Bisneto de escravizado e filho de porteiro, ele ganhou 29 dos 32 casos que defendeu até ser o primeiro afro-americano a ocupar uma cadeira na Suprema Corte, depois de 95 pessoas brancas.
O que este artigo responde: Quem foi Thurgood Marshall? Quais foram algumas das conquistas de Thurgood Marshall como advogado? Quando Thurgood Marshall foi indicado para a Suprema Corte? Qual foi o legado de Thurgood Marshall na Suprema Corte? Quanto tempo Thurgood Marshall serviu na Suprema Corte? Qual o ativismo de Thurgood Marshall? Quais atores negros interpretaram Thurgood Marshall em filmes?
O jurista Thurgood Marshall é o primeiro afro-americano a ocupar os cargos de procurador-geral e juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos. Estes fatos datam de 1960, mas o jurista foi forjado para os cargos, praticamente, desde que nasceu em 2 de julho de 1908, em Baltimore, Maryland.
Bisneto de um escravizado da atual República Democrática do Congo, filho do carregador de ferrovia William Canfield Marshal e da professora Norma Arica Williams, desde sempre foi ensinado a amar a Constituição dos Estados Unidos e o Estado de Direito.
Seu nome de batismo é Thoroughgood, mas na segunda série ele encurtou para Thurgood.
Julgamentos e debates
Ainda criança, Thurgood ia com seu pai assistir a julgamentos. Depois, os três – seu irmão estava junto – debatiam o que haviam visto e ouvido. Não bastando isso, em família, após o jantar, sempre se discutia os acontecimentos atuais do país.
Por conta desta rotina em família, certa vez o juiz declarou que embora seu pai nunca lhe tenha dito para se tornar um advogado, ele o transformou em um: “Ele fez isso ensinando-me a argumentar, desafiando minha lógica em todos os pontos, fazendo-me provar todas as declarações que fiz”.
O estudante
Na escola, onde se formou em 1925, o jovem Thurgood integrava um seleto grupo de melhores alunos. Mas na Lincoln University, universidade historicamente negra da Pensilvânia, no começo, ele não levou seus estudos muito a sério, foi suspenso duas vezes por trotes e travessuras contra seus colegas e tornou-se estrela da equipe de debates.
Em seu primeiro ano, se opôs à integração de professores afro-americanos na universidade. No segundo, participou de um protesto contra a segregação em um cinema local e foi iniciado como membro da Alpha Phi Alpha, a primeira fraternidade fundada por e para negros.
Só depois de seu primeiro casamento, em setembro de 1929, com Vivien Buster Burey, começou a levar seus estudos a sério, graduando-se como bacharel em Literatura e Filosofia americana em 1930.
O Direito veio depois. Frequentou a Howard University School of Law, onde se formou em primeiro lugar em 1933.
Sua mãe teve que penhorar os anéis de casamento e noivado para pagar seus estudos.
O advogado
Formado, Thurgood Marshall começou um escritório de direito privado em Baltimore e, em 1934, teve início sua afiliação, de 25 anos, com a Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor (NAACP). Passados dois anos, ele já fazia parte da equipe nacional da organização.
Em um de seus primeiros casos – “Murray versus Person” -, representou Donald Gaines Murray, um negro graduado do Amherst College com excelentes credenciais, que teve sua admissão negada na Escola de Direito da Universidade de Maryland por causa da segregação – estudantes negros que queriam estudar Direito tinham que frequentar estabelecimentos segregados ou instituições negras de fora do estado.
Contra a política de segregação de Maryland, Marshall argumentou que ela violava a doutrina “separados, mas iguais” de Plessy v. Ferguson porque o estado não fornecia uma oportunidade educacional comparável em uma instituição negra estatal. E venceu.
Na defesa
Aos 32 anos, Thurgood Marshall funda e se torna o diretor executivo do Fundo de Defesa Legal e Educacional da NAACP, onde atua como diretor executivo e defende vários casos perante a Suprema Corte.
No último deles, consegue que a Justiça considere a segregação racial na educação pública uma violação da Proteção Igualitária, porque nunca poderia ser verdadeiramente igual.
