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Simone Biles, inigualável !

Afro americana, ela é a maior do mundo, a ginasta mais condecorada de toda a história dos Estados Unidos, brilhante, vulnerável, humana. Medalhista olímpica. Vitoriosa nos esportes e na vida.

Simone Biles (Imagem: Divulgação)
Simone Biles (Imagem: Divulgação)

Simone Biles, por duas vezes, fez o Yurchenko Double Pike, movimento nunca antes feito em competição oficial por uma ginasta mulher, um dos mais complexos e arriscados da mesa.

Ela nasceu em Columbus, Ohio, em 14 de março de 1997 e começou sua odisseia na ginástica com apenas seis anos de idade, por acaso – ela foi para um passeio no campo com outras crianças, mas com a mudança repentina do tempo, a chuva chegou e obrigou o grupo a se abrigar em um centro de ginástica próximo, em Houston. Biles se encantou com o esporte.

Como ginasta, alcançou a fama em 2013, ao conquistar duas medalhas de ouro no Campeonato da Antuérpia, incluindo o cobiçado título geral. Isso, com apenas 16 anos. Nesse campeonato, apresentou ao mundo um movimento inovador no solo – o Biles, um duplo mortal com meia torção, que agora está consolidado na história da ginástica.

Com quatro ouros no Campeonato Mundial em 2014 e outros quatro em 2015, a jovem já era uma potência formidável rumo aos seus primeiros Jogos Olímpicos no Rio 2016, quando garantiu o ouro nas provas de solo, equipe, salto e all-around, além de conquistar o bronze na trave de equilíbrio.

O Japão e a saúde

Simone esteve entre as principais estrelas das Olimpíadas de Tóquio 2021 e, segundo a crítica especializada, tinha tudo para se consolidar como uma das melhores da história. Tanta expectativa não era à toa: com perto de um quarto de século de vida, Simone já era dona de 7 medalhas olímpicas de um total de mais de 30 medalhas, incluindo as conquistadas em Mundiais, sendo 23 de ouro!

No Japão, não era esperado que ela errasse movimentos nem que ocupasse outro lugar além do mais alto do pódio, muito menos que desistisse de provas. Mas na terça-feira, 27 de julho de 2021, a estrela da seleção americana pediu para sair da competição por equipes após encaixar um salto com erro na aterrissagem e tirar uma nota baixa para seus padrões.

A princípio, a comissão técnica deu uma explicação abrangente, que era “questões de saúde”, mas a atleta o jogo: não se tratava de uma lesão, mas de sua saúde mental.

“Acho que a saúde mental é mais importante nos esportes nesse momento. Temos que proteger nossas mentes e nossos corpos, e não apenas sair e fazer o que o mundo quer que façamos”, declarou à imprensa. Antes, em seu Instagram, ela já havia dito que às vezes sente “o peso do mundo” em seus ombros.

Paris e a volta por cima

Embora possa ter um choque ver um atleta de alto rendimento desistir porque a mente não está 100%, a conversa sobre saúde mental ganhou ainda mais força na sociedade depois de Simone que, dois anos depois, nas Olimpíadas de Paris, como declarou, chegou “de olho em mais medalhas”, mas viu-se “celebrada por ser humana, ser vulnerável”.

Humana, vulnerável e a atleta olímpica mais condecorada em toda história dos Estados Unidos – ela está em sua terceira competição. O registro de tal pioneirismo aconteceu em 30 de julho e 1° de agosto de 2024, com a conquista de suas oitava e nona medalhas após vencer a competição por equipes e na individual contra Rebeca Andrade, do Brasil – 6 de ouro, 1 de prata e 2 de bronze .

Simone Biles é a primeira atleta a conquistar, de forma consecutiva, dois ouros e a terceira a vencer o individual geral da ginástica artística por duas vezes nos Jogos Olímpicos.

Reverência

A lendária Simone Biles, após perder o ouro para Rebeca Andrade, reverenciou-a no pódio, juntamente com a também estadunidense Jordan Chiles. As ginastas afro-americanas foram medalhistas de prata e bronze na final individual do solo das Olimpíadas de Paris – Rebeca teve nota de 14.166, acima do 14.133 de Biles e 13.766 de Chiles.

A foto, por si só, é histórica. Conta do respeito que temos de ter por nós e pelos nossos e registra a primeira vez em que três mulheres negras ocupam, juntas, o pódio da ginástica artística nas Olimpíadas. Pena que ela não conte tudo!

Em uma reviravolta surpreendente no mundo da ginástica artística, o pódio da prova do solo feminino nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 foi alterado após um recurso bem-sucedido da Romênia. A decisão da Corte Arbitral do Esporte fez com que Jordan Chiles, dos Estados Unidos, perdesse a medalha de bronze para a romena Ana Maria Barbosu e reconfigurou o pódio que antes era composto por três mulheres negras.

Histórias de superação

Quando tinha apenas dois anos, Simone foi levada para um orfanato após a mãe, viciada em álcool e drogas, perder o direito de cuidar dos quatro filhos. Ela só deixou o abrigo anos depois, após uma intensa luta do avó, Ron, que a adotou.

Simone passou a morar com o avô e uma irmã, já os outros dois netos foram adotados por uma tia-avó que dividiu responsabilidades e ajudou a solucionar o problema.

