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2023

Inspirações para
atividades didáticas

Confira os artigos abaixo

Créditos: Geledés / Reprodução do kit ‘A Cor da Cultura’

PN Educação, para além da escola

Nosso projeto PN Educação evolui para além da escola. Melhor, traz práticas ancestrais para o presente, que é o tempo no qual construímos o futuro que queremos viver. 

Quando ampliamos nosso olhar – passado, presente e futuro – temos como resgatar, em nossa essência, práticas dos que vieram antes: a educação dentro de casa, em família, em roda, ouvindo os mais velhos, fazendo descobertas junto com os nossos iguais, mantendo relações éticas e respeitosas

Nossas famílias, fora de África, se formaram pelos laços da afetividade. Foi assim que resistimos e re-existimos, apesar da escravização, da desumanização e da invisibilidade imposta a nós, originalmente arrancados de outro continente. Por isso, trazemos em nossa essência todo saber e todo existir dos que vieram antes.

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Registradas estas palavras, vou recomeçar minha escrita pedindo licença aos mais novos e aos mais velhos… 

É assim que referencio o respeito que aprendemos com os saberes de todos, todas e todes, não importa a idade. Isso tem a ver com África, com o entendimento de que aprendemos com quem veio antes e com quem veio depois, de que todo aprendizado real é circular e não hierárquico.

A Educação pensada em África é a educação circular, de corpos-território, território que não é geolocalizado, mas que contém passado, presente e futuro, porque nosso corpo é ancestral, de coexistência com o outro, com o ambiente, com todos os seres viventes, um corpo que tem água, terra, ar… 

Retomar a roda, o contar histórias de nossas vidas em todos os tempos, é resgatar a possibilidade de continuarmos a existir. 

É verdade que nossos corpos nasceram no Ocidente, contudo, é urgente construirmos uma nova perspectiva emancipatória de povo preto não colonizado pela Europa: nossos corpos foram escravizados, nosso coração não.

A base da civilização do mundo não é o Ocidente – não é civilizado raptar, escravizar, violar corpos como fizeram os nascidos na Europa com o povo africano; não é civilizado se apropriar de bens materiais e imateriais de outras civilizações.

Temos conhecimentos, ciências e filosofias milenares, capazes de trazer outras possibilidades de co-existir, sem egocentrismo.

O nosso desafio é viver “fora da caixa”, mesmo estando no Ocidente, em um país de mentalidade colonizada, violento, de histórica única, que omite a nossa presença qualificada, potente, revolucionária.

Acreditamos que o caminho é pela educação

E nos perguntamos o tempo todo:

 Que educação queremos?

“Precisamos nos organizar, trazer outros pressupostos humanitários, outro modelo de escola, pautar outras falas, questionar as verdades absolutas, preservar a natureza… Vamos para dentro das comunidades indígenas e quilombolas, para dentro dos terreiros, ouvir os mais velhos e as mais velhas, descolonizar nosso olhar e nossa escuta… Lá a resposta de voltar a vir a ser, de construir outra saída, romper com o que está posto.”

Esta é a proposta da socióloga e mestra em extensão rural, a quilombola Sonia Abike, algo a ser construído.

O que fazer agora?

Temas estruturantes

Ainda não temos os nossos espaços, as nossas Per Ankh. Enquanto isso, seguimos querendo, sim, fazer cumprir a Lei 10.639 – apesar das décadas que se passaram sem que ela tenha, de fato e de direito, saído do papel -, como está em nosso texto de lançamento do projeto PN Educação. Enquanto isso, queremos sim, seguir ocupando as universidades para impor – aprimorando, mais a mais a Lei de Cotas -, por meio de nossos alunos pretos, a oralitura como fonte de saber acadêmico, bem como a produção de autores de África e de negros de todo o mundo.

Um ponto que temos contemplado no PN Educação, embora não concordemos com a nomenclatura, são os chamados “temas transversais”, que tratam de perto das questões que afetam diretamente o nosso existir – é preciso estar de acordo com as Leis de Diretrizes da Educação a caminho do sistema educacional que sonhamos para a sociedade, na qual somos protagonistas, na qual nossa história – que não começa no século XV – faz parte da transmissão do saber.

Racismo, machismo, feminicídio são temas estruturantes. São práticas que estão na estrutura do sistema educacional, inclusive, no dia a dia de nossas crianças, jovens e professores, diretores, funcionários públicos pretos e pretas.

Ensinar a história preta é mais que fazer cumprir a Lei 10.639. Implica mudança:

A história que interessa ao Brasil é a história africana.

