Primeira reitora negra em universidade federal do país, tem trajetória marcada pela atuação, pedagógica e política, nas questões raciais.
A educadora mineira Nilma Lino Gomes, desde abril de 2013, é a primeira reitora negra a comandar uma universidade federal no Brasil, a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – Unilab, no Ceará.
Diferente das outras universidades federais, a Unilab faz parte de um projeto de integração entre o Brasil e os demais países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, especialmente as nações africanas.
Nilma Lino Gomes é pedagoga, mestre em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais -UFMG, com a dissertação intitulada “A trajetória escolar de professoras negras e a sua incidência na construção da identidade racial – um estudo de caso em uma escola municipal de Belo Horizonte“.
Na sequência, concluiu o doutorado em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo, sob orientação de Kabengele Munanga – primeiro antropólogo da República Democrática do Congo -, com a tese “Corpo e cabelo como ícones de construção da beleza e da identidade negra nos salões étnicos de Belo Horizonte”.
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Entre 2004 e 2006, presidiu a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros. Em seguida, mudou-se para Portugal, onde fez o pós doutorado em Sociologia pela Universidade de Coimbra que gerou, como um dos frutos, o livro “O Movimento Negro Educador: saberes construídos na luta por emancipação”.
Profissional negra, atua nas questões raciais pedagógica e politicamente. A ênfase de seu trabalho é a Educação e a Antropologia Urbana, o que inclui organização escolar, formação de professores para a diversidade étnico-racial, movimentos sociais e educação, relações raciais, diversidade cultural e gênero.
Nilma e Lobato
Em seu currículo, ainda, a coordenação do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Étnico-Raciais e Ações Afirmativas da UFMG e integrou a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, onde participou da comissão técnica nacional de diversidade para assuntos relacionados à educação dos afro-brasileiros.
Como conselheira emitiu parecer sobre o livro Caçadas de Pedrinho, de autoria de Monteiro Lobato. Em seu parecer evidenciou o conteúdo era estereotipado em relação aos sujeitos negros e ao universo africano, de uma maneira geral, e propôs que a obra não fosse usada como dispositivo naturalizador do racismo no Brasil.
Literatura libertária
Como escritora – outra de suas vertentes profissionais -, Nilma Lino escreve sobre a trajetórias dos negros e destaca sua infância numa narrativa que pensa no caráter libertador da literatura para todos os leitores.
“Meus livros exploram, de forma literária, a beleza, a força e a garra dos negros e negras brasileiros. São um exercício de reconhecimento e esperança.”
Entre eles, destaque para dois infantis: Betina, sua estreia em 2009, e O Menino Coração de Tambor, de 2013.
No “Betina”, ela traz a história de vida da cabeleireira Betina Borges e uma lição sobre mãos habilidosas, valores ancestrais e cabelos entrelaçados que aproximam cabeças que, juntas, pensam melhor.
O Menino Coração de Tambor é uma homenagem ao professor de dança afro-brasileira, bailarino e coreógrafo Evandro Passos, cujo coração batia no compasso dos mais variados ritmos desde que estava na barriga de sua mãe.
Para o público adulto, uma sugestão de leitura é o trabalho de Nilma Lino Gomes na Coleção Cultura Negra e Identidades, Educação e Raça: Perspectivas Políticas, Pedagógicas e Estéticas, ”, um livro que mapeia as relações étnico-raciais na educação.
Ministra
Nilma Lino ficou reitora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira nos aos de 2013 e 2014 e deixou essa função para ser ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos, durante os anos de 2015 e 2016.
Atualmente, atua como professora titular emérita da Faculdade de Educação da UFMG, mantendo como áreas de investigação: diversidade, cultura e educação, relações étnico-raciais e educação, formação de professores e diversidade étnico-racial, políticas educacionais, desigualdades sociais e raciais e movimentos sociais e educação, com ênfase especial na atuação do movimento negro brasileiro.
Nilma Lino nasceu em 13 de março de 1961 em Belo Horizonte (MG).
Fontes:
UFMG, jornal O Povo (CE), Geledés Instituto da Mulher Negra e blogueirasnegras.org, Wikipédia
Já li alguns artigos da Nilma Lino, a considero fantástica. Inclusive estou escrevendo um texto para um trabalho que apresentarei em um curso que participo, onde um dos meus textos bases é o dela, Diversidade étnica-racial, e o Munanga também é claro, pois não tem sentido falar desses assuntos e esquecer o Kabengele Munanga.
O professor Kabengele Munanga foi um dos primeiro professor negro na USP, só não sei dizer com certeza quantos antes dele.
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