A pessoa mais famosa do mundo, o homem mais importante da história musical, artista negro – bailarino, cantor, compositor, performer, produtor, empresário -, criança precoce, luz e sombra, dor e prazer. Nele, várias versões de todos nós, a ponto de nos deixarmos seguir por seus passos.
Tania Regina Pinto
O que este artigo responde: Quem é um dos músicos mais icônicos da história? Qual é a história dos Jackson 5? Como Michael Jackson se tornou o Rei do Pop? Quem foi Michael Jackson? Quais os maiores sucessos de Michael Jackson? Quantos prêmios Grammy Michael Jackson ganhou? Qual o pioneirismo de Michael Jackson? Qual a ligação de Michael Jackson com a MTV? Por que Michael Jackson aparece no Guinness Book, o livro dos recordes? Quais os segredos na vida de Michael Jackson?
“Ele era um bailarino.
Qualquer um que olhasse para Michael Jackson dançando também queria dançar. E isso é a coisa mais importante que pode haver no mundo dessa ou de qualquer outra arte.
O planeta inteiro – crianças, adolescentes e adultos – passou a imitar as coreografias que ele desenvolveu, seu breque, sua maneira de quebrar a música no corpo, a forma como unia os passos ao ritmo.
O jeito de ele dançar era hip hop, era funk, era breakdance – mas não resultava em nada disso porque era reinvenção.
Tinha as proporções de um bailarino. Pernas compridas, mãos enormes, aqueles braços. Seu corpo era completamente expressivo…
A dança é uma vida muito árdua, exige grandes esforços. E Michael era um símbolo total disso. Completamente meticuloso, perfeccionista. Ficava visível que todos aqueles passos estavam milimetricamente calculados. Uma precisão acima da perfeição. Mas, ao mesmo tempo, era indisfarçável o prazer que sentia ao fazer aquilo.
E nem precisava dançar. No clipe que gravou no Brasil, Michael quase só andava. Mas com uma elegância e uma destreza comparáveis apenas às de Fred Astaire – que, de fato, era um de sus ídolos…”
As palavras, até aqui, são da bailarina e coreógrafa Débora Colker, em texto de opinião publicado na Folha de S. Paulo de 27 de junho de 2009 – dois dias depois da morte trágica do artista em Los Angeles, aos 50 anos de idade.
Ele foi internado às pressas após sofrer uma parada cardíaca, causada por uma overdose de remédios.
Número 1
No nosso espaço, ele chega pela ‘porta’ do fato inédito na história do povo negro: Michael Joseph Jackson, nasce em Gary, em 29 de agosto de 1958, é o primeiro cantor afro-americano a ter um clipe exibido na emissora, alavancando a fama do novo canal.
É 2 de março de 1983. A MTV – com apenas 1 ano de fundada – transmite Billie Jean, obra-prima que abre um caminho completamente novo para o canal recém-criado e que, não por acaso, faz o artista ser, até hoje, homenageado com o Michael Jackson Video Vanguard Award por conta de seus recordes.
Com suas performances no palco, ele populariza uma série de complexas técnicas de dança, como o Robot, o The Lean (inclinação de 45º) e o famoso Moonwalk.
À popularidade de seus clipes, como Beat it, Billie Jean e Thriller, é creditada também à transformação do videoclipe em uma forma de promoção musical.
Criança precoce
Michael começa a cantar e a dançar aos cinco anos de idade. Inicia a carreira profissional aos onze, como vocalista dos Jackson 5, e a carreira solo aos treze, em 1971, quando é reconhecido como o Rei do Pop e maior ícone negro de todos os tempos. Isso porque assina os cinco álbuns de estúdio mais vendidos no mundo em todos os tempos: além de Thriller (1982), Of the Wall (1979), Bad (1987), Dangerous (1991) e History (1995).
Thriller estreia no top 10 do ranking. Após 10 semanas, alcança um pico na quarta posição e permanece 37 semanas consecutivas sem quedas e oscilações, considerada assim uma das maiores estabilidades do ranking de álbuns.
Já o maior single do álbum Dangeours, em seu lançamento, é transmitido simultaneamente em 27 países, calculando um impacto de 500 milhões de pessoas apenas em sua estreia, sendo até 2021, pelo menos, considerado a maior repercussão de um clipe na história.
1983 – logo após o álbum – é o ano de descoberta e ápice de todo seu potencial artístico. Somente naquele ano, ele garante sete Grammys – premiação da Academia de Gravação dos Estados Unidos em reconhecimento à excelência do trabalho e conquistas na arte de produção musical – incluindo: Gravação do Ano (com Beat It) e Álbum do Ano (com Thriller).