A geografia que interessa ao Brasil é a geografia africana. 

As Ciências que interessam ao Brasil são as ciências africanas. 

A matemática que interessa ao Brasil é a matemática africana. 

A África é o berço da humanidade. 

Kemet – antigo nome dado ao Egito – é o ponto de partida. 

A primeira universidade do mundo nasce em África!

 A filosofia grega é apropriação das filosofias africanas e da mitologia, fonte, aliás, das histórias do chamado “livro sagrado”, a Bíblia.

Como denuncia a  socióloga e professora Sonia Abike, mestre em extensão rural:

“Eles mataram a nossa história porque história é poder.”

A Filosofia Ubuntu, popularizada pelo arcebispo Desmond Tutu e pelo ativista Nelson Mandela, como  forma de curar a África do Sul pós-apartheid,  encapsula a idéia de humanidade compartilhada: “Eu sou, porque nós somos.” 

A New World Encyclopedia define a palavra, também usada em Uganda, Tanzânia, Burundi e Zimbábue:

“… consciência constante de que as ações de um indivíduo hoje são uma reflexão sobre o passado e terão consequências de longo alcance para o futuro. Uma pessoa com ubuntu sabe seu lugar no universo e, consequentemente, consegue interagir harmoniosamente com outros indivíduos.”

Nosso trabalho é “resgatar a vida da nossa história” porque o futuro é ancestral. 

Tania Regina e Pedro Otavio

Novembro 2023

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PN Educação é ferramenta de resistência, re-existência, resgata sujeitos da nossa história, para leitura crítica da mídia e dos livros escolares, por uma educação inclusiva.

Seu ícone, inspirado na simbologia da encruzilhada, representa a abertura de caminhos, a partir da informação, do ressignificar o já apreendido. É a nossa reverência a Exu, o orixá que faz a mediação entre o humano e o divino, o consciente e o inconsciente, que nos  convida a ampliar o olhar, abrir a mente.

Ao longo do primeiro ano do PN Educação publicamos 48 propostas de conteúdo para atividades didáticas para aulas de Português, História, Matemática, Filosofia… Mas entendemos a negritude, a história negra, como tema transversal. Estamos em tudo! Na arte, na cultura, na política, nas questões de gênero e sexualidade, no mercado de trabalho, na escrita…

E, agora, neste ano 2, ampliamos as disciplinas, o número de sugestões didáticas e atualizamos o formato. Isso porque acreditamos na Educação como o caminho para transformar a realidade. Educação, reeducação, mudança, ferramenta de fortalecimento do povo preto no enfrentamento do racismo e na construção da autoestima.

Mapeamos pioneirismos para romper com as marcas da escravização negra e ressignificar o nosso viver e nossa contribuição qualificada nos quatro cantos do mundo, rompendo estigmas criados pela sociedade, implicitamente racista, a ponto de, muitas vezes, se manter inerte, paralisada, no seu combate.

primeirosnegros.com é o olhar negro para a história negra com os prós e contras próprios da humanidade. Não a história inventada, mas a história vivida, com suas contradições.

Legislação inclusiva

No nosso acervo – e em especial no PN Educação -, material de apoio para a democratização racial da prática docente e a implantação – mais que tardia – da Lei 10639, do ano de 2003, alterada pela Lei 11.645, de 2008, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, tornando obrigatória a abordagem da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena no ensino básico em todas as escolas do país, “incluindo a história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil”.

A inserção do tema no rol dos conteúdos escolares – bem  como nosso projeto PN Educação – quer levar para dentro da escola o debate a respeito da diversidade cultural, racial, social e econômica brasileira.

Chega de negligenciar nossa identidade. É papel da Geografia mostrar que a África faz parte de nossas origens étnicas, históricas e culturais. Que o Brasil existe a partir daquele continente e, até hoje, se sustenta pela população de lá originária.

PN Educação propõe novas práticas no ambiente escolar, a partir da realidade da população afrodescendente, maioria do povo brasileiro. 

“A ignorância impede a tolerância, o compreender a diversidade como riqueza.” 

– Tania Regina e Pedro Otavio

EM SALA DE AULA

Sugestões de atividades didáticas, disciplina por disciplina, incluindo os Temas Transversais, que expressam conceitos e valores básicos à democracia e à cidadania e obedecem a questões importantes e urgentes para a sociedade contemporânea, como ética, meio ambiente, saúde, trabalho e consumo, orientação sexual e pluralidade cultural. Juntos, podemos fazer a diferença.

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