na costa da capital e que abrigava grande parte da populacão afro-uruguaia. Juan Delgado nasceu na Flórida, no interior do Uruguai, e também foi criado em Palermo.
E a história dos dois ficou misturada e muitos momentos. Delgado é uma lenda do futebol uruguaio e do Peñarol – os cronistas esportivos da época diziam que ele enfeitiçava a bola. Bisneto de escravos, começou a jogar como atacante. Estreou no Central Park em 1912. Magro, flexível e inteligente ao extremo, com habilidades atléticas inatas, juntamente com a sua qualidade técnica, tornou-se uma das primeiras pérolas negras do futebol uruguaio com seu amigo Gradín.
Gradín que chegou ao Peñarol em 1915 e se consagrou como um dos primeiros ídolos negros e, para muitos, o primeiro na história do futebol, ao lado de seu companheiro de equipe, Delgado. Gradín jogou 24 partidas, entre 1915 e 1927, marcando 10 gols pela Celeste Olímpica.
A confirmação da nacionalidade uruguaia dos dois valeu um ponto a mais na luta contra o racismo. E, desfeito o mal-entendido, o Uruguai sagrou-se o primeiro campeão da América, e Grandín o primeiro artilheiro da competição, com três gols marcados.
Além do futebol
Velocista, Gradín, em 1919, na edição carioca do Campeonato Sul-Americano de Atletismo, além de ser destaque em sua equipe, o Club Olimpia, quebrou o recorde sul-americano dos 800 metros rasos, sendo cognominado de “O Terror das Pistas”. O Uruguai ainda seria o responsável pelo primeiro negro a pisar em um gramado europeu: José Leandro Andrade, apelidado de ‘Maravilha Negra’.
Vale saber que o Brasil só foi acostumar-se, timidamente, com a ideia de ter negros nos gramados nacionais a partir da década de 20. E arte futebolística de Gradín, segundo a imprensa especializada da época, teve tudo a ver com isso. Tal afirmativa está no livro “O Negro no Futebol Brasileiro”, do jornalista Mário Filho. Apesar da sua importância no futebol, Isabelino Gradín morreu em1944, pobre e com apenas 47 anos. Sobre Juan Delgado, faltam informações.
Fontes: ESPN, Wikipedia, Cartas Esféricas