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Buscar o passado e imaginar o futuro

- Sílvio de Almeida

Sílvio de Almeida (Imagem: Christian Parente / divulgação)

Afrofuturismo é a tecnologia com elementos tradicionais, a estética cultural que mistura ficção científica e ancestralidade. É a África que mostra sua força através da arte e da filosofia, resgata seu passado, olha o presente de maneira crítica e vislumbra o que pode ser o futuro.

O provérbio do povo acã diz que “não é errado voltar atrás pelo que esqueceste”. Junto desse provérbio há o adinkra sankofa, o símbolo do pássaro que se volta para trás, pega a semente que será plantada no presente e que se tornará uma árvore no futuro.

Aqui o recado é bastante escuro:

as sementes do futuro estão no passado e é para lá que se deve olhar quando nos comprometemos a construir um novo amanhã.

Nessa perspectiva, o advogado, filósofo e professor Sílvio Luiz de Almeida diz que o artista afrofuturista busca vislumbrar um futuro diferente daquele que é ditado pela imaginação da branquitude.

O afrofuturismo é uma disputa da narrativa e a busca de uma perspectiva que não relegue ao povo negro o papel de vítima indefesa, mas que o represente como um agente político e narrador de sua própria história.

Silvio Luiz de Almeida preside o Instituto Luiz Gama e é autor dos livros Racismo Estrutural, Sartre: Direito e Política e O Direito no Jovem Lukács:A Filosofia do Direito em História e Consciência.

O termo Afrofuturismo é cunhado pelo crítico cultural Mark Dery no ensaio Black to the future, publicado em 1994. Com esse termo, Dery busca descrever as produções de artistas negros que, ao colocarem pessoas negras como protagonistas, utilizam elementos da ficção científica e criam em suas obras outras possibilidades de futuro para a população negra no mundo.

Um dos primeiros artistas afrofuturistas é o músico de jazz Sun Ra que, na década de 1950, fazia uma mistura de jazz com rhythm and blues, gospel e blues, dentro de um gênero conhecido como hard bop.

Sun Ra segura objeto.

Junto de sua música, Sun Ra trazia elementos das diferentes culturas africanas, principalmente da cultura egípcia, além de utilizar temáticas ligadas à exploração espacial – um assunto de vanguarda na época.

Na literatura de ficção científica, a escritora estadunidense Octavia Butler é a pioneira. Ao utilizar a estética afrofuturista, ela aborda em suas obras temáticas relacionadas ao racismo e ao feminismo negro.

Nos quadrinhos, destaque para o Pantera Negra, o herói cuja identidade é o grande rei T’Challa de Wakanda – país fictício localizado na África subsaariana, conhecido por ser um próspero polo tecnológico que não abandona suas tradições.

O século XXI traz consigo uma nova geração de artistas que abraçam a estética e a filosofia do afrofuturismo. Na música mundial, exemplos são o Duo Chloe X Halle ou Ibeyi, além das divas do pop Rihanna e Beyoncé.

No cenário artístico brasileiro atual, registre-se dois representantes da estética afrofuturista: a cantora, compositora e atriz Ellen Oléria e o escritor Fábio Kabral, autor de O caçador Cibernético da Rua 13.
Todos, nos quatro cantos do planeta, produzindo conhecimento e um modo de habitar a Terra para que nos mantenhamos vivos, felizes, existentes.

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1 comentário em “Silvio Almeida: buscar o passado e imaginar o futuro”

  1. Pingback: Benedito Gonçalves, ministro da Justiça negro

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