O baiano que dá nome a cidades e ruas do país é negro, é um homem das ciências. Profissional de qualidade ímpar, apontado como o primeiro geógrafo a mapear a região da Chapada Diamantina, na Bahia, e participar ativamente de grandes projetos urbanísticos do Brasil entre os séculos XIX e XX.
O que este artigo responde: Qual a importância de Teodoro Sampaio para São Paulo e para o Brasil? Qual é o pioneirismo de Teodoro Sampaio? Quem era o pai de Theodoro Sampaio? A mãe de Theodoro Sampaio era escrava? É verdade que Theodoro Sampaio comprou a liberdade de toda a sua família? Quais as relações de Theodoro Sampaio com Dom Pedro? Theodoro Sampaio trabalhou para o Império? Qual a profissão de Theodoro Sampaio? Onde Theodoro Sampaio viveu? Quantos filhos Theodoro Sampaio teve? Quantas vezes Theodoro Sampaio se casou? Em que época Theodoro Sampaio viveu? O que Theodoro Sampaio tem a ver com Euclides da Cunha e o livro Os Sertões?
Estudante de jornalismo na Uninove desde 2023, Cinthya Gomes nasceu e mora em SãoPaulo, capital, filha de professores, ama fotografia, conteúdos sobre Diversidade e Inclusão e pretende fazer pós graduação em Fotojornalismo.
Engenheiro-chefe de grandes obras do Brasil e autor de livros que contam do tamanho e da diversidade deste território, Theodoro Fernandes Sampaio nasce em 7 de janeiro de 1855 do ventre de Domingas da Paixão do Carmo, uma mulher negra e escravizada, e se torna um homem de muitas e imensas realizações, por sua capacidade de compreensão e facilidade em colocar em prática todo o seu aprendizado.
Geógrafo, engenheiro, historiador, escritor, geólogo, cartógrafo, topógrafo, urbanista, filósofo, etnólogo, tupinólogo, arquiteto, professor, sociólogo, político, empresário, sanitarista e desenhista, ecologista e ambientalista – muito antes de existirem estas palavras -, está entre os mais importantes pensadores do país.
O sistema escravocrata, a desigualdade racial e as dificuldades econômicas impostas às pessoas negras, mesmo livres, não conseguiram impedir que Theodoro Sampaio deixasse seus feitos e uma intensa obra acadêmica sobre seus saberes como herança.
Nascer livre
Domingas dá a luz e Theodoro é alforriado pelo pai, o padre católico Manoel Fernandes Sampaio, no Engenho Canabrava, em Santo Amaro da Purificação, na Bahia.
Educado pelo pai-padre, frequenta os melhores colégios do recôncavo baiano. Aos nove anos, vai morar em São Paulo e, aos 10, se muda para o Rio de Janeiro, então capital do Império, para ser interno no Colégio São Salvador.
Aos 17 anos, inicia sua formação profissional na Escola Central – rebatizada Escola Politécnica do Rio de Janeiro – no curso de engenharia civil .
A qualidade de seus desenhos de mapas e paisagens, bem como seu desempenho escolar – ele tem notas acima da média, especialmente em matemática e desenho -, chamam atenção e lhe garantem o cargo de desenhista no Museu Nacional em 1875, quando ele conta 20 anos de idade!
Para aumentar sua renda, Theodoro trabalha como professor no Colégio São Salvador, onde estudou quando criança – ele tem um propósito. As disciplinas que ministra? Latim, Matemática, História, Filosofia e Geografia!
O propósito
Theodoro Sampaio faz parte de uma das primeiras gerações de engenheiros civis do Brasil e, após se formar em 1877, vai à Bahia rever sua mãe e seus três irmãos.
No reencontro entre mãe e filho, um presente: a carta de alforria de Domingas. E, com o tempo, a compra da liberdade para os seus três irmãos – de Martinho, em 1879; de Ezequiel, em 1883, e de Matias, em 1885. A abolição só acontece em 1888.
