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Tempo de mudar

– Por Victor Araújo

Victor Araújo (Imagem: Reprodução/Linkedin)

“Irmão, quando você vai entender que desde que você era menino te ensinaram que ser homem era ser forte para abrir o pote de pepino. Com o tempo essa procura por ser forte te deixou cego. E hoje, mais frágil que sua masculinidade só o seu ego” – Jovem Preto Rei

Hoje a conversa é com você, irmão preto. Não que as outras conversas não tenham sido nem que as irmãs pretas não possam acompanhar as ideias, mas, hoje, não vamos falar do que a sociedade nos oferece,

vamos falar do que fizemos com isso que a sociedade nos deu.

E uma vez que sabemos que certas atitudes são erradas, inapropriadas, abusivas e imprudentes, podemos começar a tomar direções diferentes em busca de nos fazer homens e pais melhores.

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Quando foi que você percebeu que a idade adulta chegou?

Aliás, será que você percebeu a idade chegar e com ela a exigência da mudança de alguns hábitos que já não cabem mais para nós. Falo isso pra você, homem e pai preto, mas, antes de qualquer coisa, falo isso para mim.

Falo isso para eu olhar o homem de quase 30 anos que fala com você agora e que insiste em manter hábitos que já não fazem mais bem para mim, se é que um dia fez.

Fato é que, hoje, podemos trocar essa ideias entre nós e falar das nossas angústias, dores, desejos e expectativas para nossas vidas. Não sei você, mas eu cheguei aos 30 achando que tinha 15. Falando e fazendo uma série de besteiras que não fazem bem pra mim e muito menos às pessoas que eu sempre amei.

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Eu boto uma fé quando você diz que ama sua preta, preto ou prete. Sério, eu realmente acredito, mas já passou da hora da gente começar a lidar com esse sentimento com maturidade e demonstrar este amor com

sinceridade, valorização do afeto e perspectiva de futuro.

E nem estou falando só de amor, sinceridade, afeto e futuro com o outro, estou falando que tudo isso pode começar por você, ou melhor, por nós.

Numa tentativa totalmente falha desde o começo, percebi que tentamos resgatar títulos de

  • “mais gostoso do rolê”,
  • o “cara que pegou a fulana de tal”,
  • o mano que “para o pagode quando chega”
  • e até mesmo, o “bicho solto que não se apaixona”.

 

A pergunta que te faço é:

Para onde essa tentativa de resgatar o adolescênte que ainda vive em nós está nos levando?

Será que é justo com aquela pessoa que fechou com a gente nos momentos difíceis, nos confiou sua saúde e seus sonhos?

Sério mesmo que vamos expô-las a doenças sexualmente transmissíveis?

Trair a confiança que nos deram pela busca das migalhas de uma memória de adolescência?

Me parece pouco quando vejo o quanto podemos receber de amor, quando olho pro futuro e vejo uma velhice repleta de acolhimento, amor e boas risadas ao lado da família que construímos hoje.

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O papo é reto hoje, mas que não busca te julgar, colocar mais peso nas suas costas e massacrar, porque isso a sociedade já faz muito bem.

Hoje venho aqui como um parceiro, irmão, amigo que continua tendo dificuldades em se desconstruir e pensar novas formas de se formar homem, mas que, apesar da dificuldade, enxerga muito mais ganhos nos novos hábitos que construo todos os dias.

Não nos demoremos nas dores e ilusões.

Acesse os outros artigos da edição “Pretos do Brasil“.

Victor Araújo é pai de Moana, realizador de sonhos,
publicitário e mentor na Mentoria BlackUp.


Reproduzido de Pai Pretos Presentes, publicado em agosto de 2021.

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