Há pouco mais de 50 anos não havia mais escravidão no Brasil, fazia 8 anos se celebrava a conquista do direito ao voto feminino e uma mulher negra decide querer mais, muito mais. Tanto luta que o que muitos classificavam como “delírio” torna-se realidade.
Enedina Alves Marques nasce no início do século passado, em 5 de janeiro de 1913, em Curitiba, Paraná. Filha de Paulo Marques e Virgília Alves Marques, um casal de negros provenientes do êxodo rural após a abolição da escravatura em 1888. Integra uma família com mais cinco irmãos, que chegou em Curitiba em busca de melhores condições de vida.
Vence todas as barreiras – gênero, classe e raça -, faz de tudo um pouco para tornar real o sonho de chegar à universidade e formar-se engenheira civil, a primeira do Paraná, a primeira do Brasil!.
A aluna
Enedina cresce na casa do major Domingos Nascimento Sobrinho. Ajuda a mãe nas tarefas domésticas na casa do militar e intelectual republicano em troca de instrução educacional.
Aos 12 anos, é alfabetizada e, em 1926, ingressa no Instituto de Educação do Paraná – sempre trabalhando como doméstica e babá em casas da elite curitibana para custear seus estudos.
Recebe seu diploma de professora em 1932 e, nos três anos seguintes, leciona em escolas públicas no interior do Paraná, enquanto faz planos para cursar a universidade de engenharia civil.
E assim se passam nove anos.
Ultrapassada a barreira do vestibular em 1940, Enedina tem de enfrentar o preconceito de alunos e professores do curso de Engenharia – todos homens e brancos. E os enfrenta com inteligência, determinação e carisma. E os supera, conquistando um a um, dentro e fora do campus.
Depoimentos recordam que suas noites eram todas de estudo e cópia dos textos de livros que não podia comprar, até formar-se em 1945, aos 32 anos.
Como engenheira
No início da carreira, Enedina trabalha como engenheira fiscal de obras da Secretaria de Viação e Obras Públicas do Estado do Paraná.
Depois, assume a chefia de hidráulica, da divisão de estatísticas e do serviço de engenharia da Secretaria de Educação e Cultura; atua no levantamento topográfico da Usina Capivari Cachoeira; contribui no levantamento de rios, na construção de pontes e da Usina Parigot de Souza.
Contam que, apesar de ser vaidosa, durante a obra na Usina Parigot, Enedina fica conhecida por usar macacão e portar uma arma na cintura, que usava, atirando para o alto, sempre que julgava necessário se fazer respeitada.
Enérgica e rigorosa, impunha-se sempre, pois além de ser mulher era negra, trabalhava em um ambiente majoritariamente ocupado por homens.
Depois de construir uma carreira sólida, nossa primeira engenheira – reconhecida como grande – viaja pelo mundo. Nesse mesmo período, em 1958, o major Domingos Nascimento morre, deixando-a como uma de suas beneficiárias no testamento.
Enedina se aposenta em 1962.
Os anos 1940
O pioneirismo de Enedina Alves Marques nos anos 1940 – quando a abolição da escravatura, de 1888, e o direito ao voto feminino, de 1932, ainda eram debatidos -, mais que história, é incentivo, força ancestral, exemplo de resistência, de luta por um país mais justo, igualitário e menos racista.
Quando Enedina tornou-se engenheira civil, o papel destinado às mulheres era, principalmente, o de dona de casa. No mercado de trabalho, as opções limitavam-se à sala de aula, como professora, e aos empregos em fábricas, com salários abaixo dos salários masculinos.
Enedina não aceitou o que ofereciam: não se casou, não teve filhos, não foi para as fábricas..
Ao final de sua vida, morava no Edifício Lido, no Centro de Curitiba, onde foi encontrada morta aos 68 anos, vítima de ataque cardíaco.
Homenagem
Ela está imortalizada ao lado de outras 53 pioneiras do Paraná no Memorial à Mulher, em Curitiba, criado em homenagem a todas que lutaram pela melhoria da qualidade de vida de seus descendentes.
A engenheira empresta seu nome, ainda, ao Instituto de Mulheres Negras de Maringá, fundado em 2006 e empenhado em combater a invisibilidade racial que atinge negras e negros em diversos setores, como o ambiente escolar, o mercado de trabalho e as demais esferas sociais.
Leia também a história dos irmãos Rebouças, pioneiros, visionários e empreendedores negros.
Fontes:
Conheça a história de Enedina Marques, primeira engenheira negra do Brasil – INBEC
Comunidade Afro em Ação
Enedina Marques, a primeira engenheira negra do Brasil – Hypeness
Com relação os negras brasileira eles tem Boss atualizações em vários cetor e sdimiravel