Aos 29 anos, Theodoro cumpre seu primeiro grande propósito de vida e liberta toda a família da escravização.
Um caso de racismo
Em sua jornada acadêmica e profissional, Theodoro conhece o naturalista norte-americano Orville A. Derby. Os dois participam de uma expedição científica ao Vale do São Francisco, para estudar os portos do Brasil e a navegação interior em 1879.
No mesmo 1879, o senador Viriato de Medeiros o convida para integrar a Comissão Hidráulica do Império, junto a um grupo de engenheiros estrangeiros, para estudar os portos e a navegação no país e é marcado um encontro com o ministro da área para o alinhamento sobre as expectativas do governo.
Tudo corre bem. Mas na publicação do Diário Oficial, com a relação dos engenheiros nomeados, não consta o nome de Theodoro Sampaio. O motivo, ele só soube bem depois, por um amigo, como conta em depoimento:
“(…) É que eu era o único homem de cor na luzida comitiva… ao espírito do Oficial de Gabinete do Ministro o fato parecera-lhe muito chocante, tanto mais quando se tratava de pessoal a servir com técnicos americanos, os quais, ao que se dizia, não apreciavam a companhia dos homens de cor. Fui assim eliminado e experimentei então o primeiro espinho do preconceito entre nós …”.
Talvez por não compreender que havia sofrido racismo, ao não ver sua nomeação confirmada no Diário Oficial, Theodoro Sampaio procurou o senador apenas para agradecer a indicação. Mas ao saber do ocorrido, o político reverteu a história. E, no dia seguinte, ele pode ler o seu nome, nomeado como engenheiro de 2ª classe, como integrante da Comissão Hidráulica do Império.
Trabalho reconhecido
Nosso pioneiro passa quatro meses navegando pelo rio São Francisco em grupo. Depois, recebe a ordem do chefe americano William Roberts e navega sozinho na direção oposta até alcançar a Chapada Diamantina, elabora relatórios, desenhos e mapas detalhados, é reconhecido como o melhor engenheiro brasileiro do grupo!
Na verdade, ele é o único brasileiro entre os engenheiros norte-americanos a fazer parte de um grupo que estudou o escoamento de águas e as aplicações tecnológicas necessárias para a construção de canos e sistemas pluviais e sanitários.
Theodoro Sampaio é o primeiro geógrafo a mapear a região da Chapada Diamantina, na Bahia.
Mas tal reconhecimento e pioneirismo não lhe garantem vaga no mercado de trabalho após o término das atividades na Comissão do Império – realidade bem diferente da de seus colegas.
E Theodoro volta a atuar como professor. Só em 1881, é contratado como engenheiro para calcular e desenhar pontes metálicas do prolongamento da linha férrea de Salvador ao São Francisco. Trabalha ainda na Comissão de Melhoramentos do rio e ajuda em estudos para construção de barragem e desobstrução de trechos para navegação de barcos a vapor.
Saneamento básico
Só depois de alforriar toda a família, Theodoro se permite novos planos, para além da Bahia e do Rio Janeiro.
Em 1886, vai para São Paulo, onde participa da Comissão Geográfica e Geológica e realiza a primeira medição de base geodésica do Brasil – outro pioneirismo –, o que contribuiu para o mapeamento completo do Vale do Itapetininga e do Paranapanema, no interior paulista, além de projetar obras para facilitar a navegação no rio Paranapanema.
A geodésia é a ciência que analisa a determinação da forma, das dimensões, a posição de pontos sobre sua superfície e a modelagem do campo de gravidade da Terra. Na atualidade, as atividades geodésicas proporcionaram uma revolução na cartografia com a implantação do Sistema de Posicionamento Global (GPS).
Em 1890, dez anos após a fundação do Clube de Engenharia, o governador Prudente de Morais o convida para projetar o saneamento da capital paulista e Theodoro Sampaio se torna chefe dos Serviços de Água e Esgoto da cidade.
