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Quincy Jones, o negro mestre da música

Você já parou para pensar na história por trás das lendas da música? Quincy Jones é um desses gigantes, cuja vida parece um roteiro de cinema. Nascido em 1933, Quincy poderia ter seguido um caminho muito diferente, flertando com a ideia de se tornar um gangster até os 11 anos. Mas, ao invés disso, escolheu as teclas do piano e se tornou o manda-chuva do pop americano. Vamos mergulhar na vida de Quincy Jones, o homem que fugiu do medo e do mundo do crime para se tornar um ícone da música, colecionando 28 Grammys e sendo o primeiro em muitas frentes na indústria musical.

O manda-chuva do pop americano viveu uma infância difícil e nas teclas do piano encontrou o seu céu, fugindo do medo e do mundo do crime.

Quincy Jones
Quincy Jones (Imagem: Getty Images)

Escolhas!

A vida de Quincy Delight Jones Júnior poderia ter tomado um rumo diferente caso decidisse realizar seu desejo, até os 11 anos, de ser gangster. O destino, no entanto, não lhe reservou um espaço na marginalidade, mas na fama, com luz, câmera, ação,  sucesso, luxo e muitos prêmios. Só Grammy –  em reconhecimento à excelência do trabalho e conquistas na arte de produção musical -, ele coleciona 80 indicações, 28 troféus, e um Grammy Legend, conquistado em 1992, que celebra sua carreira de compositor, arranjador, produtor musical e empresário.

Nesta terceira década do século XXI, no auge dos seus 88 anos – e há mais de seis décadas na indústria do entretenimento -, Quincy acumula vários pioneirismos: primeiro produtor negro do mundo, primeiro negro a escrever trilhas sonoras para o cinema e o primeiro negro a ser indicado ao Oscar, pela criação da trilha sonora do filme A Cor Púrpura.

Nas próximas linhas vamos aprender muito com Quincy Jones… Ele conta, por exemplo, que o rap vem dos tambores da África. 

“Não se vive sem água ou música.”

A frase é do nosso pioneiro, amante dos instrumentos musicais. Aos 14 anos,  já tocava piano e trompete. E seu mentor não foi ninguém menos que Ray Charles, o “pai” da soul music.

Em 1947, com 17 anos de idade, morando com a família em Bremerton, Washington, conheceu Ray – que já era um pianista talentoso e reconhecido no bairro em que moravam – e logo firmaram amizade, formaram um duo e passaram a se apresentar em casamentos e clubes de jazz.

Quincy Jones e Ray Charles
Quincy e Ray (Imagem: Quincy Jones/Facebook)

Depois, os dois se aventuraram nas noites de Seattle, tocando ao lado de Billie Holiday – foi acompanhando a cantora que o produtor decidiu que nunca iria usar drogas. E ele conta o episódio em entrevista ao portal The Hollywood Reporter, diante da pergunta:

 “O que você aprendeu com Billie?” 

– “Oh meu Deus, fique longe da heroína. Ela mal conseguia

chegar ao palco, cara.” 

E Quincy Jones também recusou, também, a maconha oferecida pelo seu ídolo e colega de trabalho Charlie Parker, saxofonista e compositor.

Estudar ou trabalhar?

Outro divisor de águas na vida de Quincy foi a escolha entre seguir os estudos de música na Berklee College of Music, em Boston, uma grande academia americana de jazz, ou fazer uma  turnê como trompetista e pianista na bandleader de Lionel Leo Hampton. 

Ele só tinha 19 anos, colocou todos os seus instrumentos em uma mala como músico profissional. 

Ao lado de Hampton, Quincy desenvolve sua paixão por arranjos musicais e se impõe um novo desafio – era a década de 1950, periodo de segregação racial sem disfarce – banheiros, bebedouros, lugar nos ônibus, tudo separado, brancos de um lado e pretos do outro, com tudo de pior.

Para artistas negros, a somar-se, hotéis separados, porta dos fundos sempre nos locais de show, sem direito a restaurante e, sobretudo, a proibição de que negros escrevessem acordes para instrumentos de cordas! 

O engenheiro

Não, Quincy Jones não mudou de profissão, mas construiu e atravessou a ponte sobre o abismo que o impediria de brilhar como arranjador.

Depois do sucesso integrando o grupo de Leo Hampton, ele se muda para Nova York, recebe inúmeros pedidos de composição de arranjos e passa a trabalhar para Sarah Vaughan, Count Basie, Duke Ellington e para seu velho amigo Ray Charles.

