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Rafaela Silva, ineditismo no judô

Primeira atleta da modalidade a ser campeã olímpica, mundial e pan-americana, foi das brigas de rua na Cidade de Deus ao ouro olímpico.

Rafaela Silva ganhou a medalha de ouro na categoria 57kg, no Pan de Lima em agosto deste ano (Imagem: Wander Roberto / COB/MF | Press Global)
Rafaela Silva ganhou a medalha de ouro na categoria 57kg, no Pan de Lima em agosto deste ano (Imagem: Wander Roberto/COB/MF | Press Global)

Rafaela Lopes Silva nasce em 24 de abril de 1992 na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, e quase 21 anos depois, na quarta-feira, 28 de agosto de 2013, entra para a história do judô e do negro, ao se tornar a primeira judoca do Brasil a conquistar o título mundial, a única campeã mundial do judô feminino brasileiro.

O feito acontece em campeonato disputado no Rio de Janeiro, na categoria até 57kg, após derrotar a norte-americana Marti Malloy na final.

Rafaela nos sete combates que fez anteriormente contra a norte-americana teve seis vitórias e precisou de apenas 59 segundos de luta para aplicar um ippon em, chegando ao ouro.

Fim do jejum

Enquanto a seleção brasileira masculina já somava quatro títulos mundiais na história, a feminina ainda não tinha subido no lugar mais alto do pódio nesta competição. Mas o jejum acabou com Rafaela Silva, uma judoca de apenas 21 anos, que teve uma campanha fantástica.

Na última edição do Mundial, em 2011, em Paris, Rafaela, com 19 anos, chegou muito perto do ouro inédito, mas perdeu a final para a japonesa Aiko Sato e conquistou a prata.

Para chegar ao pódio, Rafaela precisou disputar cinco lutas na mesma quarta-feira. Durante as eliminatórias da categoria, na primeira parte da programação, conseguiu três vitórias contra Hana Carmichael (Estados Unidos), Loredana Ohai (Romênia) e Nora Gjakova (Kosovo). Depois, na semifinal, enfrentou a francesa Automne Pavia, líder do ranking mundial.

A conquista no Mundial do Rio é uma espécie de redenção para Rafaela, depois da traumática eliminação na Olimpíada de Londres, em 2012, quando perdeu a chance de conquistar uma medalha olímpica, ao ser desclassificada de sua luta por um golpe ilegal (uma catada de perna, que deu na húngara Hedvig Karakas), o que provocou a sua eliminação.

Bicampeonato

Rafaela Silva volta a ser protagonista do judô mundial em 8 de outubro de 2022. A negra e brasileira, campeã olímpica na Rio-2016, volta aos tatames de um Campeonato Mundial após dois anos de suspensão por doping, em 2019.

Sua primeira luta foi contra a uzbeque Nilufar Ermaganbetova, batida sem dificuldade para a brasileira. Depois, Rafaela enfrenta Ivelina Ilieva, da Bulgária, e aplica um ippon no golden score para avançar na chave.

Já nas quartas de final, encara a ucraniana Daria Bilodid, campeã mundial e medalhista olímpica na categoria 48kg. No novo peso, porém, a jovem de 21 anos encontra em Rafaela uma adversária a altura de seu currículo e acaba sendo batida por três punições.

Na disputa da semifinal, Rafaela Silva faz uma luta relâmpago, vence a israelense Timna Nelson Levy com apenas 24 segundos.

A competição foi disputada em em Tashkent, no Uzbequistão. Na final, ela derrota a japonesa Haruka Funakubo com um waza-ari a 30 segundos do fim da luta

Nas Olimpíadas, além de um ouro, ela tem três medalhas de prata e duas de bronze, individuais ou por equipes. 

A queda

Após conquistar a medalha de ouro no Pan-Americano de Lima, no Peru, um exame antidoping apontou presença de uma substância broncodilatadora proibida.

Na época, Rafaela justificou que teve contato com uma criança que tratava asma. Mas não foi suficiente para ela ter de volta a conquista. Além disso, a judoca teve suspensão de dois anos – entre os anos 2019 e 2021.

Desestabilizada, ela conta que tentou o suicídio algumas vezes.

A volta

Em 2022, acontece seu retorno com a conquista de um novo título no Mundial, no Ubequistão. Um ano depois, no Pan de Santiago, ela recupera a medalha de ouro que havia perdido e se prepara para as Olimpíadas de Paris. 

Aos 32 anos, a jornada de Rafaela Silva na capital francesa não começa bem. A judoca é eliminada nas semifinais e desclassificada na disputa do bronze, por uma infração técnica, semelhante à ocorrida em sua primeira participação olímpica em Londres 2012.

E ela desabafa:

“Eu queria a medalha, trabalhei muito (…) Peço desculpas, porque não consegui (…) Estou nesta categoria desde 2008 e já enfrentei muitas vezes essas adversárias. Hoje a diferença foi no detalhe e, no meu detalhe, acabei falhando…”

Mas não ficou sem medalha! Na disputa por equipes, é ela quem define a conquista de inédita medalha de bronze.

Das ruas para o tatame

“Comecei o judô em 2000, no início do projeto. Meu pai me colocou no esporte como alternativa para eu parar de ficar brigando na rua. No Judô, encontrei disciplina, passei a respeitar os outros e comecei a levar o esporte a sério. O judô me mostrou o mundo…”

Assim começa a história de nossa pioneira que pode inspirar outros pais, mães, crianças… Ela era apaixonada por futebol, jogava pelada com os meninos. Na rua, porém, arrumava confusão. Daí a ideia de seu pai, Luiz Carlos Silva: colocar a filha no judô.

Aos 8 anos, ela foi uma das primeiras alunas do que virou o Instituto Reação, fundado pelo ex-judoca Flávio Canto. Seu talento bruto foi lapidado e, aos 16 anos, tornou-se campeã mundial júnior. Quatro anos depois, era atleta olímpica.

Hoje cerca de 4 mil crianças são atendidas em 12 polos distribuídos em seis Estados brasileiros.

Fontes: GE – Globo, Instituto Reação, Uol, Zero Hora


Escrito em agosto de 2013, atualizado em outubro 2022 e em 5 de agosto de 2024

2 comentários em “Rafaela Silva, ineditismo no judô”

  1. Tania, poderia me dizer se a judoca Rafaela Silva entrou pelo sistema de cotas para negros no concurso da marinha? Tem gente dizendo que ela venceu sozinha e não precisou desse sistema.

  2. Pingback: Os esportes e a superação negra

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