Tuskegee Airmen é o nome popular do primeiro grupo de pilotos de caça afro-americanos das Forças Armadas que lutaram na Segunda Guerra Mundial.
Heróis em dose dupla – contra o facismo e contra o racismo -, os Tuskegee Airmen integravam o 332.º Grupo de Caça e 447.º Grupo de Bombardeiros da Força Aérea dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.
Eram pilotos de caça, mas também navegadores, bombardeiros, mecânicos, instrutores, chefes de tripulações, enfermeiros, cozinheiros e faziam parte do pessoal de suporte.
Chamados “Tuskegee” porque todos aprenderam a teoria da profissão na Tuskegee University, nas imediações da cidade com o mesmo nome, no Alabama.
O grupo incluía cinco pilotos haitianos, um de Trinidad e Tobago e outro da República Dominicana.
Desafio em terra
Para voar, os Tuskegee Airmen tiveram que, primeiro, enfrentar o racismo nos Estados Unidos, para então lutar contra o fascismo que ameaçava o mundo.
Durante a Primeira Guerra Mundial, entre 1914-1918, homens afro-americanos tentaram tornar-se observadores aéreos, mas foram rejeitados. A justificativa? As leis de Jim Crow, do final do século XIX, garantiam o império da segregação racial em todos os estabelecimentos públicos do país.
Nem ações na justiça por parte de todos que desejavam alistar-se e treinar com os aviadores militares – luta liderada por Walter White, da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor, pelo líder sindical A. Philip Randolph e pelo juiz William H. Hastie – conseguiram reverter as rejeições por causas raciais.
A conta-gotas
Só em 1939 – ano em que se inicia a Segunda Grande Guerra – , é aprovada, pelo Congresso Americano, emenda que destina fundos para treinamento de pilotos afro-americanos.
A partir daí, ainda sob o império da segregação racial, o Departamento de Guerra dos Estados Unidos se responsabiliza pela criação de uma escola de aviação civil voltada para o treinamento de negros.
O processo acontece em duas etapas. Primeiro, regras rígidas para o processo de seleção. Entre elas, a obrigação de ter ensino superior completo e alguma experiência com aviação.
Mas tais requisitos não foram suficientes para barrar as inscrições – o Corpo Aéreo Americano recebeu muitas inscrições de homens negros qualificados. Muitos deles, um ano antes, em 1938, haviam participado do Programa de Treinamento de Pilotos Civis. E, no final do recrutamento, 271 negros foram selecionados.
Na segunda etapa, os selecionados seguiram segregados, com treinamentos separados, realidade que invadiu a guerra, apesar de brancos e negros integrarem a mesma batalha!
Os Tuskegee
Em 1941, os soldados negros foram separados de vez e transferidos para a Tuskegee University, onde formaram o “99° Esquadrão de Perseguição”, a primeira equipe voadora totalmente negra – ainda em terra!
No ano seguinte, o major Noel F. Parrish pediu permissão ao governo americano para que os aviadores de Tuskegee servissem em combate.
O pedido foi negado. O comitê que analisou a solicitação considerou o esquadrão inexperiente. Isso porque nunca tinham sido vistos em combate durante a formação.
Depois disso, o Corpo de Aviação do Exército conduziu um teste militar para determinar se os afro-americanos poderiam pilotar aeronaves de combate.
Em tempo de espera, todos os pilotos formados na Universidade passaram a ser chamados de Tuskegee Airman.
Rabos vermelhos
Em 1943, depois de aprovados no teste militar, se concretiza, finalmente, a primeira oportunidade de lutar do 99° Esquadrão de Perseguição.
A primeira missão do grupo foi atacar uma pequena ilha vulcânica, localizada no Mar Mediterrâneo, com o objetivo de limpar a área para a invasão da Sicília.
Nessa missão, a equipe mudou sua identidade para diferenciar os inimigos dos amigos, pinturas de vermelho foram adotadas nas traseiras dos aviões. Essa marca os deixou conhecidos como Red-Tails Angels ou Red Tails.
A tradução literal, “Rabos Vermelhos”, referem-se às listras nas caudas das aeronaves quando iniciaram os treinamentos de voo no biplano PT-17 Stearman do Exército, em Tuskegee.
