O ano era 1938, época de segregação racial nos Estados Unidos. Daí este pioneirismo ser um feito impressionante e, pelo qual, ela pagou um alto preço.
O que este artigo responde: Quem foi Billie Holiday? Por que é importante Billie Holiday ter integrado uma orquestra de brancos? Qual é a origem do nome Billie Holiday? Qual é o pioneirismo de Billie Holiday? Como foi a infância de Billie Holliday? Que tipo de humilhações Billie Holiday sofreu? Quando Billie Holiday entrou em contato com a música? Qual é a música de maior sucesso de Billie Holiday?
Cantora e compositora afro americana, Billie Holiday nasce em 7 de abril de 1915 na Filadélfia, Pensilvânia, e é considerada pelos críticos de música como uma das maiores e melhores cantoras de jazz da história, ao lado de grandes nomes do gênero como Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Dina Washington.
A primeira mulher negra a integrar uma orquestra de brancos foi batizada Eleanora Fagan Gough, filha de Sarah Julia Fagan e Clarence Holiday. E vira Billie porque sua mãe quis homenagear a atriz Billie Dove, e o sobrenome Holiday veio do pai, músico que abandonou as duas para seguir carreira de guitarrista de jazz.
Seu pioneirismo aconteceu em 1938, quando começou a cantar com Artie Shaw. Trabalhar em uma orquestra de branco foi um feito impressionante no seu tempo e pelo qual ela teve, sempre, de pagar um preço alto.
São amargas as suas experiências com as big bands, entre 1936 e 1938. Ela não era admitida nos hotéis que hospedavam seus colegas da orquestra. Com Count Basie, passa por vexames como pintar o rosto com graxa de sapato porque um empresário achou que sua pele era muito clara. Com a orquestra branca de Artie Shaw, é muito bem tratada pelos músicos mas sente o racismo nas turnês pelo sul dos Estados Unidos.
Criança
As humilhações na vida de Billie Holiday são de todos os tempos. Viveu uma infância miserável. Quando nasceu, seu pai, Clarence Holiday Gough, tinha 17 anos, e sua mãe, Saddy Fagan, 19. Ele era guitarrista e banjista, abandonou a família quando ela era bebê, seguindo viagem com uma banda de jazz.
Abandonada pelo pai, com pouco contato com a mãe, sem irmãos ou amigos, teve uma infância difícil, passando necessidades e todo tipo de humilhação e abuso.
Sua mãe, doméstica – como sua avó e sua bisavó –, foi embora de casa, deixando-a para trás. Aos cuidados de Robert e sua tia Eva Miller, descrita como mãe abusiva, estúpida, violenta e injusta. Depois, na casa de sua avó paterna, Martha Miller, uma mulher que Billie realmente amou.
Vovó Martha se queixava que Billie era incontrolável, fugia da escola para correr nas ruas com os meninos praticando roubos, até ser pega e levada ao Juizado de Menores. Depois disso, Billie passa a viver em uma instituição para meninas negras delinquentes.
Passados nove meses, em liberdade condicional, Billie volta a viver com sua mãe.
Violação
Ela chega aos 10 anos, é violada por um vizinho, abandonada por seus parentes e internada numa casa de correção para meninas vítimas de abuso. Neste local, sofre agressões físicas e psicológicas.
Onze anos marca o abandono definitivo da vida escolar e, aos 12, passa a morar na rua, pedindo esmolas. Até tentava reencontrar a mãe, mas temia reencontrar seus parentes.
Saiu da rua e foi lavar chão em um prostíbulo em troca de um local para dormir e uma refeição por dia. Ficou lá por dois anos. E em um dos quartinhos – conta-se – ela ouviu pela primeira vez um disco de Louis Amstrong e Bessie Smith, apaixonando-se profundamente pelo som dos que mais influenciaram sua música.
Aos catorze anos, violentada sexualmente pelo dono do local onde morava, foge de lá e volta a viver nas ruas, pedindo esmolas, até que toma coragem, volta a casa de seus parentes para procurar sua mãe, que fica feliz ao reencontrá-la.
Com sentimento de culpa, a mãe a leva para Nova York para viverem juntas. Com o tempo, sua mãe ficou desempregada e, ambas, acabam passando necessidades. Billie volta a pedir esmolas e, aos 14 anos, inicia-se na prostituição, atividade que exerce até os 18 anos, sem revelar a nenhum conhecido.
Aos 15 anos, grávida, sem saber quem era o pai, revela a sua mãe que a obriga a fazer um aborto clandestino. Quase morre. O saldo desses 15 anos de vida foram crises, cada vez mais frequentes, de depressão e tentativas de suicídio, “tratadas” com álcool e drogas.
Sobreviver
A carreira de cantora começa por acaso em 1930. Billie – nome que usava na noite como garota de programa – , decide procurar uma outra ocupação menos sofrível, e realizar seu sonho de trabalhar com música. Ela, então, entra em um bar no Harlem e se oferece como dançarina, mas não agrada o público.
Penalizado, o pianista pergunta se ela sabe cantar. A jovem Eleanora diz que não, mas que é o seu sonho. E, ao cantar para a pequena plateia do estabelecimento, é aplaudida de pé e sai de lá com um emprego fixo, onde cantaria somente aos finais de semana.
Para conseguir mais dinheiro, continua a trabalhar na noite como profissional do sexo.
Durante cerca de três anos, ela aparece em vários clubes do Harlem com o cantor Laurence Jackson até que em 1933, é descoberta por John Hammond, produtor de discos da Columbia.
