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InícioPaulo Rui de Oliveira, o presidente negro da Câmara Municipal de SP

Paulo Rui de Oliveira, o presidente negro da Câmara Municipal de SP

O professor paulista, nascido em Serra Azul, assina o pioneirismo de ser o primeiro e único presidente negro da Câmara Municipal da maior cidade e centro econômico e financeiro do país.

Faixa voltada para a Praça Bandeira pede eleições diretas (Imagem: Acervo CMSP)
Faixa voltada para a Praça Bandeira pede eleições diretas (Imagem: Acervo CMSP)

Não é pouca coisa. O vereador, então no PDS – Partido Democrático Social,  toma posse em 1º de fevereiro de 1981 e mantém-se no poder durante todo o mandato, até 1º fevereiro de 1983.

Quem conta a história desta conquista é um desafeto, Brasil Vita que, por quatro décadas, foi vereador por São Paulo, e a classifica como “traição”.

Na ocasião, 1981, Brasil Vita tentava mais uma vez ser presidente da Casa e disputava o cargo com Antônio Sampaio – 11 vereadores estavam com Vita e 10 com Sampaio. Paulo Rui era pró-Vita e a estratégia é que todos ficassem  hospedados em um mesmo hotel, próximo à Câmara, para evitar deserções.

Mas era aniversário de Paulo Rui e ele pediu para passar a noite em casa, com a família. Fora do “confinamento” recebeu um convite inesperado: a proposta de Sampaio para que fosse o candidato a presidente. Paulo aceitou e foi eleito por 11 votos a 10.

Da esquerda à direita

Do pouco que se encontra sobre este pioneiro, muito de seu lado “anti-herói”. A edição do Jornal da Rebúplica, nº 00022, de 1979, por exemplo, noticia que Paulo Rui foi “um dos vereadores eleito pela oposição que virou casaca, sendo eleito, inclusive, líder da bancada conhecida como Arenão, do então vereador José Sarney, sob os auspícios da Lei Falcão”.

Contextualizando:

A época era a da Ditadura Militar no Brasil, período de 1964 a 1985.

Com o golpe, instituiu-se o bipartidarismo – Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido da situação, e MDB (Movimento Democrático Brasileiro), partido de oposição.

A crise econômica, entre outras causas, faz a oposição se fortalecer. Para conter esse crescimento, cria-se a Lei Falcão, em 1976, que determinava que a propaganda de rádio e TV para as eleições municipais deveriam consistir apenas em narração com nome, partido, número e currículo de cada candidato. Na TV, podia aparecer uma foto.

Em 1979, por pressão da sociedade civil organizada, volta o pluripartidarismo e os políticos negros de São Paulo saem do MDB e ingressam no PDS, sucessor da Arena.

O jornal A República também informa que Paulo Rui era conhecido por sua ligação com lobistas dos fliperamas e dos drive-ins.

Reação negra

O Movimento Negro Unificado – MNU também não aplaudiu a conquista da Presidência da Câmara Municipal por Paulo Rui de Oliveira e a definiu como “vitória da astúcia e da habilidade política” e “não a vitória da população negra brasileira”.

Vanderlei José Maria e Rafael Pinto, em artigo publicado na revista da entidade, acusam o político de estar a serviço de uma elite negra conservadora, em busca de “desenvolver o mito do capitalismo negro”, que representa “um grande retrocesso na emancipação dos negros”.

Por fim, os dois militantes, compreendendo a importância deste pioneirismo para o país, concluem o texto afirmando que “a ação de Paulo Rui, para não se perder no vazio, não pode deixar de ser sensível às necessidades básicas de todos os negros, de auto-organização e luta contra a violência policial, contra o desemprego e o preconceito racial”.

Na prática

Como vereador e presidente da Casa, Paulo Rui promoveu eventos culturais como o I Salão das Pintoras Negras, lançou a campanha O amor não tem cor, para incentivar a adoção de crianças negras, e lançou o livro “Zumbi, Um Grito de Liberdade”, de sua autoria, pela Editora Câmara Municipal.

Capa de "Zumbi Um Grito De Liberdade", de autoria de Paulo Rui De Oliveira
Capa de “Zumbi Um Grito De Liberdade”, de autoria de Paulo Rui De Oliveira

Além disso, recebeu inúmeras delegações africanas em visita democrática e concedeu o título de Cidadão Paulistano a artistas de destaque, como Grande Otelo, Jamelão, Gilberto Gil e Toni Tornado.

Acusado de superfaturamento durante sua gestão na Presidência da Câmara ficou recluso. Provou sua inocência e voltou à ativa.

Nas eleições de 1998 e de 2000, já em outro partido, o PPB – Partido Progressista Brasileiro, também à direita, candidatou-se a vereador e deputado estadual, ficando na suplência.

Paulo Rui ingressou na política em 1973 e venceu três eleições municipais – a primeira pelo MDB, quando presidiu a comissão de transportes, trânsito e comunicações da Câmara.

Junto ao governo federal, desenvolveu o projeto Pro Jovem, voltado à educação da população periférica, com verba do Ministério do Desenvolvimento. Mas não viveu para implementá-lo.

Paulo Rui morreu em 11 de setembro de 2001, no mesmo dia do ataque às torres gêmeas nos Estados Unidos.

Filho de Olga Costa de Oliveira e Leonidio de Oliveira, Paulo Rui nasceu em 21 de fevereiro de 1952. Viúvo de Mathe Ruth de Melo Oliveira, teve dois filhos – Rosana de Mello Oliveira e Paulo Rui de Oliveira Junior.

No seu currículo, ainda os cursos Técnico em Contabilidade e superior em Letras, o cargo de secretário do Departamento Jurídico da Secretaria de Transportes do Estado de São Paulo, a atuação como professor de História e Português e a participação movimentos em favor do povo negro.


Conheça mais pioneirismos com os que vieram antes na política

Fontes: Rosana de Mello Oliveira, filha do pioneiro; Livro Quem é Quem na Negritude Brasileira, Vol.I, organizado por Eduardo de Oliveira; Folha, Revista Apartes, Seade, Jornal da República, Revista MNU 3, Conjur

Escrito em 16 de novembro de 2021

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