Pular para o conteúdo
InícioPioneirismo NegroBillie Holiday, a primeira negra em orquestra de brancos

Billie Holiday, a primeira negra em orquestra de brancos

Billie Holiday nasceu no dia 7 de abril a 100 anos atrás, na Filadélfia, Pensilvânia. A primeira mulher negra a integrar uma orquestra de brancos foi batizada Eleanora Fagan Gough, filha de Sarah Julia Fagan e Clarence Holiday.
Eleanor virou Billie porque sua mãe quis homenagear a atriz Billie Dove, e o sobrenome Holiday veio do pai, músico que abandonou as duas para seguir carreira de guitarrista de jazz.

Resultado de imagem para billie holiday e artie shaw

Seu pioneirismo aconteceu em 1938, quando começou a trabalhar com Artie Shaw. Trabalhar em uma orquestra de branco foi um feito impressionante no seu tempo e pelo qual ela teve, sempre, de pagar um preço alto. Ela não era admitida nos hotéis que hospedavam seus colegas da orquestra.
Suas experiências com as big bands, entre 1936 e 1938, são amargas. Com Count Basie passa por vexames como pintar o rosto com graxa de sapato porque um empresário achou que sua pele era muito clara. Com a orquestra branca de Artie Shaw, é muito bem tratada pelos músicos mas sente o racismo nas turnês pelo sul dos Estados Unidos.
As humilhações na vida de Billie Holiday são de todos os tempos. Viveu uma infância miserável. Sua mãe, doméstica – como sua avó e sua bisavó –, foi embora de casa, deixando-a para trás. Primeiro, aos cuidados de Robert e sua tia Eva Miller, descrita como mãe abusiva, estúpida, violenta e injusta. Depois, na casa de sua avó paterna, Martha Miller, uma mulher que Billie realmente amou.
Vovó Martha se queixava que Billie era incontrolável, fugia da escola para correr nas ruas com os meninos praticando roubos, até ser pega e levada ao Juizado de Menores. Depois disso, Billie passa a viver em uma instituição para meninas negras delinquentes.
Passados nove meses, em liberdade condicional, Billie volta a viver com sua mãe.
Assim, ela chega aos 10 anos, é violentada por um vizinho e levada mais uma vez para o reformatório. Onze anos marca o abandono definitivo da vida escolar.
A busca de outros horizontes, mãe e filha mudam-se primeiro para New Jersey e depois para o Brooklyn. Em Nova Iorque, a ideia era trabalho doméstico, mas logo Billie começa a se prostituir. E em um dos quartinhos do bordel – conta-se – ela ouviu pela primeira vez um disco de Louis Amstrong e Bessie Smith, apaixonando-se profundamente pelo som dos que mais influenciaram sua música.

Obra do acaso

A carreira de cantora começou por acaso em 1930 quando, à procura de emprego, Billie resolve percorrer os bares do Harlem  se oferecendo para dançar. Sua primeira apresentação foi um desastre. Mas, ela teve uma segunda chance: tentar cantar. Assim nasce Billie Holiday.
Resultado de imagem para billie holiday

Durante cerca de três anos, ela aparece em vários clubes do Harlem com o cantor Laurence Jackson até que em 1933, é descoberta por John Hammond, produtor de discos da Columbia, responsável pela gravação de seu primeiro disco, com seu sucesso Your mother´s son-in-law.

Em 1935, Billie assina com a Brunswick Records. Começa uma frutífera parceria com o pianista Teddy Wilson, gravando com ele mais de oitenta músicas em seis anos. Além disso,  aparece como estrela, ao lado de Duke Ellington, no filme “Symphony in Black”.

No ano seguinte, com o lançamento de Summertime, da ópera Porgy and Bess, de George Gershwin, recebe o apelido de “Lady Day” do saxofonista Lester Young, um de seus melhores amigos. Dessa amizade saiu um dos mais felizes casamentos musicais do jazz: o som de seu sax era o perfeito para a voz de Billie Holiday. Em quatro anos, os dois gravaram cerca de 50 canções.

Depois do período das big bands, em 1939, mais uma vez pelas mãos de Hammond, Billie consegue um bom contrato no Café Society, popular boate de público interracial de Nova Iorque. É lá que sua fama começa a se firmar ao apresentar pela primeira vez a canção Strange Fruit, que como hit mundial, tornou Billie a encarnação da música engajada na época.

Strange Fruit, a “fruta estranha” do título e da letra, é o corpo dos negros linchados e enforcados em alguma árvore, onde ficavam sangrando, balançando ao vento, e que era cena comum nos Estados Unidos da época.

Dinheiro e amores

A vida financeira e amorosa de Billie Holiday é marcada pela turbulência e pela inspiração, que transforma dor em sucesso musical. Na miséria financeira, ela escreve God Bless The Child, com a ajuda do pianista Arthur Herzog, Jr. A letra fala que quando se tem dinheiro os amigos rondam a sua porta, mas se o seu dinheiro acaba, todos eles se vão. E, na parte central, faz referência aos pais que não dão suporte financeiro aos filhos.

No auge da fama, em 1941, começou sua longa lista de frustrações amorosas. Do casamento com Jimmy Monroe, Billie compôs uma de suas mais belas canções, Don´t Explain, escrita depois de ver o marido chegar em casa com a roupa manchada de batom. Pouco depois da separação com Monroe, ela se casou com um sujeito ainda pior: o trompetista Joe Guy, que além de a ter levado praticamente à falência parece ter sido responsável pela introdução de Billie no mundo do ópio e da heroína. Um terceiro casamento, com Louis McKay, foi igualmente desastroso.

Em 1947, de volta ao cinema, ela faz o filme “New Orleans”, ao lado de Louis Armstrong, vivendo uma  empregada doméstica. Ela aceita o papel para estar ao lado de seu ídolo, mas sob protesto.

Mais drogas

Os problemas com drogas vieram à tona no ano de “New Orleans”. Ela foi presa na Filadélfia, acusada de posse de heroína. Condenada a um ano e um dia de prisão, ficou em uma clínica de reabilitação. Após ser solta, um concerto foi organizado no Carnegie Hall em março de 1948, o show Holiday on Broadway, no qual ela cantou mais de trinta músicas para uma multidão.

Em 1950, ela aparece no curta-metragem “Sugar Chile Robinson”, com Count Basie and His Sextet e começa a excursionar pela Europa, até ser presa pela segunda vez.

Em 8 de dezembro de 1957, no The Sound of Jazz, programa de grande audiência, nos estúdios da CBS, foi convidada para cantar, ao lado do saxofonista Lester Young, a canção Fine and mellow, considerado um dos melhores registros da última década de sua vida.

Billie morreu aos 44 anos, em 17 de julho de 1959, numa cama de hospital, triste e solitária. A cirrose destruiu seu fígado. Em seu leito de morte recebeu voz de prisão por posse de drogas.


Fonte:
Portal Geledés

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *