Nunca mais as Olimpíadas serão como antes.
Além do fato histórico de os Jogos Olímpicos de 2020 terem acontecido em 2021 por causa da maior crise sanitária vivida por esta geração – a pandemia do coronavírus decretada pela Organização Mundial da Saúde, em março de 2020 -, o evento foi marcado pela ausência de público, por representatividade, diversidade, protestos antirracistas e contra a opressão.
Desde a cerimônia de abertura com Naomi Osaka, que acendeu a pira olímpica – símbolo maior da disputa, os Jogos impuseram um tom diferente. A atleta representa a quebra de paradigmas nos esportes. Em 2018, foi a primeira asiática a conquistar o grand slam. Tenista negra, integra o time de atletas ativistas que lutam contra o racismo e pela igualdade de gênero.
Naomi, também, ao lado da ginasta negra Simone Biles colocaram na pauta dos Jogos a importância da saúde menta l de atletas de alto rendimento. As duas se permitiram desistir.
Cotada para ser a grande estrela dos Jogos pelas medalhas que tinha potencial para conquistar – todas -, Simone Biles acabou brilhando ao trazer à luz a questão dos limites, do autorrespeito e de o atleta não colocar a busca de medalhas como o principal da sua vida, chamando atenção para a humanidade mesmo de um super atleta.
Feminino e plural
Do ponto de vista esportivo, a Olimpíadas foram as que tiveram um maior número de países conquistando subindo ao pódio pela primeira vez, bem como com maior representatividade feminina e LGBTQIAP+.
A imprensa conta que a diversidade se fez presente com o maior número de atletas LGBTQIAP+ da história das Olimpíadas jogando e ampliando o debate, a conversa sobre orientação sexual.
O Brasil, por exemplo, pela primeira vez, teve o número de atletas mulheres nos Jogos quase igualado ao de homens. E esse recorde não ficou só na delegação, foi determinante na conquista do 12º lugar na classificação geral. As brasileiras subiram ao pódio 9 vezes, 3 com medalha de ouro.
Tóquio 2021 foi a melhor campanha do Brasil nas Olimpíadas. Superou as 19 medalhas conquistadas no Jogos do Rio 2016 – 7 de ouro, 6 de prata e 6 de bronze, valendo o 13º lugar, conquistando mais duas – 7 de ouros, 6 de prata e 8 de bronze, com destaque para a performance nas novas modalidades olímpicas – skate e surfe – que garantiram quatro medalhas (3 no skate e 1 surfe). Vale destacar que, até então, as olimpíadas do Rio ocupavam o posto de mais LGBTQIAP+ da história.
Na raça
Na ginástica artística, ainda, a grande história de Rebeca Andrade, com a conquista das primeiras medalhas da ginástica feminina – uma de ouro e uma de prata -, e o papel de porta-bandeira do Brasil no encerramento dos Jogos.
Apesar de as Olimpíadas seguirem tentando conter as manifestações para além dos esportes nas arenas, quadras, piscinas e pistas, não foram poucas as seleções de futebol que se ajoelharam em campo, em referência ao assassinato de George Floyd por um policial que o impediu de respirar, em maio de 2020. O destaque fica para a americana Raven Saunders que, no pódio, ergueu os braços e cruzou os punhos em apoio às minorias e contra a opressão.
A medalhista de prata no arremesso de peso nos Jogos Olímpicos de Tóquio chegou a ser investigada por sua atitude ser um ato não recomendado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), mas a ação contra ela acabou suspensa.
Com a marca do Brasil, Ketleyn, a primeira mulher negra a carregar a bandeira brasileira na abertura dos Jogos. E a comemoração do quarto gol da seleção masculina de futebol, marcado por Paulinho, atacante do Bayer Leverkusen (ALE), considerado um importante ato pela tolerância religiosa.
Depois de sacramentar a goleada brasileira de 4 a 2 contra a Alemanha, o atleta simulou atirar uma flecha em homenagem ao orixá Oxóssi, do candomblé. Depois, em uma rede social, Paulinho escreveu:
“Okê Arô! Saravá meu Pai”.
Por fim, no alto do pódio pela seleção brasileira, Paulinho, com o cordão de Oxossi no peito, recebeu sua medalha de ouro.
Que venha Paris 2024.
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