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Angela Davis, a militância pantera negra

Mais que pioneira, um ícone do movimento negro e de mulheres, primeira candidata negra à vice-presidência dos Estados Unidos, em 1980 e 1984, como companheira de chapa de Gus Hall, presidente do Partido Comunista americano.

Foto original: Deana Lawson / Vanity Fair

O que este artigo responde:
Angela Davis matou ou sequestrou alguém? Quem foi a primeira candidata negra à vice-presidência dos Estados Unidos?
Angela Davis é comunista?
Angela Davis matou alguém? Qual a importância de Angela Davis?
O que é feminismo segundo Angela Davis?
Como está Angela Davis hoje?
Como Angela Davis ficou famosa?

Angela Yvonne Davis alcança notoriedade na década de 1970 por sua luta pelos direitos das mulheres, contra a discriminação social e racial nos Estados Unidos e por ter sido personagem de um dos mais polêmicos e rumorosos julgamentos criminais da história americana.

Angela nasce no Alabama, um dos estados mais preconceituosos do sul dos Estados Unidos em 26 de janeiro de 1944, na cidade de Birminghan. E, desde cedo, convive com humilhações de cunho racista.

Leitora voraz, aos 14 anos participa de um intercâmbio colegial que oferece bolsas de estudos para estudantes negros sulistas em escolas integradas do norte do país, o que a leva a estudar no Greenwich Village (NY), onde se envolve com uma organização de jovens comunistas.

Na vida estudantil, conquista outras bolsas de estudos: faz  Literatura Francesa na Universidade de Massachussetts e especialização na Universidade de Sorbonne, em Paris. Na Universidade Goethe, em Frankfurt (Alemanha), aprofunda-se no estudo do comunismo e das obras de Karl Marx, que marcam toda sua trajetória, incluindo o início da carreira profissional como professora de Filosofia.

Luzes e expulsão

O então governador anticomunista da Califórnia, Ronald Reagan, faz tudo que pode para impedir Angela Davis de lecionar na Universidade da Califórnia – UCLA, por ela ser declaradamente comunista. 

Sua competência não é questionada no meio acadêmico. Mesmo assim, ela é demitida após o término da primeira aula, assistida por mais de dois mil alunos.

Ao banir Angela Davis da UCLA em 1969, Ronald Reagan “a apresenta” aos Estados Unidos da América – sua expulsão a torna conhecida. Acontece uma mobilização de colegas de academia, do povo negro e de estudantes em sua defesa.

Fora da sala de aula, Angela intensifica a sua militância política e acaba acusada de conspiração, assassinato e sequestro por suposta ligação com uma tentativa de fuga do tribunal do Palácio de Justiça do Condado de Marin, em São Francisco, durante o julgamento de James McClain.

Os fatos

Tudo acontece no dia 7 de agosto de 1970. Seu amigo Jonathan Jackson, de 17 anos, armado e em companhia de dois outros rapazes, invadem o tribunal na tentativa de ajudar na fuga do réu James McClain, acusado de ter esfaqueado um policial.

Os três rendem o juiz, o promotor e vários jurados, gritando que querem os “Irmãos Soledad” em troca. Um tiroteio no tribunal deixa o juiz e os sequestradores mortos. Nas mãos de Jonathan, é encontrada uma arma registrada em nome de Angela Davis – pretexto suficiente para o estado da Califórnia decretar sua prisão e transformá-la em alvo de uma das maiores caçadas humanas do país.

A ativista era conhecida por sua luta pela libertação de presos políticos. E, durante o verão daquele ano, trabalhava com os Panteras Negras, grupo revolucionário de defesa dos direitos dos negros, em busca de apoio da sociedade exatamente para a libertação dos “Irmãos Soledad” – os militantes negros George Jackson (irmão de Jonathan Jackson), Fleeta Drumgo e John Clutchette -, presos na prisão Soledad, em  Monterey.

A prisão

Depois de passar dois meses fugindo, Angela Davis é presa pelo FBI, a Polícia Federal dos Estados Unidos, em Manhattan, Nova York, e passa 18 meses em prisão preventiva, a maior parte do tempo na solitária, longe das outras detentas.

Um movimento de solidariedade internacional levanta fundos para sua defesa.

John Lennon e Yoko Ono lançam a música “Angela” em sua homenagem e os Rolling Stones gravam “Sweet Black Angel”, cuja letra fala de seus problemas legais e pede sua libertação.

Em meio à Guerra Fria, o processo tem repercussão mundial por envolver uma mulher negra, jovem, bonita, culta, politizada, comunista assumida.

Nos longos debates na corte, não apenas o caso criminal envolvido veio à tona, mas uma grande discussão sobre a condição negra na sociedade americana. Manifestações diárias por sua libertação e absolvição aconteciam do lado de fora do tribunal e por todo o país, transmitidas ao vivo pela televisão.

Embora os jurados fossem todos brancos, a ativista negra foi inocentada de todas as acusações e libertada em 4 de junho de 1972.

Em liberdade

Livre, Angela passa um tempo em Cuba. Sua visita à ilha causa grande impacto entre a população negra num tempo em que expressões de identidade de cor eram bem raras.

Suas credenciais revolucionárias permitiram aos nativos se identificarem com seus pensamentos, sem medo de serem taxados de contrarrevolucionários pelo governo.

Em sua história, também, a conquista do Prêmio Lenin da Paz em 1977-1978; o trabalho como professora de História da Consciência na UCLA, em Santa Cruz;  numerosos artigos, ensaios e livros, como O Legado do Blues e o Feminismo Negro, que enfoca a consciência feminista emergente no trabalho das primeiras mulheres do blues.

Uma de suas principais obras é Mulheres, Raça e Classe, de 1980, em que discute a identidade da mulher negra americana.

Seu espaço de luta continua a ser o movimento anticarcerário e a mobilização de mulheres. Em ambos, ela enfatiza que o preconceito racial continua muito presente, mesmo no país que reelegeu o presidente negro Barack Obama.

“Pessoas que estão encarceradas dizem que um homem negro na Casa Branca não é suficiente para anular um milhão de homens negros no sistema carcerário.

Na tela grande

O documentário Libertem Angela Davis (Free Angela and all political prisoners) retrata a vida da ativista, em especial nos anos 1970.

Sua sobrinha, Eisa Davis, assume o papel da ativista no documentário que, em muitos momentos, tem narração da própria Angela.

Como em uma conversa informal, ela narra como, aos 26 anos de idade, tornou-se a mulher mais procurada dos Estados Unidos, relembra os tempos de fugitiva, os tempos de cárcere, revisita os próprios sentimentos.

Em 26 de janeiro de 2024,  Angela Davis completou 80 anos.

Fontes: Vida Afro, jornal A Tarde (BA), Revista Raça, www.dw.de (Deutsche Welle/Alemanha), Brasil de Fato

atualizado em março de 2024

3 comentários em “Angela Davis, a militância pantera negra”

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