Silvio Humberto, do ativismo ao poder político (Imagem: Primeiros Negros)
Uma reforma da política de drogas no Brasil pode ser a oportunidade de o Brasil fazer uma grande revolução. Será?
O que este artigo responde:
O uso de maconha já foi legal no Brasil?
Qual a origem da palavra maconha?
Quais os efeitos do uso da maconha para a saúde?
Quais os efeitos do uso do cigarro para a saúde?
Cigarro ou maconha?
Baseado faz mal?
Menores de 18 anos podem usar maconha?
Maconha, no cachimbo ou como baseado?
Quem pode fumar baseado?
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Você pode fumar baseado?
Uma resposta para pais e filhos, dada por quem entende do assunto.
Primeiros Negros
Ganja, baseado, beque, entre outros termos e gírias, é o nome que se dá ao cigarro artesanal de maconha ou cannabis, como é mais conhecido em território nacional.
Vale saber que maconha – do quimbundo “ma’kaña”, com som “makanha” – significa “erva santa” e é o nome original dessa planta ancestral. O termo Cannabis – em latim, vem do grego “kánnabis” – se refere especificamente ao gênero da planta – tanto a maconha, quanto o cânhamo são Cannabis. Aliás, “cânhamo” é um anagrama da palavra “maconha”. Ou seja, as duas são escritas usando exatamente as mesmas letras.
Tal registro, logo na introdução, é importante porque confirma outra estratégia do racismo estrutural, que é “macular”, deliberadamente, a nossa cultura; criminalizar o sagrado dos escravizados, e, ao mesmo tempo, apropriar-se:
a “ma’kaña” está inserida na farmacopeia brasileira.
Mas especificamente, na 1ª edição da Farmacopeia Brasileira, o Código Oficial Farmacêutico seguido no Brasil, que tem como função principal estabelecer os requisitos mínimos de qualidade de medicamentos e outras formas farmacêuticas para uso em saúde.
Detalhe importante: a 1ª edição da Farmacopeia Brasileira foi aprovada em 4 de novembro de 1926, pelo Decreto 17.509, e atualizada em 1943.
A resposta
Você pode fumar baseado?
“Não. O grande vilão da maconha é exatamente o cigarro de maconha, o baseado. O tráfico de drogas alimenta o pior tipo de produto que existe nesse mercado. O tablete de prensado tem todo tipo de imundície que se pode imaginar. O uso fumado não é bom, porque inclui carburar não só a planta, mas o que se usa para envolver a planta. Ali, existe uma série de substâncias que não fazem bem à saúde”, afirma Jackeline Barbosa, médica e doutora em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
E a sua orientação vale, em especial, para os menores de 21 anos:
“Quem pode fumar – pensando em redução de danos – é uma pessoa adulta, com cérebro já formado, que não tenha questões com a atuação dos ativos da cannabis… o uso não seria tão problemático, quanto para uma criança, um adolescente, com cérebro em formação, cheio de sinapses acontecendo e que seriam ainda mais estimuladas pelo THC, a fração mais psicoativa da maconha”.
Estudos recentes, realizados nos Estados Unidos, indicam que o uso persistente e dependente de cannabis antes dos 18 anos pode causar danos à memória, à inteligência e à atenção. Mas não há consenso se tais danos são permanentes.
Saúde mental
“Pessoas que têm histórico familiar de psicose, qualquer tipo de doença em que se tenha uma psicoatividade patológica, ou que já usaram maconha e não se sentiram bem, não têm condição de usar cannabis fumada”, alerta a médica.
A lógica é a mesma do que acontece com os adolescentes. A maconha fumada, é uma mistura de ativos, entre eles o THC que vai estimular o cérebro que já está em funcionamento excessivo. E é exatamente o funcionamento excessivo que caracteriza os quadros psicóticos – doenças mentais em que o paciente perde o contato com a realidade.
A médica também contraindica o uso de qualquer tipo de cannabis por pessoas muito desconfiadas, uma particularidade que é potencializada.
“Nem tudo é bom pra todo mundo, o tempo todo, da mesma forma. E nem tudo é ruim o tempo todo da mesma forma”, filosofa Jackeline Barbosa.
Efeitos
A cannabis causa alguns efeitos psicoativos e fisiológicos quando é consumida. Entre os efeitos imediatos estão o relaxamento e a leve euforia. Entre os efeitos colaterais indesejáveis imediatos estão: boca seca, habilidades motoras levemente debilitadas e vermelhidão dos olhos. Além de uma subjetiva mudança na percepção e, sobretudo, no humor.
Os efeitos físicos e neurológicos de curto prazo mais comuns incluem aumento da frequência cardíaca e do apetite, dificuldade de raciocínio, diminuição da memória de curto prazo, perda de coordenação psicomotora, sonolência e concentração, dificuldade de atenção.
Estes efeitos podem ocorrer mesmo que a maconha seja utilizada apenas uma vez e, no geral, são passageiros. Outros efeitos colaterais como psicose e paranoia só costumam acontecer quando a maconha é utilizada em grande quantidade.
A longo prazo, os efeitos são menos óbvios. Nos seres humanos, além de danos respiratórios – a fumaça da maconha é muito tóxica e pode trazer complicações para os pulmões, quando fumada.
Maconha x tabaco
De acordo com estudo norte-americano publicado em 2012 na revista científica Journal of the American Medical Association, fumar maconha é menos danoso ao pulmão do que consumir os cigarros de tabaco.
A pesquisa usou uma base de dados de fumantes e usuários leves e moderados, que consomem até 20 baseados por ano, pelo período de 20 anos. Entre os que consumiram tabaco, houve redução da capacidade pulmonar. Já entre os fumantes de maconha, não houve perda.
O fato de que o pulmão não foi afetado – esclarece Stefan Kertesz, autor do estudo, pesquisador da Universidade do Alabama, em Birmingham – não significa que a fumaça da maconha seja benigna:
“Claramente, há substâncias tóxicas na fumaça da maconha.”
Stefan Kertesz, durante entrevista, declarou, ainda, que seu trabalho não deve servir como uma defesa da droga, mas destacou o fato de o consumo da maconha envolver aspectos morais, culturais e religiosos:
“Não faz sentido olhar para o consumo da maconha apenas pelo ponto de vista do pulmão”.
Para Marta Jezierski, diretora do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas, órgão da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, na época do estudo, “a verdade é que os dois fazem mal à saúde. A maconha pode provocar infertilidade, esquizofrenia, perda de memória e câncer de testículo. Já o tabaco aumenta o risco de quase todos os cânceres, em especial os do sistema respiratório, erepresenta maior possibilidade de doenças cardiovasculares”.
Nem fumar nem comer
Em 2020, após a liberação do uso recreativo da maconha no Canadá, médicos da Universidade de Toronto publicaram um comunicado alertando sobre os perigos de ingerir a erva e misturá-la com outras substâncias, como o álcool e medicamentos.
Segundo os especialistas, engolida, a droga pode demorar cerca de quatro horas para apresentar os efeitos, que chegam até oito horas de duração. Além disso, ao comer maconha os usuários podem experimentar sensações mais intensas do que as resultantes da forma inalada.
Além disso, interação com álcool, remédios para dormir, opioides e benzodiazepina podem causar psicoses, vômitos e desmaios.
Dirigir depois de ingerir maconha também é desencorajado.
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Fontes: podcast mano a mano -cannabis – entrevista com a médica Jackeline Barbosa; Tua Saúde, G1 – Globo Ciência, Metropoles, Wikipédia , Câmara Legislativa
Escrito em abril 2024
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