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Panteras Negras: O que queremos?

“Nós queremos liberdade.

Queremos poder para determinar o destino de nossa comunidade negra.

Queremos emprego pleno para nosso povo.

Queremos o fim da roubalheira dos capitalistas brancos contra a comunidade negra.

Queremos casas decentes para abrigar seres humanos.

Queremos educação decente para nosso povo. Uma educação que exponha a verdadeira natureza da decadência da sociedade americana. Queremos que seja ensinada a nossa verdadeira história e nosso papel na sociedade atual.

Queremos que todos os homens negros sejam isentos do serviço militar.

Queremos um fim imediato da brutalidade policial e dos assassinatos de pessoas negras.

Queremos liberdade para todos os negros que estejam em prisões e cadeias federais, estaduais, distritais e municipais.

Queremos que todas as pessoas negras levadas a julgamento sejam julgadas por seus pares ou por pessoas das suas comunidades negras, tal como definido pela Constituição dos Estados Unidos.

Queremos terra, pão, moradia, educação, roupas, justiça e paz.”

autodeterminação dos negros, o acesso a itens básicos de sobrevivência e o fim da violência eram as grandes exigências do  Programa de Dez Pontos dos Panteras Negras, estabelecido quando de sua criação em 1966, tornado público em 1967 e reproduzido acima.

Panteras Negras surge em um  cenário de efervescência social. A cada protesto negro, maior a violência policial, maior a violência branca. Na tentativa de dar um basta na situação, os universitários negros Huey Newton e Bobby Seale, de Oakland, Califórnia, criam o movimento.

Só que, diferente da proposta do pastor batista Martin Luther King – que defendia a luta negra pela desobediência civil e por protestos pacíficos -, os Panteras advogavam pela autodefesa armada dos negros contra a violência do Estado. Como os negros da Nação do Islã, fundada em 1930 e que  teve entre seus principais líderes Malcom X.

E eles justificavam isso por meio da 2ª Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que dava direito aos cidadãos de portar armas.

Nós por nós

Ao mesmo tempo, eles defendiam a construção de um projeto de autogestão social para atender os mais pobres. Para eles, a comunidade afro-americana deveria autogovernar-se.

No seu auge  – final da década de 1960 – , com projeção nacional, os Panteras Negras contavam com cerca de  cinco mil membros e tinham mais de 30 comitês em diferentes cidades dos Estados Unidos.

Neste período, as condições de implementar obras sociais ampliaram-se: escolas e hospitais comunitários que prestavam serviços gratuitos para pessoas pobres, sobretudo, negros e latinos; distribuição de alimentostransporte escolaraulas de história dos Estados Unidos dentro a partir da perspectiva negra…

Política partidária e fim

Com o crescimento, o movimento aderiu novas pautas, com influências, principalmente de Frantz Fanon e Karl Marx, até tornar-se partido político de plataforma marxista, portanto, crítica ao capitalismo.

Seu fim acontece em 1982 como resultado de um longo processo de desgaste causado pelo  Federal Bureau of Investigation (FBI), responsável pela investigação criminal nos Estados Unidos.

Eles foram incluídos no Programa de Contrainteligência, que visava desarticular e enfraquecer movimentos considerados subversivos, principalmente aqueles com uma plataforma progressista, com infiltração de agentes, prisão e assassinato de muitos ativistas.

Fonte: História do Mundo

Filmes para saber mais

Os filmes Judas e o Messias Negro, Os Sete de Chicago e Libertem Angela Davis, baseados em fatos reais, contam mais do ser pantera negra nos anos 1960, auge da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, os desafios, a inocência, a truculência policial e da Justiça e do Estado, a resistência e a re-existência negra, sempre renovada.

Judas and the Black Messiah

Cartaz original do filme “Judas and the Black Messiah” (Imagem: Divulgação)

Judas e o Messias Negro conta a história de Fred Hampton, ativista da causa negra, presidente do Partido dos Panteras Negras no estado de Illinois, assassinado aos 21 anos de idade pelo FBI, enquanto dormia, com a ajuda de William O’Neal, de 17 anos, também negro, que, por se fazer passar por homem da lei, acabou nas mãos do FBI e teve de trabalhar infiltrado no partido dos Panteras.

O filme mostra como O’Neal traiu Fred Hampton, vivido pelo ator Daniel Kaluuya – Oscar de melhor ator coadjuvante. Conquistou todo mundo e rapidamente se tornou chefe de segurança dos Panteras.   

