O protagonismo afro-americano no filme Soul. Protagonismo no pensar, no agir, no viver, no sonhar e também no capital humano, com pessoas negras que dão voz aos personagens….
Soul, em inglês, quer dizer “alma’’. Por isso, o trocadilho foi possível. Soul é o título do primeiro filme de animação com alma negra da Pixar. A alma de Joe Gardner, um típico afro-americano, criado em Nova Iorque, professor de música do Ensino Médio.
É verdade que a Pixar Animation Studios, o estúdio americano de animação por computador, é subsidiária da The Walt Disney Company de A Princesa e o Sapo – a princesa negra Tiana que não tem um príncipe negro para ser seu par. Com o logotipo da Pixar, entretanto, chegar ao mundo negro exigiu 34 anos!
Mas voltando à alma da animação, que é o que importa, Soul tem mais que um negro no papel principal. O filme traz a negritude no pensar, no agir, no viver, no sonhar e também no capital humano: são negros que dão vida ao filme e dão voz aos personagens…
Joe Gardner, por exemplo, vibra na voz do ator Jamie Foxx. E a curiosidade que une Joe e Jamie é a paixão pela música – Joe é um professor de música que sonha ser um grande jazzista, Jamie viveu Ray, no filme sobre o pai da soul music, a música da alma, Ray Charles.
Do time de vozes oficial, também, a atriz Angela Bassett, do filme Pantera Negra.
O filme
Soul começa com uma cena em que Joe está prestes a realizar seu sonho de ser grande no jazz. Ele impressiona outros músicos durante um ensaio aberto no Half Note Club. Feliz com o sucesso – e distraído -, cai em um bueiro, fica em coma e morre, sem perceber…
Assim, os 101 minutos da animação, vão se passar entre a vida e o além da vida – que muitos chamam de morte. Isso porque a sua alma, por conta da queda, fica separada do corpo.
Na terceira dimensão, o professor recebe a missão de ajudar as almas a desenvolverem personalidades e paixões antes de reencarnarem, de ganharem um novo corpo físico.
A grande questão, a reflexão, é: Qual o propósito da vida?
E a resposta se desenrola a partir do olhar deste homem negro, construído a partir dos sonhos de todo um povo africano em diáspora.
Fator George Floyd
Olhar que inclui o pensar nas pessoas desconectadas, os diversos outros, as dores que nos transformam em robôs, sem objetivos, invisíveis, carentes de solidariedade, gentileza, empatia, acolhimento, amor…
Ao lado de todas as questões que envolvem a nossa saúde mental, física, espiritual e emocional, a importância do sucesso na nossa vida e, antes, o próprio entendimento do que seja ter sucesso.
Lançado em dezembro de 2020, Soul figurou entre as produções favoritas a levar os prêmios de Melhor Animação, Melhor Trilha Sonora Original e Som no Oscar 2021. Isso por combinar importantes questões sobre vida, morte e música com um bom toque de humor, grandes personagens, narrativa emocionante e o fato de termos vivido – no mundo real – a tragédia de George Floyd, o negro que morreu assassinado pelo joelho de um policial branco, que o impediu de respirar.
Negritude nos bastidores
Mas a produção aconteceu em 2016, antes de o movimento ‘Vidas negras importam’ ganhar força mundial. Na época, já se pensava na animação como um retrato, o mais autêntico possível, da realidade de um negro na busca dos seus sonhos.
Para isso, o cineasta Pete Docter buscou a opinião de pessoas negras e contratou artistas da própria empresa para contribuir com novas ideias e nuances.
Uma equipe de consultoria exclusiva foi montada e contou com a colaboração de músicos, diretores de fotografia, acadêmicos e atores – contribuições que se refletiram nos detalhes físicos e na personalidade de cada um dos personagens da animação.
O escritor e dramaturgo negro Kemp Powers, por exemplo, foi convidado para fazer parte da equipe de produção como roteirista, mas, ao longo do trabalho, acumulou a posição de co-diretor, participou ativamente na elaboração de cada etapa e conquistou um lugar na galeria de pioneirismos negros.
Kemp Powers é o primeiro afro-americano a dirigir um longa-metragem de animação da Pixar.
Palcos e telas
O roteirista e diretor Kemp Powers é de Nova Iorque. Ele nasceu em 1973, cresceu no Brooklyn e é formado em Língua Inglesa pela Howard University. Seu maior sonho, entretanto, era tornar-se um grande cineasta. Sonho concretizado.
Desde 2020, Powers aparece na lista dos grandes nomes da indústria cinematográfica, com duas produções indicadas ao Oscar.
Além de Soul, o longa One Night In Miami (Uma Noite em Miami) foi indicado ao Oscar como Melhor Roteiro Adaptado. E vale contar que Kemp Powers adaptou sua própria peça teatral, de mesmo nome, lançada em 2013.
One Night in Miami conta de um inusitado – e fictício – encontro de quatro amigos de verdade, figuras célebres da história norte-americana, que viveram momentos-chave de suas vidas durante o movimento por direitos civis dos negros na década de 1960: o ativista Malcolm X, o “rei do soul” Sam Cooke, o pugilista Muhammad Ali e o ator/jogador de futebol americano Jim Brown.
Kemp Powers também é co-diretor na produção da sequência do filme Homem-Aranha no Aranhaverso, com estreia prevista para 2022.
O começo de sua carreira teve como cenário os palcos da Broadway. No audiovisual, ele assinou o curta-metragem This Day Today em 2012, como um dos responsáveis pela elaboração do argumento do filme. E, em 2017, estreou na TV como roteirista da série Star Trek: Discovery.
Conheça também a história de Tempestade, a primeira heroína da Marvel.
Fontes: Revista Rolling Stones-Oscar, Correio Braziliense, Revista Rolling Stones – protagonista, Outline, Wikipedia, Papo de Cinema
Escrito em 29 de setembro de 2021