Nos três trabalhos, seu produtor musical é Quincy Jones, o manda-chuva do pop americano. Os dois se conhecem e, após conversarem sobre assuntos diversos, Michael pede que ele indique um produtor para trabalhar no seu próximo álbum. Irônico, Quincy Jones diz o seu nome e, assim, nasce uma dupla imbatível. E eles trabalham juntos durante oito anos, de 1979 a 1987, e brilham juntos.
Michael também conquista gramofones – troféu de premiação da Academia de Gravação dos Estados Unidos -, com diversos clipes, um póstumo e, em 1993, um exclusivo de Lenda do Grammy.
Outros pioneirismos
Michael Jackson é um dos poucos artistas a entrarem duas vezes ao Rock And Roll Hall of Fame. Seus outros prêmios incluem vários recordes certificados pelo Guinness World Records, incluindo 23 Grammys e 41 canções a chegar ao topo das paradas como cantor solo – e vendas que superaram um bilhão de discos vendidos, sendo o artista mais vendido de todos os tempos.
Passados mais de dez anos de sua morte trágica, ele continua sendo reverenciado por uma legião de fãs e sendo citado como “a pessoa mais famosa do mundo”, o maior astro musical da História.
Seu estilo diferente e único de cantar e dançar, bem como a sonoridade de suas canções influencia uma série de artistas do hip hop, R&B, pop e rock.
Michael é também compositor, produtor, empresário e filantropo – doou milhões de dólares durante toda sua carreira a causas beneficentes.
O artista aparece no livro de recordes, o Guinness Book, por conta de sua preocupação, ao longo de toda a vida, com as condições das minorias. Orfanatos, asilos e ONG’s de periferia eram alvos principais de suas doações. Em 2020, inclusive, a Fundação Michael Jackson realiza doações para famílias que sofrem com a pandemia da covid.
Segredos
Revelações contidas no livro do jornalista Dylan Howard, publicado em julho de 2020, intitulado Mau: Uma investigação sem precedentes sobre o encobrimento de Michael Jackson, com fragmentos do seu diário e detalhes da autópsia do seu corpo, contam da pessoa contida no ídolo.
Michael morre aos 50 anos com uma overdose de anestésico cirúrgico na sua mansão em Los Angeles. A autópsia revela que o artista tinha tatuagens ocultas – no couro cabeludo, para que a linha do cabelo se misturasse com a peruca que usava diariamente, nas sobrancelhas e nos lábios; feridas – provocadas por inúmeros injeções a que se submetia, e várias cicatrizes – provocadas por cirurgias estéticas.
A autópsia revela ainda um artista consumido pela anorexia. No estômago, Michael não tinha mais do que cápsulas de comprimidos. O Rei da Pop sobrevivia com apenas uma refeição diária.
Outro dos segredos mais bem escondidos de Michael eram os seus pés que, com o passar dos anos, ganharam calos e infeções fúngicas – que ele sempre se recusou tratar, por vergonha -, que pioraram a ponto de a pele começar a apodrecer.
O clareamento da sua cor era devido ao vitiligo – doença caracterizada pela perda da coloração da pele, devido à diminuição ou ausência das células responsáveis pela formação da melanina, pigmento que dá cor à pele.
Cirurgias
A vida pessoal do astro sempre esteve envolta em mistérios e grandes controvérsias. Além das questões de saúde física, Michael Jackson era obcecado pela mudança de visual para eliminar qualquer semelhança com o pai, a quem odiava.
Nos anos 1970, aos 19 anos, decide fazer sua primeira cirurgia plástica. – não gostava do tamanho e formato de seu nariz. O resultado foi insatisfatório. Ele mexeu ainda mais e acabou desenvolvendo problemas respiratórios.
Após o lançamento de Thriller, ele deixa de usar o cabelo no estilo afro e passa a utilizar maquiagem para “branquear” a pele, faz mais uma cirurgia no nariz e implanta enchimento nas bochechas.
A radicalização visual acontece nos anos 1990 – modifica completamente o nariz, a pele empalidece, o rosto recebe, ainda, implantes no queixo e ele passa a usar peruca.
No início dos anos 2000, é obrigado a utilizar um implante e uma fita no nariz para impedir que os fluidos de uma cirurgia mal sucedida vazassem para sua boca. Na mesma época, seu visual fica cada vez mais feminino.
