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Para mulheres de
todas as idades

- Tania Regina Pinto

Bia Ferreira e Mc Soffia – duas artistas negras que usam a arte como forma de comunicação e fazer política – mandam a real: não precisa ser Amélia para ser de verdade. Temos liberdade para ser quem quisermos e, aprendamos de uma vez por todas, não somos bonitinhas nem exóticas, somos rainhas.

Mc Soffia, pioneira no hip hop

Mc Soffia
Foto original: Facebook @mcsoffia

Não é charme de nome artístico. MC Soffia ao nascer, em 22 de fevereiro de 2004, na capital paulista, foi batizada Soffia – com dois “ff” no nome mesmo: Soffia Gomes da Rocha Gregório Correia.  

Ela é rapper precocemente pioneira, cantora e compositora. Conhecida pela letra de suas canções que propõem o letramento racial, denunciam o preconceito, o racismo, o machismo, as histórias mal contadas e mal digeridas por ela, criança, adolescente, jovem negra, viralizou na internet em 2016, ao lançar exatamente o nosso Sem Mordaça, a canção Menina Pretinha.

Com apenas 12 anos na época, ela já fala da importância da auto aceitação e da representatividade.

Mas nada é por acaso.

Ativista desde o ventre

Soffia nasce na militância negra. Sua mãe, a produtora cultural Kamilah Pimentel, ficou grávida ainda na adolescência, aos dezessete anos.

E, na época, frequentava o movimento negro das periferias de São Paulo.

Não demora, coloca a filha no mesmo caminho. Primeiro, rodas de debate, depois oficinas, eventos culturais, shows de hip hop

Kamilah Pimentel e Mc Soffia
Kamilah Pimentel e Mc Soffia (Foto: Reprodução / Instagram @andreligeiro)

Menina prodígio, aos três anos Soffia começa a compor; aos quatro, a fazer aulas de capoeira, maracatu; aos seis, participa de uma série de oficinas do mundo hip hop: breake, grafite, DJ e MC e, assim descobre sua vocação. “Quero cantar”, avisa.

A carreira

Com a ajuda da mãe e da avó materna, Lucia Mackena, que confecciona bonecas negras de pano, Soffia dá os primeiros passos.

Aos 7 anos faz o primeiro show em uma maratona dedicada ao aniversário de São Paulo.

O poder ancestral, com certeza, multiplica a garra da menina pretinha que decide ocupar um espaço no machista e preconceituoso mundo do hip hop.

Boombox e microfone

E aí está ela, aos 17 anos, já com uma história bem bacana pra contar que inclui participação na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, e uma exposição com fotografias inspiradas na letra da sua canção Barbie Black, em 2018. 

Jovem artivista, Mc Soffia não quer só cantar a dor, mas a história e as possibilidades.

“O objetivo é que as meninas se aceitem, porque, quando isso acontece, elas conseguem ter um olhar amplo e pensar que podem conquistar o que desejam”, diz Mc Soffia.

“Na minha música, passo mensagem para crianças, adultos, pais e até escolas… No movimento hip-hop, usamos a arte como forma de comunicação de conhecimento, para mostrar às pessoas das periferias que elas também podem conquistar.“

Bia Ferreira, sem papas na língua

Bia Ferreira
Foto original: Daniel Teixeira / Estadão
“Uma mulher preta artivista faz arte para se comunicar com a sociedade. Eu vivo de música desde os meus 16 anos. Precisei de dez anos para lançar meu primeiro disco. Fiquei  seis anos tentando…  Mas a gente é mulher preta. E mulher preta falando de política não tem muita gente que abraça…“

Esta é Bia Ferreira, por enquanto com um único disco gravado, Igreja Lesbiteriana: um Chamado. Bia é filha de tradicional família evangélica, com mãe cantora, regente de coral e pianista.

Igreja Lesbiteriana: Um Chamado, 2019
Álbum "Igreja Lesbiteriana: Um Chamado", 2019 (Foto: Reprodução / Discogs)

Iniciou na música aos 3 anos de idade, estudando piano, depois violão e, atualmente, domina 24 instrumentos musicais, entre contrabaixo elétrico, cavaquinho, atabaque, djembe e bateria.

O seu chamado, em alguma medida, vem de sua religiosidade. Para ela, Jesus é preto e, por isso, foi crucificado.

E, ela, também recebeu um chamado e assumiu um  compromisso:

“Nunca me calar enquanto tiver alguém sendo oprimido. Enquanto tiver um preto com menos direitos, enquanto houver racismo, enquanto as cotas ainda forem negadas, eu não vou me calar…“

Sem mordaça, com um tom de voz e um jeito de cantar que desconcerta, a cantora, compositora e multi-instrumentista Bia Ferreira  tem entre seus principais sucessos Não Precisa Ser Amélia e Cota Não É Esmola, escritas em  2011.

Mas Cota Não É Esmola  só viraliza a partir de março de 2018, quando é lançado o seu registro acústico pela equipe brasileira do Sofar Sounds.

Identitarismo e música

Para ela, sua música é uma forma de fazer a revolução e “ensinar tecnologias de sobrevivência” ao povo preto e LGBT e também às mulheres brancas, pretas, indígenas, trans, travestis, sobre a vida das mulheres.

Não tem a MPB? Pois Bia considera sua música MMP – Música de Mulher Preta.

Bia nasceu mineira de Carangola, no século passado, em  19 de abril de 1993. Desde 2009, vive da sua música. Antes disso, de se fixar no Rio de Janeiro, morou em Aracaju com a família, em ocupações urbanas em São Paulo e fez bicos para sobreviver.

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Tania Regina Perfil PB

 Escrever, para mim, é um ato político. Não por acaso, desde os 11 anos, queria ser Jornalista. Depois de muitos anos somei ao jornalismo a Educomunicação, com especialização em Gênero e Sexualidade. Idealizadora do primeirosnegros.com, cresço, dia a dia, gestando edições, artigos, pensares. Em essência, sou alguém que busca conexões espirituais, vivências…Leitora voraz, amante da escrita própria e da escrita alheia, louca por palavras e seus significados mais profundos. Assim estou na vida, gota, escorrendo livre pelos caminhos.

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