Grupo de Caça
No ano seguinte, o 99° Esquadrão foi transferido para uma unidade no sul da Itália, onde se uniu ao 100°, 301° e 302° Esquadrão de Perseguição, formando assim o 332° grupo de Caça, a primeira grande unidade de combate formada por pilotos negros.
Durante as escoltas de bombardeios na Itália, o 332° grupo de Caça se destacou pela rapidez no ar, com recordes no combate aéreo. Um destes recordes foi a destruição de cinco aeronaves inimigas em menos de quatro minutos.
Legados e cultura
Ao todo, 992 pilotos foram treinados em Tuskegee, de 1941 a 1946. Nesse período, aos combatentes foram creditadas grandes realizações.
Eles participaram de mais de 8 mil missões de combate; concluíram 179 missões de escolta de bombardeiros, perdendo em apenas sete missões; destruíram 112 aviões inimigos no ar, outros 150 no solo, e danificaram 148 danificados, incluindo três caças alemães Me-262 jet fighters abatidos.
Do céu para a terra, destruíram 950 veículos militares, incluindo mais de 600 trens, além de caminhões e outros veículos motorizados. Do céu para o mar, o saldo é de 40 barcos destruídos.
Os Tuskegee Airmen não à toa, colecionam prêmios de condecorações em sua história: três citações honrosas por heroísmo e bom desempenho, uma Estrela de Prata, 96 Cruzes Por Distinção em Combate Aéreo, 14 Estrelas de Bronze, 744 Medalhas do Ar e oito 8 Corações Púrpuros.
Fim da guerra, o combate continua
Os pilotos Tuskegee figuraram entre os melhores pilotos da Força Aérea dos Estados Unidos mas, terminada a guerra, em 1945, tiveram de continuar na luta contra o racismo dentro e fora do universo militar.
Após o término da segregação oficial entre militares, em 1948, os veteranos Tuskegee Airmen passaram a ter mais facilidade para atingir postos de comando na Força Aérea dos Estados Unidos.
Alguns passaram a atuar como instrutores em escolas de aviação civil. Em 11 de maio de 1949, foi determinada a aceitação de negros em escolas aéreas antes voltadas exclusivamente para brancos.
Mas só em 1975, Daniel “Chappie” James Jr., instrutor do 99º Esquadrão de Caça, em 1975, tornou-se o primeiro afro-americano a atingir o posto de general de quatro-estrelas.
O comandante do 99º Esquadrão no pós-guerra, Marion Rodgers, anos depois, criaria um programa para o Projeto Apollo, que levaria o homem à Lua.
Em 2005, sete Tuskegee Airmen, incluindo o tenente-coronel Herbert Carter, o cel. Charles McGee, o historiador Ted Johnson e o tenente-coronel Lee Archer, voaram até o Iraque, a fim de se encontrarem com militares do atual 332º.
Willie Rogers, o último membro sobrevivente dos Tuskegee originais, morreu aos 101 anos de idade, em 18 de novembro de 2016, na Flórida, após uma hemorragia cerebral.
Em 2007, o presidente George W. Bush premiou os aviadores Tuskegee com a Medalha Dourada do Congresso.
Na tela grande
A história dessa esquadrilha é retratada no filmes Red Tails, de 2012, dirigido por Anthony Hemingway, que destaca o drama e as ações do grupo na Europa (adicionar link do trailer) e The Tuskegee Airmen, lançado no Brasil com o título “Prova de Fogo”, de 1995, do diretor Robert Markowitz (adicionar link do trailer).
No filme Uma Noite no Museu 2, também, pilotos Tuskegee se encontram com o personagem de Ben Stiller.
Inspire-se também com a história de Carl Brashear e de Henrique Dias, militares negros e pioneiros!
Fontes:
Pingback: Yasuke, o primeiro e único samurai africano do Japão • Primeiros Negros
Importantes participação dos pilotos negros estadunidense, na segunda guerra mundial.
Fascinante… Ainda mais eu descendete de : índios de Dourados MS , neta e filha de Pernambucanas , ( escravos e realeza ) filha mestiça de um pai e avô Cearenses – Portugueses no qual meu avô ( in memorian) Vicente Alves de Oliveira serviu ao então Presidente Getúlio Vargas em 1949 para acabar com a tirania. Me emocionei muito em saber que minha história têm tudo haver lá trás com o primeiro Samurai Negro…
Gratidão por essa pérola negra e rara
Parabéns!
Mais que palavras… Eu quero atitude