Abuso
Em 1993, o artista é acusado de abuso sexual infantil por Evan Chandler, pai de Jordan Neil “Jordy” Chandle, 13 anos. A amizade entre Michael e o garoto era conhecida e noticiada nos tabloides.
Na época, Chandler, o pai, confrontou sua ex-esposa June, que tinha a custódia do filho do casal, com suspeitas de que o filho tivesse um relacionamento inadequado com o cantor. Mas a mãe descartou suas preocupações.
Mas o pai insiste e o psiquiatra Mathis Abrams escreve uma carta informando que havia “suspeita razoável” de abuso sexual. E, com ajuda de um advogado, Chandler tenta resolver o problema com um acordo financeiro.
Michael Jackson oferece 350 mil dólares – Chandler não aceita.
Em 14 de setembro de 1993, a família entra com uma ação contra Jackson por agressão sexual, sedução, conduta dolosa, inflição intencional de sofrimento emocional, fraude e negligência.
Era a terceira etapa da turnê mundial Dangerous… As notícias recebem atenção da mídia mundial. Ele cancela o restante da turnê e, em janeiro de 1994, Jackson chega a um acordo financeiro de US$ 23 milhões com a família Chandler.
Em setembro de 1994, a investigação criminal é encerrada depois que os Chandlers se recusam a cooperar, deixando o caso sem sua principal testemunha.
As alegações afetam sua imagem pública e posição comercial. Vários acordos de patrocínio são cancelados, incluindo sua parceria com a Pepsi, depois de uma década.
Surgem outras acusações, das quais Jackson é considerado inocente.
Em novembro de 2009, cinco meses após a morte do artista, Evan Chandler comete suicídio – ela havia se distanciado da família e tinha diagnóstico de depressão.
Pais e Filhos
Abusos físicos e psicológicos são parte da história do menino Michael. Para tornar os Jackson 5 um sucesso, Joe Jackson, pai e empresário, trata os filhos com mãos de ferro.
Formado em 1964, o Jackson 5 se torna, sim, um dos mais importantes grupos para a música dos Estados Unidos e do mundo, mas não sem dor.
Os “métodos” para esse sucesso são revelados anos depois, quando todos já são adultos e cuidam (em sua maioria) das próprias vidas e carreiras. A infância de Jackie, Tito, Jermaine, Marlon, Randy e, especialmente, Michael é uma história de repressão e violência rumo ao estrelato.
O assunto vem a público, pela primeira vez, em 1983, durante entrevista de Michael Jackson à apresentadora Oprah Winfrey em seu programa. Na conversa, ele revela o punho de ferro com o qual o pai tratava os filhos para alcançar a perfeição.
Ele, o mais talentoso do grupo, era constantemente vítima de ações brutas para continuar treinando. O pai acompanhava os ensaios com um cinto na mão.
E quando não batia nas crianças com a fivela do cinto, usava o cabo de uma chaleira elétrica. Eles eram proibidos de brincar com outras crianças na rua e tinham de ensaiar performances e músicas, pelo menos, cinco horas por dia, na volta da escola.
No seu testamento, Michael Joseph Jackson deixa 40% de todo o patrimônio – avaliado em US $ 250 milhões – para os seus três filhos. Outros 40% vão para a mãe, Katherine Jackson, que ainda fica com a guarda das crianças. Para os pais e para os irmãos, ele não deixa nada.
Atemporal
Morto há uma década e meia, Michael Jackson bate recorde de faturamento em 2024. O show MJ: The Michael Jackson Musical tem lotado teatros e se tornado um sucesso de bilheteria semanal de aproximadamente US$ 6 milhões.
Espetáculos teatrais e musicais dedicados à vida e obra seguem em turnê, nos Estados Unidos e na Europa.
Seu legado financeiro ultrapassa US$ 3,3 bilhões desde sua morte em 2009. E, recentemente, os responsáveis por todo patrimônio conseguiram autorização na justiça para a venda de direitos de publicação e gravação do catálogo do artista para a Sony – uma negociação que ultrapassa US$ 600 milhões, mesmo com a resistência de sua mãe, Katharine Jackson.
Depois de Michael Jackson, ocupam o topo da lista dos mais bem pagos, celebridades que também partiram precocemente, como Freddie Mercury, Bob Marley e Whitney Houston, segundo MJBeats.
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Fontes: Uol, Wikipédia, Observatório do Cinema, Tracklist, Cofina Media, Folha de S. Paulo, Estadão, MJBeats
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Escrito em 25 de junho de 2010. Atualizado em 5 de novembro 2024
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