Quincy Jones e Frank Sinatra
Quincy Jones e Frank Sinatra trabalhando juntos em 1964 (Imagem: Getty images)

E não para: assina a direção musical da Dizzy Gillespie Band, em  turnê pelo Oriente Médio e América do Sul; participa de concertos de jazz e monta seu próprio grupo instrumental para apresentações na América do Norte e na Europa.

Nas telas do cinema

Na década de 1960, a indústria cinematográfica dos Estados Unidos dá indícios de que seria um boom mundial. Observando como Hollywood se comportava, Quincy Jones sente que pode ganhar mais dinheiro no lado comercial da música. 

Já consagrado como diretor musical, ele assina contrato com a Mercury Records e, em 1964, é promovido a vice-presidente da companhia, o primeiro afroamericano a ocupar tal cargo.

Nessa função, começa a produzir trilhas sonoras para filmes e programas de TV e alcança 40 obras de sucesso! A primeira, a convite do diretor Sidney Lumet, é a trilha do filme The Pawnbroker (O Homem do Prego). Mas valem destaque, ainda, as trilhas dos filmes “A Sangue Frio”, “No Calor da Noite” e “A Cor Púpura”, indicado ao Oscar.

Dupla imbatível

De uma brincadeira –  dita em tom sério – Quincy Jones ‘decreta’ a sua maior colaboração musical… Tudo acontece enquanto ele está trabalhando na trilha do filme “The Wiz”. 

Quincy e Michael Jackson se conhecem e, após conversarem sobre assuntos diversos, o rei do pop astro pede que ele indique  um  produtor para trabalhar no seu próximo álbum. Irônico, Quincy Jones diz o seu nome e, assim, nasce assim uma dupla imbatível.

As duas estrelas trabalham juntas durante oito anos, de 1979 a 1987, e brilham juntas.

Quincy Jones e Michael Jackson
Michael Jackson e Quincy Jones durante premiação do Grammy (Imagem: Reprodução)

A primeira produção de Quincy é para o álbum “Off The Wall”, lançado em 1979, e vende  40 milhões de cópias, tornando-se um dos mais aclamados discos de música negra do século XX

A segunda produção é “Thriller”, em 1982, disco mais vendido da história da indústria musical – cerca de 110 milhões de cópias no mundo inteiro.

O terceiro, e último trabalho, foi na composição do álbum “Bad”, de 1987 – 30 milhões de cópias vendidas mundialmente. 

Depois, os dois voltaram a trabalhar juntos e, 1984, reunindo em estúdio artistas americanos renomados para gravar a lendária canção “We Are The World”, com o propósito de arrecadar fundos para as vítimas da fome na Etiópia, a segunda nação mais populosa da África.

Ativismo e filantropia

Orquestrar a canção “We Are The World”, chamando atenção dos governantes para o que se passa no continente africano e, desse modo, arrecadar capital para ajudar as famílias, não foi a primeira ação solidária do produtor musical.

Seu ativismo social começa nos anos 1960, com o apoio de Martin Luther King Júnior. E, até hoje, o compositor usa sua influência para ajudas comunitárias.

Martin Luther King Junior
Martin Luther King Junior (Imagem: Reprodução)

Na década de 1970, ajudou a fundar o Institute for Black American Music (Instituto para a Música Negra Americana – IBAM), organização que prioriza fundos  para criação de bibliotecas e a promoção de arte e música afro-americana nos EUA.

Quincy Jones é também um dos fundadores do Black Arts Festival (Festival de Artes Negras), em Chicago, e trabalha ao lado do vocalista Bono, da banda U2, em vários trabalhos filantrópicos.

A instituição de destaque é a Quincy Jones Listen Up Foundation, uma fundação que dá aos jovens acesso à tecnologia, educação, cultura e música. Um dos programas da organização é o intercâmbio intercultural entre os jovens carentes de Los Angeles e da África do Sul.

Vida pessoal

Quincy nasce em 14 de março de 1933, no estado de Illinois, no sul de Chicago, Estados Unidos, e cresce em um ambiente segregado, onde os brancos detinham todos os privilégios.

Seus pais são Sarah Frances e Quincy Delight Jones Sênior. 

Ela, diretora de um banco e gerente de apartamentos.

Ele, jogador de baseball semiprofissional e carpinteiro. 

