Artista, compositor, cantor, ator, palhaço, idealizador e criador do primeiro circo-teatro do Brasil, na então capital do Brasil, o Rio de Janeiro.
O que este artigo responde: Quem foi Benjamin de Oliveira? Qual o nome do primeiro palhaço negro do Brasil? Qual a história do primeiro palhaço negro do Brasil? Onde nasceu Benjamin de Oliveira? O artista circense é um revolucionário? Quando Benjamin Oliveira começa a viver em um circo? Quais as habilidades circenses de Benjamin de Oliveira? Qual o pioneirismo de Benjamin de Oliveira? Qual a importância do circo-teatro na carreira de Benjamin de Oliveira? Qual é a importância de Benjamin de Oliveira para o circo brasileiro? Como Benjamin de Oliveira começou sua carreira no circo? O racismo atrapalhou a trajetória circense de Benjamin de Oliveira?
Benjamim significa o filho da felicidade e Benjamim de Oliveira, negro, criança ainda quando a Lei Áurea imperava em território nacional, abandonou o lar aos 12 anos e juntou-se à trupe do Circo Sotero, atuando em números de trapézio e de acrobacia, fazendo nascer o primeiro palhaço negro do Brasil e, de acordo com o pesquisador Brício de Abreu, o primeiro palhaço negro do mundo.
O cubano Rafael Padilla, Chocolat, o primeiro palhaço francês, viveu entre 1868 e 1917.
Além de seus números de clown e acrobacia, Benjamim cantava, atuava e até escreveu peças de teatro. Suas múltiplas habilidades o transformaram, também, no primeiro artista negro do cinema brasileiro.
“Minha existência poderia ter ficado encoberta pelas muitas montanhas que encobrem as Minas Gerais se, um dia, uma trupe de circo não tivesse passado por lá”
O criador
Benjamin Chaves, posteriormente conhecido como Benjamin de Oliveira – “Oliveira” adotado do nome do artista Severino de Oliveira, seu orientador no circo -, segundo seu registro de batizado, nasceu em 11 de junho de 1870 na fazenda dos Guardas, atual cidade de Pará de Minas, no estado de Minas Gerais.
Quarto filho de Malaquias Chaves e da escravizada Leandra de Jesus, nasceu livre por sua mãe ser “escrava de estimação” – expressão utilizada para as escravizadas que faziam serviços domésticos -, ele e seus irmão foram alforriados ao nascer.
Do pai não guardava boas lembranças, pois era capataz, considerado um homem terrível, que lhe batia diariamente.
Sempre trabalhador
Com uma infância difícil, aos 12 anos já tinha exercido diversas funções: “madrinha de tropa”, carreiro, candeeiro, guarda-freio, comerciante – vendia bolo na entrada dos circos que passavam pelo Arraial.
Este, aliás, o seu primeiro contato com a vida circense. E, numa dessas, fugiu com o Circo Sotero, que visitava a cidade.
Aprendeu a fazer acrobacias, a arte do trapézio e percebeu que o trabalho no circo vai muito além do espetáculo. Sua rotina diária incluía treinamento árduo e tarefas domésticas.
Escravo?
Após quase três anos trabalhando no Sotero, que percorria o sertão mineiro, Benjamin foge pela segunda vez na vida, provavelmente porque era espancado.
“Meu destino era fugir. Destino de negro…” – eram palavras do próprio Benjamin.
Desta vez, sua parada foi em um grupo de ciganos e é provável que tenha trabalhado como escravo, já que num episódio marcante de sua vida descobre, através de uma moça do grupo, que os ciganos estavam pensando em trocá-lo por um cavalo.
Ao fugir novamente, ele é abordado por um fazendeiro que acha que ele é um escravo em fuga. Para convencer o homem de que era livre e trabalhava como circense, Benjamim faz uma demonstração de suas habilidades artísticas e é autorizado a seguir seu rumo.
Emprego
Após andar por várias vilas, na mendicância, Benjamim chega à cidade de Mococa (MG), onde finalmente encontra trabalho remunerado no circo de um norte-americano chamado Jayme Pedro Adayme. É a primeira vez que ganha como profissional circense.
Como palhaço, sua estreia é é acidental. Ele está com 20 anos de idade e é obrigado, por questões contratuais, a substituir o palhaço da companhia que ficou doente.
“Eu tive que fazer o palhaço. E foi ali, na Várzea do Carmo, naquele barracão de zinco e tábua que eu, pela primeira vez, apareci vestido de palhaço…”, lembrou, certa vez.
O resultado das suas primeiras performances não foi bom. No lugar de gargalhadas, ouviu vaias e assobios. Aguentou firme e transformou-se no principal nome do circo brasileiro, aclamado como o rei dos palhaços no Brasil e respeitado por homens de teatro como Procópio Ferreira.
Sucesso
Após se firmar como artista de circo – com trabalho reconhecido pela crítica e pelo público -, Benjamim foi para o Rio de Janeiro, onde vive um dos momentos mais importantes da sua carreira: o seu desempenho chama a atenção do então presidente da República, Marechal Floriano Peixoto.
No início do século XX, Benjamim de Oliveira é famoso. Seu nome está no material de divulgação do circo em que trabalha.
O circo-teatro, introduzido no Rio de Janeiro por Benjamim Oliveira, teve o seu apogeu entre os anos de 1918 e 1938, com paródias de operetas, contos de fadas teatralizados, apresentação de peças de Shakespeare e representação da morte de Cristo, na Semana Santa.
Nos entreatos cantava lundus, chulas e modinhas, especialmente de seu amigo Catulo da Paixão Cearense, acompanhando-se ao violão.
Sua versatilidade é marco revolucionário do circo brasileiro.
Miséria
Os aplausos, entretanto, não o enriqueceram. Benjamim, no fim da vida, estava praticamente na miséria
Jornalistas chegaram a fazer campanha para Benjamin receber auxílio financeiro do governo federal – e ele até conseguiu, mas usufruiu pouco, falecendo aos 84 anos, em 3 de maio de 1954.
Algumas de suas músicas foram gravadas na Columbia, por volta de 1910.
…
Quer saber mais sobre palhaçaria negra? Acesse o artigo com a história do palhaço Chocolat, sucesso na França, mas não sem lágrimas.
…
Fontes: Museu Afrobrasil; Benjamim, o filho da felicidade, de Heloísa Pires Lima da Coleção De repente, com histórias de vidas que mudaram da noite para o dia; Entre a Europa e a África: a invenção do carioca, de Antonio Herculano Lopes, Topbooks; As múltiplas linguagens na teatralidade circense – Benjamim de Oliveira e o circo-teatro no Brasil no final do século XIX e início do XX, tese de doutorado Unicamp, de Ermínia Silva; Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana, de Nei Lopes, Selo Negro; O circo no Brasil, de Antonio Torres, Funarte/Atração; Revista da Semana 07/10/1944
…
escrito em 2 de dezembro de 2009
Pingback: Chocolat, o primeiro negro a fazer sucesso na França • Primeiros Negros
Pingback: Espetáculo infantil “Quizumba” resgata palhaçaria pioneira no Brasil