No total, Thurgood Marshall vence 29 dos 32 casos que defende na Suprema Corte.
Resistência branca
A chegada da toga na vida de Thurgood acontece com o presidente John F. Kennedy que o nomeia para o Tribunal de Apelações dos Estados Unidos em 1961.
Um grupo de senadores do Sul, liderado por James Eastland do Mississippi, entretanto, suspende sua confirmação. Por isso, ele serve durante os primeiros meses sob uma nomeação de recesso, mas permanece naquele tribunal até 1965, quando o presidente Lyndon B. Johnson o nomeia para procurador-geral dos Estados Unidos, o primeiro afro-americano a ocupar o cargo.
Na época, isso o tornou o oficial negro do governo mais graduado da história americana, ultrapassando Robert C. Weaver, o primeiro secretário de habitação e desenvolvimento urbano de Johnson.
Como procurador-geral, Marshall vence 14 dos 19 casos que defende para o governo.
Em 13 de junho de 1967, Thurgood Marshal é indicado para a Suprema Corte pelo presidente Johnson que declara que essa era “a coisa certa a se fazer, a hora certa de fazer, o homem certo e o lugar certo”. E ele é confirmado por uma votação do Senado de 69 a 11, tornando-se a 96ª pessoa a ocupar o cargo e o primeiro afro-americano.
Direitos individuais
Nos 24 anos – sua aposentadoria acontece em 1991 – em que serve na Suprema Corte, Thurgood Marshall constrói uma histórico liberal, incluindo forte apoio à proteção constitucional dos direitos individuais, especialmente os direitos dos suspeitos de crimes, ao direito ao aborto e na oposição à pena de morte, para ele, em todas as circunstâncias, inconstitucional.
Todos os seus papéis e notas pessoais estão na Biblioteca do Congresso, disponíveis para uso por acadêmicos, jornalistas e o público em geral.
Sua Bíblia foi usada pela vice-presidente Kamala Harris em sua posse em Washington em 20 de janeiro de 2021.
Celebrado
Uma estátua de 2,4 m, a poucos metros do tribunal onde Marshall discutiu casos de discriminação, retrata Marshall como um jovem advogado. Seu nome é ostentado em prédios, escritórios, aeroportos e até na biblioteca da Escola de Direito da Universidade de Maryland, onde ele queria e não pôde estudar, por causa da política de segregação racial.
A Convenção Geral da Igreja Episcopal de 2009 acrescentou Marshall ao calendário litúrgico da Igreja de “Mulheres Santas, Homens Santos: Celebrando os Santos”, designando 17 de maio como seu dia de festa.
Em 1993, a Assembleia Legislativa de Porto Rico instituiu o prêmio anual Thurgood Marshall concedido ao melhor aluno em direitos civis em cada uma das quatro faculdades de direito da ilha caribenha.
Nas telas e nos palcos
Lances de sua carreira jurídica aparecem na minissérie de televisão 1991, Separate but Equal (Separados mais Iguais), onde ele é interpretado pelo ator Sidney Poitier.
Em 2006, Thurgood, uma peça solo escrita por George Stevens Jr., estreia no Westport Country Playhouse, com James Earl Jones e uma versão filmada da peça é exibida em vídeo na Casa Branca durante o Mês da História Negra 2011, descrita pelo Baltimore Sun como “uma das discussões mais francas, informadas e acirradas sobre raça que você verá na TV”.
Uma pintura de Marshall, de Chaz Guest, também tem lugar na Casa Branca.
O filme Marshall: Igualdade e Justiça, com Chadwick Boseman, de 2017, conta um dos casos do então advogado no ano de 1941, sua importância na luta pelos direitos civis e o ser negro nos Estados Unidos da segregação racial.
…
Após a morte de sua primeira esposa, Marshall se casou com Cecilia Suyat com quem teve dois filhos juntos: Thurgood Marshall Jr., um ex-assessor do presidente Bill Clinton; e John W. Marshall, ex-Diretor do Serviço de Marechais dos Estados Unidos e Secretário de Segurança Pública da Virgínia.
Thurgood Marshall morre em 24 de janeiro de 1993.
Fonte: Wikipédia English
Escrito em 15 de novembro de 2010