Desde criança, também, ela tem diagnóstico de TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, como contou em entrevista em 2016, aos 19 anos, após ser revelado que ela estava incluída no programa de Isenções de Uso Terapêutico da Agência Mundial Antidoping:

“Eu tenho TDAH desde que era criança. “Eu tenho TDAH desde que era criança. Por favor, saibam que sou a favor do esporte limpo, que sempre segui as regras e que continuarei a fazer isso porque o fair play é fundamental no esporte e é muito importante para mim”.

Na vida adulta, teve de prestar depoimento ao comitê do Senado dos Estados Unidos, que investigou o ex-médico Larry Nassar por abuso de mais de 300 atletas da Federação de Ginástica dos Estados Unidos e da Universidade Estadual de Michigan durante duas décadas.

Na ocasião, Simone Biles acusou não só o ex-médico pelos abusos de que foi vítima, mas também “todo o sistema que o permitiu e o perpetrou”, incluindo o Comitê Olímpico e Paralímpico dos Estados Unidos, de saberem “muito antes” que ela havia sofrido abusos.

Fortuna

A afro-americana construiu seu patrimônio com as medalhas que já ganhou ao longo da carreira e os patrocínios firmados com diversas marcas. Segundo estimativas da Forbes, cerca de US$ 7,1 milhões (R$ 40,1 milhões) só em 2023, ano em que ela foi a única ginasta que marcou presença na lista das 20 atletas mais bem pagas do mundo.

O jornal O Globo estima sua fortuna em torno de 16 milhões de dólares (R$ 90,2 milhões), a maior parte, de fato, conquistada não por sua alta performance, mas em contratos com o mercado publicitário que, nas Olimpíadas de Paris, tem voltado seu olhar a outra ginasta, a brasileira Rebeca Andrade.

Aliás, vale saber mais sobre a história de Rebeca Andrade, brasileira da Grande São Paulo, cidade de Guarulhos, Filha de Mãe Solo, Mulher, Preta, Excelência, Campeã Olímpica, Campeã Pan-americana, Pioneira Ouro, Pioneira Prata, Pioneira Bronze, que tem feito história no tablado da Ginástica Artística.

Destaque-se que Rebeca Andrade finalizou sua participação nas Olimpíadas 2024 com uma premiação maior do que a de Simone Biles, sua principal concorrente, apesar de a afro-americana ter conquistado 3 medalhas de ouro!

A ginasta brasileira conseguiu quatro medalhas, tornou-se a maior medalhista da história do Brasil, e, de quebra, faturou R$ 826 mil – mais do que os R$ 780 mil de Biles. Isso porque o Brasil paga mais por medalha.

A premiação de cada atleta olímpico é determinada de acordo com o comitê de cada país. Enquanto o Comitê Olímpico do Brasil paga R$ 350 mil por cada medalha de ouro, seu correspondente nos Estados Unidos premia os campeões com 37,5 mil dólares (cerca de R$ 216 mil), de acordo com a revista Forbes.

Fazendo as contas:

  • Rebeca: 1 Ouro (R$ 350 mil) + 2 Pratas (R$ 210 mil) + 1 Bronze (R$ 56 mil, valor após divisão com a equipe de ginástica artística) = R$ 826 mil
  • Simone Biles: 3 Ouros (U$112,5 mil = R$ 649,6 mil) 1 Prata: (U$ 22,5 mil = R$ 129,9 mil) = U$135 mil (R$ 780 mil)

Simone e Rebeca

Nas Olimpíadas de Paris se falou muito da rivalidade entre as duas. Mas elas são mulheres pretas e já aprenderam que, entre nós, ninguém deve soltar a mão de ninguém. As duas são fenomenais, exemplos, inspiração.

Aos 27 anos, Simone é considerada um dos maiores fenômenos da história da ginástica artística – conquistou até o momento 11 medalhas olímpicas – sete ouro, duas prata e duas bronzee 30 em campeonatos mundiais, sendo 23 de ouro.

Rebeca, um pouco mais nova, com 25 anos, tem 9 medalhas em Campeonato Mundiais e 6 medalhas olímpicas – dois ouro, três prata e um bronze.

Até o momento, nenhuma outra atleta da modalidade conseguiu se igualar ao nível de competição das duas.

Detalhe: Com 27 anos, a atleta é a ginasta americana mais velha a competir em uma Olimpíada nos últimos 72 anos.

Mais sobre Simone

Em 2016, a ginasta foi incluída na lista de 100 mulheres mais inspiradoras e influentes pela rede BBC, de comunicação social.

Simone Biles estampou uma das capas da People nas edições de “Personalidades do Ano”, em 1 de dezembro de 2021. A revista destacou as transformações no olhar da sociedade sobre o esporte a partir da postura da atleta, que priorizou sua a saúde mental em detrimento dos objetivos esportivos nos Jogos Olímpicos de Tóquio. No mesmo ano foi eleita “Atleta do Ano” pela revista americana Time.

Simone Biles adicionou ao seu nome o “Owens” ao se casar, em 23 de abril de 2023, com o jogador de futebol americano Jonathan Owens.

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Fontes: Olimpcs, Caras, Globo Esporte, Uol, Wikipédia, Uol-TDAH, Forbes, Notícia Preta – Foto histórica

Escrito em 6 de agosto de 2024

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