Em São Paulo, cria hospitais, institutos de higiene, amplia a linha de bondes, reorganiza os serviços de água e esgoto, participa da fundação da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, no qual é admitido só quatro anos depois, em 21 de outubro de 1898.
Fonte de saberes
Em sua trajetória, Theodoro conhece o imperador Dom Pedro II que, durante um almoço, o coloca na cadeira à sua direita e usa o tempo para conversar sobre suas viagens e sua vivência com os povos originários do Brasil, tema de interesse do intelectual baiano, presente em seu livro, O Tupi na Geografia Nacional, lançado em 1901, referência no estudo dos povos tupi e sua influência na cultura brasileira.
Outro que desfruta dos conhecimentos de Theodoro sobre o país é o jornalista e amigo pessoal Euclides da Cunha, que recebeu informações históricas e um mapa da região de Canudos para escrever o livro Os Sertões, um clássico da literatura brasileira.
Theodoro Sampaio é autor das obras O rio São Francisco e a Chapada Diamantina, Atlas dos Estados Unidos do Brasil, São Paulo no Século XIX e outros Ciclos Históricos, e Dicionário histórico, geográfico e etnográfico do Brasil. Após a sua morte, ainda de sua autoria, é publicado, em 1949, o livro História da Fundação da Cidade de Salvador.
Sua produção acadêmica é essencial para a elaboração de normas e legislações fundamentais para historiografia, geografia e cartografia nacional. Parte de seus estudos foram dedicados à observação do solo e do clima brasileiros.
De volta à terra mãe
Em 1904, Theodoro retorna à Bahia, abre seu escritório de engenharia civil, trabalha no Serviço de Água e Esgoto de Salvador, resolvendo sérios problemas de abastecimento ao elevar a oferta de 7 milhões de litros de água diários para 32 milhões.
E, ainda, assina importantes projetos, como a restauração do antigo prédio da Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus, a construção do Liceu Salesiano de Salvador, do pavilhão para tuberculosos no Hospital Santa Isabel e da fachada da Igreja da Vitória.
Amores
Em Salvador, também, ele ganha uma nova paixão: o Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, que preside de 1922 a 1936. Em parte deste período, atua como deputado federal pela Bahia, eleito em 1927.
Theodoro Sampaio vive 82 anos – até 11 de outubro de 1937 -, se casa três vezes e tem 11 filhos com as duas primeiras esposas.
A primeira esposa, ele conhece em 1882, na Bahia – Capitulina Moreira Maia, mãe de seus oito primeiros filhos – duas meninas e seis meninos! Ela tem doença mental.
O engenheiro se casa, uma segunda vez, com a paulistana Glória Maria da Fonseca e, com ela, tem três filhos. Ela morre e ele se casa pela terceira vez, com Amália Barreto Sampaio, com quem vive até sua própria morte.
Inspiração
Não foram poucos os políticos que se inspiraram no pioneiro negro para dar nome a ruas do país. No estado de São Paulo, tem um município com o nome do engenheiro a 660 quilômetros da capital paulista, onde fica a famosa rua Teodoro Sampaio, no bairro de Pinheiros, de móveis e instrumentos musicais. Na Bahia, o município onde ele nasceu também celebra o ilustre conterrâneo. Até a criação da dupla sertaneja Teodoro & Sampaio, tem a ver com o nosso pioneiro.
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Fontes: Portal Clube da Engenharia , Scielo , G1, Museu Afro, Câmara dos Deputados, Brasil 247, Brazil Imperial- Facebook
Escrito em 10 de dezembro de 2024
Estudante de jornalismo na Uninove desde 2023, Cinthya Gomes nasceu e mora em SãoPaulo, capital, filha de professores, ama fotografia, conteúdos sobre Diversidade e Inclusão e pretende fazer pós graduação em Fotojornalismo.