John era frequentador assíduo do bar, começou a pagar mais para ela cantar as músicas que ele escolhia. Iniciaram uma amizade, e posteriormente um caso amoroso passageiro. Ele a levou a um estúdio, onde Billie, nome que já se apresentava espontaneamente, gravou seu primeiro disco, com a big band de Benny Goodman.
Sucesso
Your mother´s son-in-law, seu primeiro disco, marca o início de sua carreira, em 1933, com um grandioso sucesso de vendas. Ela compra um apartamento e deixa definitivamente a vida como garota de programa e cantora informal.
Em 1935, Billie assina com a Brunswick Records, começa uma frutífera parceria com o pianista Teddy Wilson, gravando com ele mais de oitenta músicas em seis anos. Além disso, aparece como estrela, ao lado de Duke Ellington, no filme Symphony in Black.
No ano seguinte, com o lançamento de Summertime, da ópera Porgy and Bess, de George Gershwin, recebe o apelido de “Lady Day” do saxofonista Lester Young, um de seus melhores amigos. Dessa amizade saiu um dos mais felizes casamentos musicais do jazz: o som de seu sax era o perfeito para a voz de Billie Holiday. Em quatro anos, os dois gravaram cerca de 50 canções.
Depois do período das big bands, em 1939, mais uma vez pelas mãos de Hammond, Billie consegue um bom contrato no Café Society, popular boate de público interracial de Nova Iorque. É lá que sua fama começa a se firmar ao apresentar pela primeira vez a canção Strange Fruit, que como hit mundial, tornou Billie a encarnação da música engajada na época.
Strange Fruit, a “fruta estranha” do título e da letra, é o corpo dos negros linchados e enforcados em alguma árvore, onde ficavam sangrando, balançando ao vento, e que era cena comum nos Estados Unidos da época.
Auge
Billie Holiday foi uma das mais comoventes cantoras de jazz de sua época – voz etérea, flexível, levemente rouca, expressando incrível profundidade de emoção…
A partir de 1940, apesar de todo o sucesso, ela ainda enfrentava a depressão profunda com álcool, cigarro, cannabis e heroína, a qual injetava, que se somava a amores desfeitos, agressões, traições e mais tentativas de suicídio.
Nem cantar ela queria por não suportar ser famosa e ter toda sua vida exposta. Todo seu peso emocional se refletia em sua voz grave e emotiva, fazendo cada vez mais sucesso, com shows em diversos países.
Em 1947, de volta ao cinema, fez o filme New Orleans, ao lado de Louis Armstrong, vivendo uma empregada doméstica. Ela aceita o papel para estar ao lado de seu ídolo, mas sob protesto.
No mesmo ano, os problemas com drogas vieram à tona. Ela foi presa na Filadélfia, acusada de posse de heroína. Condenada a um ano e um dia de prisão, ficou em uma clínica de reabilitação. Após ser solta, um concerto foi organizado no Carnegie Hall em março de 1948, o show Holiday on Broadway, no qual ela cantou mais de trinta músicas para uma multidão.
Em 1950, ela aparece no curta-metragem Sugar Chile Robinson, com Count Basie and His Sextet, e começa a excursionar pela Europa, até ser presa de novo.
Em 8 de dezembro de 1957, no The Sound of Jazz, programa de grande audiência, nos estúdios da CBS, foi convidada para cantar, ao lado do saxofonista Lester Young, a canção Fine and mellow, considerado um dos melhores registros da última década de sua vida.
Dinheiro e amores
A vida financeira e amorosa de Billie Holiday é marcada pela turbulência e pela inspiração, que transforma dor em sucesso musical. Na miséria financeira, ela escreve God Bless The Child, com a ajuda do pianista Arthur Herzog, Jr. A letra fala que quando se tem dinheiro os amigos rondam a sua porta, mas se o seu dinheiro acaba, todos eles se vão. E, na parte central, faz referência aos pais que não dão suporte financeiro aos filhos.
No auge da fama, em 1941, começa sua longa lista de frustrações amorosas. Do casamento com Jimmy Monroe (1941 a 1947), Billie compôs uma de suas mais belas canções, Don´t Explain, escrita depois de ver o marido chegar em casa com a roupa manchada de batom.
Pouco depois da separação com Monroe, ela se casa com um sujeito ainda pior: o trompetista Joe Guy (1951 a 1957), que além de a ter levado praticamente à falência parece ter sido responsável pela introdução de Billie no mundo do ópio e da heroína.
Um terceiro casamento, com Louis McKay (1957 a 1959), foi igualmente desastroso. Todos os maridos trabalhavam com música e eram usuários de drogas. E todos os três casamentos acabaram pelo mesmo motivo: humilhações, traições, agressões, ciúme que sentiam de seu talento e desejo de controlar seu dinheiro e vida profissional.
Ela tentou engravidar várias vezes – fez até tratamentos -, mas não conseguiu. Se culpou e isso só fez agravar sua depressão.
Fim
Billie morreu aos 44 anos, em 17 de julho de 1959, em uma cama de hospital, triste e só. A cirrose destruiu seu fígado. Em seu leito de morte, recebeu voz de prisão por posse de drogas. Mas pouco antes de seu falecimento, publicou sua autobiografia em 1956, Lady Sings the Blues, a partir da qual foi feito um filme, em 1972, com Diana Ross no papel principal.
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Fonte: Portal Geledés, Wikipédia
Escrito em 7 de abril de 2015. Atualizado em 13 de agosto de 2024.