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Maju Coutinho: inovação, referência, no tempo e na vida

Mais que “a menina mulher da pele preta” cantada por Jorge Benjor, bem mais que a primeira “garota do tempo” negra do país e na maior rede de televisão do país, Maria Julia Coutinho Portes é sinônimo de pioneirismo, inovação, representatividade, garra.

Maju Coutinho
Maria Júlia Coutinho. (Foto: Fabio Rocha/Marie Claire)

É fato que os holofotes – inclusive do site (quando era blog) – se voltaram para o seu pioneirismo meteorológico, mas ela chegou informando que ia além. Na época, inclusive, declarou que esta identificação a incomodava, pelo simples fato de estarmos vivendo o século XXI:

“É importante para a minha raça. Mostra que a gente está caminhando, mas só reforça o quão longo é esse caminho. Será bacana quando houver tantos negros no posto que não seja preciso destacar. Torço para que essa realidade mude”.

Não que sejam muitos os jornalistas na tela da TV, mas é inquestionável que, dia a dia, nos multiplicamos e Maria Júlia, em especial, potencializa este movimento.

Presença

Formada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, Maria Júlia transita nas várias possibilidades de atuação que a profissão oferece: é repórter, redatora, editora, radialista, apresentadora, comentarista política, âncora.

E não economiza na ocupação dos espaços: Jornal Nacional, Fantástico, Jornal Hoje, Papo de Política, Globonews em Pauta, CBN, Saia Justa, Papo de Almoço…

Maria Júlia, a Maju de todos nós, que quando aparece na tela da TV parece que está com a gente no sofá da sala, se faz presente em todas as bancadas. Incomoda e conforta. Sua presença diz para crianças, adolescentes, jovens, adultos de todas as idades que, sim, nós podemos.

Maju Coutinho e Maria Alice
Encontro entre Maju Coutinho e Maria Alice no estúdio do JH. (Foto: Acervo Pessoal/Maria Júlia Coutinho)

Em suas redes sociais, crianças se reconhecem na sua presença – como a pequena Maria Alice que viralizou, nas redes sociais, no vídeo em que diz que o cabelo de Maju é igual ao seu.

Maju Coutinho fala por nós no seu vestir, no cabelo que ostenta, na denúncia e na resistência explícita e ativa ao racismo – que não a poupa, como não poupa o povo negro, deliberadamente, invisível para a sociedade. E o melhor: propõe um caminho, o da educação, do conhecimento, da reflexão.

No tempo

Quando de seu pioneirismo no tempo, a jornalista fazia questão de desfazer o mito de que a sua ocupação se resumia a um rosto transmitindo informações climáticas aos telespectadores:

— Acordo às 2h30, para chegar às 3h45 na emissora. Pesquiso na internet os lugares onde choveu muito e converso com os meteorologistas que ficam na redação. Eles fazem a leitura das cartas meteorológicas, que são técnicas, e eu escrevo o meu texto traduzindo o que me falam.

Além disso, sento para conversar com o editor de imagens.

As pessoas não sabem que eu não sou uma bonequinha.

Em outras palavras, a “garota do tempo” exercia seu ofício de jornalista. Era editora, apresentadora, inclua-se, desenvolveu um modo pioneiro de noticiar informações meteorológicas, aumentou o número de telespectadores interessados no assunto – só para vê-la – e, agregou, uma proposta visual negra, com vestidos, conjuntos de saia e blusa sem mangas, calças largas, elegância, leveza e cores fortes.

Maju Coutinho JH
Maju apresentando o JH. (Foto: Reprodução)

“Gosto de cores fortes. Como repórter de rua, usava camisas, malhas e casacos coloridos. Sempre com muito cuidado, pois cores fortes exigem prudência. As combinações não podem agredir o telespectador. Mas cor é a minha marca, tenho pele negra. Agora que estou no estúdio, os vestidos passaram a fazer parte do meu visual. E eles também combinam com meu estilo pessoal. Aliás, é fundamental as peças se assemelharem ao meu estilo, pois isso me dá segurança e me deixa tranquila para fazer o mais importante: informar bem a população.”


Para completar, a figurinista Maria Saldanha percebeu um ponto forte no corpo de Maria Julia, os braços mais torneados, e perguntou se ela topava seguir a linha vestidos e blusas sem mangas. Ela adorou.

A paulistana, na época com 35 anos, conta que os tais braços torneados são herança de família. “Meu pai também tem os braços assim.” Além disso, ela pratica ioga e outras atividades físicas.

A jornada

Maju começou como estagiária da Fundação Padre Anchieta, onde passou por vários cargos até chegar a repórter. Em 2005, apresentou o Jornal da Cultura, ao lado de Heródoto Barbeiro. Depois, foi transferida para o telejornal Cultura Meio-Dia.

Em 2007, chegou à Globo. E, antes de assumir as informações meteorológicas em rede nacional, foi repórter de rua para o SPTV, jornal local.

De 2013 a 2017, se manteve no posto, inédito para uma negra, na meteorologia – primeiro apresentando eventualmente as previsões climáticas do Jornal Hoje, do Jornal Nacional, do Hora Um e do Bom Dia Brasil.

Em abril de 2015, seu pioneirismo se consolida com apresentações ao vivo da previsão do tempo do Jornal Nacional. 

Mas outro desafio lhe é apresentado: ela passa a fazer parte do rodízio de apresentadores do SPTV. Desafio acompanhado de estímulo, ao ser eleita, pela equipe do jornal O Globo , a personalidade do ano na categoria Segundo Caderno/+TV, de 2016, e recebe o prêmio Faz Diferença.

Maju Coutinho
Foto: Divulgação/TV Globo

Em 16 de fevereiro de 2019, Maju conquista outro pioneirismo: torna-se a primeira mulher negra a fazer parte de forma fixa do corpo jornalístico do Jornal Nacional – vale enfatizar: a primeira em 50 anos de Jornal Nacional!

Repito a fala de Maju, quando de sua primeira conquista pioneira, isso “só reforça o quão longo é esse caminho”.

Em junho de 2019, ela é anunciada como apresentadora eventual do Fantástico e a sua estreia no programa das noites de domingo acontece em 4 de agosto do mesmo ano.

A despedida da previsão do tempo aconteceu em 30 de setembro de 2019 para que ela assumisse, definitivamente, a bancada do JH, antigo Jornal Hoje, como âncora.

Maria Júlia nasceu em São Paulo, dia 10 de agosto de 1978. É filha de João Raimundo Coutinho e Zilma Coutinho. É casada com o publicitário Agostinho Paulo Moura. Eles escolheram não ter filhos.

Leia também as histórias de Edward Enninful, Luciana Camargo e Rodrigo Cabral. Jornalistas negros e pioneiros!

Fontes: O Globo, Wikipédia, Uol

Escrito em 16 de outubro de 2020

1 comentário em “Maju Coutinho: inovação, referência, no tempo e na vida”

  1. Pingback: Luciana Camargo e Rodrigo Cabral, primeiro casal de apresentadores negros em telejornal no Brasil

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