Mas o casal não lhe garante uma infância fácil. Ao contrário. Sua mãe sofria de esquizofrenia –  perturbação mental marcada por alucinações,  delírios e desorganização do pensamento -, e ele sentia medo dela. Isso porque falaram para ele que, em um dos seus ataques, poderia matá-lo. Daí sua preocupação constante em proteger-se e proteger seu irmão mais novo, Lloyd.

Como a música se encaixa na história?

Aos 6 anos,  ele sempre escapava para casa de sua vizinha para tocar piano quando a situação na sua casa estava ruim. A música era o seu porto seguro para fugir das perturbações e acabou desviando o seu caminho do mundo do crime:

“Eu queria ser um gângster até meus 11 anos”, recorda.

Aos 7 anos, órfão de mãe – ela foi internada em um hospital psiquiátrico após um surto, em uma camisa-de-força -, foi morar com o pai e com a madrasta, até que em 1950, aos 17 anos, ganha uma bolsa de estudos na Berklee College of Music, onde cursa música por um ano.

Berklee College of Music
Berklee College of Music, Boston, Massachusetts (Imagem: Tim Pierce/Wikimedia Commons)

Quando se muda para Paris, na França, retoma os estudos de composição musical e teorias da música clássica com os compositores franceses Nadia Boulanger e Olivier Messiaen.

Quincy Jones resistiu às drogas ilícitas, mas em 1970 tornou-se  viciado em trabalho e em álcool, comprometendo a própria saúde: teve coma diabético, um aneurisma e quase morreu.

Sobre seus amores: cinco mulheres – se casou com três – e seis filhas e um filho! 

Com Jeri Caldwell, a primeira esposa (1957), Jolie Levine. 

Com Carol Reynolds (1966),  Rachel Jones. 

Com a atriz e modelo sueca, Ulla Anderson, um casal – Martina Jones e Quincy Jones III.

Com Peggy Lipton,  Kidada e Rashida Jones. 

Com a atriz  Nastassja Kinski,  Kenya Jones.

Vale assistir o documentário “Quincy”, que  traça um panorama inédito da vida privada e da carreira invejável deste ícone da cultura e mestre da música pop americana, com direção e roteiro assinado por sua filha Rashida Jones e Alan Hicks.

A construção de um retrato íntimo do artista e a celebração de seu passado e de seu  presente – suas contribuições para o jazz, o pop, o hip hop e o mundo da música em geral – acontece ao longo de três anos, enquanto o artista se prepara para o show de abertura do National Museum of African American History & Culture.

Fontes: Uol, Schoolofrock, Wikipédia, Veja, Offradranch, SoukWalking, Netflix

Quincy Jones: Da Marginalidade à Maestria Musical

Quincy Delight Jones Júnior, nascido em 1933, é uma figura emblemática na música americana, conhecido por seu trabalho revolucionário como compositor, arranjador, produtor musical e empresário. Sua infância foi marcada por dificuldades e uma breve inclinação para a vida de gangster, mas a música o salvou, levando-o a uma carreira sem precedentes. Com 80 indicações ao Grammy e 28 vitórias, além de um Grammy Legend em 1992, Quincy Jones quebrou barreiras raciais e se tornou o primeiro produtor negro do mundo, o primeiro a escrever trilhas sonoras para o cinema e o primeiro negro a ser indicado ao Oscar. Sua amizade com Ray Charles, sua decisão de escolher a música em vez de seguir uma carreira acadêmica em Berklee, e sua parceria com Michael Jackson são apenas alguns dos destaques de sua carreira lendária.

Quem é Quincy Jones? Quincy Jones é um produtor musical, compositor, arranjador e empresário americano, conhecido por ser uma lenda viva da música, com uma carreira que abrange mais de seis décadas.

Quantos Grammys Quincy Jones ganhou? Quincy Jones ganhou 28 Grammys de 80 indicações e recebeu um Grammy Legend em 1992.

Quais foram os pioneirismos de Quincy Jones na indústria musical? Ele foi o primeiro produtor negro do mundo, o primeiro a escrever trilhas sonoras para o cinema e o primeiro negro a ser indicado ao Oscar.

Como a música influenciou a vida de Quincy Jones na infância? A música ofereceu a Quincy uma saída para escapar do medo e do mundo do crime, transformando sua vida e direcionando-o para o sucesso e a fama.

Qual foi a colaboração mais notável de Quincy Jones? Sua colaboração mais notável foi com Michael Jackson, produzindo álbuns icônicos como “Off The Wall”, “Thriller” e “Bad”, que se tornaram marcos na história da música pop.

1 comentário em “Quincy Jones, o negro mestre da música”

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