Fred Hampton era uma figura pública de trajetória meteórica. Detinha firmeza de princípios e oratória que arrebatava os mais diversos tipos de apoiadores, de companheiros da causa racial a entusiastas dos Confederados.

Tamanho domínio de massas levou o FBI a considerá-lo a figura de maior perigo para os Estados Unidos nos anos 1960, e, como tal, deveria ser contido antes que virasse um “messias negro” pela defesa intransigente dos direitos civis.

A pretexto de tirá-lo de circulação, Hampton foi injustamente acusado de roubar 70 dólares em sorvete de um vendedor ambulante e preso em maio de 1968 e condenado a de dois a cinco anos de prisão.

Os 7 de Chicago

Cartaz original do filme “The Trial of the Chicago 7” (Imagem: Divulgação)

Os 7

Os 7 de Chicago mostra o julgamento de um grupo de ativistas e manifestantes contrários à Guerra do Vietnã, acusado pelo governo dos EUA de conspiração e incitação a revolta durante a Convenção Nacional Democrata de 1968 em Chicago, Illinois

Do ponto de vista histórico-social, vale  observar as várias tendências do movimento pacifista dos anos 1960, representadas nos sete de Chicago: os estudantes democratas, os anarquistas do Partido Internacional da Juventude, os pacifistas radicais independentes e Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), co-fundador dos Panteras Negras, único a ser acorrentado a uma cadeira e amordaçado para não interromper o juiz.

A produção mostra como diversas testemunhas chamadas para depor eram agentes secretos contratados pelo FBI e pela polícia de Chicago que trabalhavam disfarçados para conseguir registrar declarações conspiratórias dos ativistas.

Ambientado em 1968, ano de marcos importantes, como a morte de Martin Luther King, o assassinato do presidente Robert F. Kennedy, a Guerra do Vietnã e a intensificação da luta pelos direitos civis, o julgamento dos ativistas é um dos mais famosos da história norte-americana – durou mais de seis meses e foi acompanhado de perto pela imprensa e pelo público. 

O “mais interessante” e atual no filme é  justamente a presença do único negro do grupo e o único que estava preso à época do julgamento, sendo conduzido algemado à sala do tribunal.

Seale estava encarcerado, acusado pelo assassinato de um policial, acusação da qual, depois, foi inocentado. Seu advogado, com problemas de saúde, ficou impossibilitado de atuar no caso de Chicago e por isso Seale foi inserido, a contragosto, no julgamento dos outros acusados, todos sob a defesa de um advogado branco.

Na época, o republicano Nixon assumiu a presidência, no início de 1969, substituindo o democrata Lyndon Johnson. E essa mudança alterou os rumos do processo.

Em flashbacks, ao longo do julgamento, os acontecimentos do fatídico dia são reconstituídos a partir das lembranças e depoimentos dos envolvidos, ocasionalmente incrementados por vibrantes imagens documentais, o que torna evidentes as diferentes perspectivas e motivações em jogo.

Uma cisão, em especial, sobressai: entre a “revolução cultural” pregada por Hoffman e Rubin, que incluía sexo, drogas e rock’n’roll, e a tendência de participação dentro das instituições, representada por Hayden, que de fato se tornaria depois um político democrata de longa atuação no Congresso.

Mas mesmo essa divergência parece secundária, quase superficial, quando comparada com o fosso entre esses militantes brancos e o negro Seale, sem advogado e sem direito a voz.

Uma das melhores cenas é aquela em que esse abismo histórico-social se explicita, com Seale interpelando o futuro deputado Hayden, que gagueja seu constrangimento. 

Cartaz original do filme "Libertem Angela Davis" (Imagem: Divulgação)

Cartaz original do filme “Libertem Angela Davis” (Imagem: Divulgação)

Libertem Angela Davis

Este documentário conta a história da professora de filosofia e ativista de direitos humanos, nascida no Alabama e conhecida por seu profundo engajamento em defesa dos direitos humanos.

Por defender três prisioneiros negros nos anos 1970, Angela Davis é acusada de organizar uma tentativa de fuga e sequestro, que leva à morte de um juiz e quatro detentos, e entra para a lista das dez pessoas mais procuradas do FBI, tornando-se a mulher mais caçada dos Estados Unidos.

Militante do Partido Comunista e dos Panteras Negras, ela é presa e condenada. Mobilizações no mundo inteiro, encabeçadas por personalidades como John Lennon, Yoko Ono e Sartre, pedem sua libertação.

No documentário, Angela fala como se viu transformada em símbolo da luta da luta pelo direito dos negros, das mulheres, contra o racismo e a opressão policial, numa época de alta efervescência  na política americana.

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