Com a ausência da autoridade máxima do país, coube ao povo brasileiro, na figura de uma mulher negra, transmitir a faixa de presidente da República a Luiz Inácio Lula da Silva em 1º de janeiro de 2023, em gesto inédito na história do Brasil.
Lula recebe a faixa presidencial no Palácio do Planalto. (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters).
Primeiros Negros
Antes de Aline Sousa, de 33 anos, mulher negra e catadora de papel, colocar o símbolo do poder de presidente da República do Brasil no peito de Luiz Inácio, a faixa passou pelas mãos de cidadãos representando a riqueza e a diversidade do povo brasileiro…
uma criança, um indígena, uma pessoa com deficiência física, um operário, um professor, uma cozinheira, um artesão e uma mulher negra.
“Quem entrega a faixa é o povo brasileiro que, segundo a Constituição, é o detentor do poder.”
(anuncia o senador Randolfe Rodrigues, líder do governo no Congresso)
O petista, pela terceira vez à frente da Presidência do Brasil e depois de 580 dias na prisão, emocionado, chora ao vestir o símbolo da autoridade máxima do país.
Nas mãos do povo
Um dia diferente, uma posse única. No Rolls Royce, não só o presidente e a primeira-dama, mas o vice-presidente Geraldo Alckmin e sua esposa Lu Alckmin.
O carro para à beira da rampa do Palácio do Planalto. Os dois casais descem e o cerimonial forma um triângulo com o presidente à frente. Mas Lula desfaz o triângulo, dá a mão para o cacique Raoni e para o menino Francisco.
E o que se vê, em questão de segundos, são brasileiros representando as minorias – a parte da sociedade que forma a maioria do povo – de braços dados com o poder, personificado na figura de Lula. Ninguém à frente de ninguém. Todos lado a lado.
Além de Aline, Francisco e Raoni, lá estão Weslley, Murilo, Flavio, Jucimara, Ivan e, também, Janja da Silva, o casal Alckmin e o cachorro Resistência!
Quando chegam no alto da rampa, todos se abraçam, ao som da versão instrumental da canção “Amanhã”, de Guilherme Arantes:
“Amanhã será um lindo dia Da mais louca alegria Que se possa imaginar Amanhã, redobrada a força Pra cima que não cessa Há de vingar Amanhã, mais nenhum mistério Acima do ilusório O astro rei vai brilhar Amanhã a luminosidade Alheia a qualquer vontade Há de imperar, há de imperar Amanhã está toda a esperança Por menor que pareça O que existe é pra festejar Amanhã, apesar de hoje Ser a estrada que surge Pra se trilhar Amanhã, mesmo que uns não queiram Será de outros que esperam Ver o dia raiar Amanhã ódios aplacados Temores abrandados Será pleno, será pleno.”
A tradição de o presidente em exercício transmitir a faixa presidencial ao presidente eleito não foi seguida nem por Jair Bolsonaro – que “fugiu” para os Estados Unidos – nem por Hamilton Mourão, o vice-presidente, apesar de estar em território nacional. O que foi ótimo!!!
“Boa tarde, povo brasileiro”
Globo
Apoiadores de Lula se reúnem no dia em que ele toma posse como presidente do Brasil (Foto: Adriano Machado/Reuters).
Antes do discurso no Parlatório, acontece a execução de “Trenzinho Caipira”, de Heitor Villa Lobos. E o presidente Lula começa agradecendo o carinho e a força que recebeu todos os dias do povo, simbolizado pelos representantes das grandes minorias do Brasil presentes e presentes também na Vigília Lula Livre, em Curitiba, no Paraná, durante o período em que esteve preso. Pessoas que todos os dias se faziam ouvir por Lula dizendo: “Bom dia, presidente”, “Boa tarde, presidente”, “Boa noite, presidente”…
Não por acaso, ele inicia seus 27 minutos de fala dizendo: “Boa tarde, povo brasileiro!”, informa que vai governar para todo mundo, para os 215 milhões de brasileiros e brasileiras e chora ao referir-se ao pedido de socorro das pessoas em situação de rua, com cartazes onde se lê: “Tenho fome”, indicando a urgência da situação.
Ao final da cerimônia, uma grande Bandeira do Brasil é colocada sobre os presentes ao som do Hino Nacional.
Grandes Minorias, presente!
Francisco é um menino negro de 10 anos, nadador da categoria mirim do Sport Clube Corinthians Paulista e morador no bairro de Itaquera, na zona leste de São Paulo. Filho de uma assistente social e de um advogado, o casal atua em causas sociais e, de acordo com a equipe de transição, os pais estiveram em manifestações em Curitiba, onde o presidente estava preso.
Da vigília Lula Livre, também, o artesão Flávio Pereira, de 50 anos, de Pinhalão (PR) e a cozinheira Jucimara Fausto, de Palotina (PR). Ela se aproximou do movimento ao participar de um concurso de culinária e, hoje, cozinha para a Associação dos Funcionários da Universidade Estadual do Maringá.
O cacique Raoni Metuktire, da aldeia Kraimopry-yaka, de 70 anos, autoridade indígena na luta por direitos e na defesa da Amazônia, representa os Povos Originários na posse.
Weslley Viesba, colega de profissão de Lula, é metalúrgico do ABC Paulista desde os 18 anos e se graduou na universidade por meio do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), criado no governo petista.
Luiz Inácio Lula da Silva chega ao Palácio do Planalto com grupo que representa diversos segmentos da sociedade após sua posse como novo presidente em Brasília, Brasil, domingo, 1º de janeiro de 2023. (Foto: Eraldo Peres/Reuters).
Murilo de Quadros Jesus, de 28 anos, formado em Letras – português e inglês -, que dá aula na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, indica a importância da Educação no governo que se inicia.
O jovem potiguar Ivan Baron, com mobilidade reduzida após ter meningite viral, é referência na luta anticapacitista e influenciador nas redes sociais.
Quanto a Aline, mulher preta, quem colocou a faixa presidencial em Lula, além de catadora desde os 14 anos, atua como presidente da Rede CentCoop do Distrito Federal, e responsável pela Secretaria Nacional da Mulher e Juventude da Unicatadores.
Não é novidade
A faixa presidencial foi criada em 1910 pelo então presidente Hermes da Fonseca como ato simbólico, mas o presidente que deixa o cargo não tem obrigação legal de participar do rito.
Assim como Bolsonaro, o ex-presidente João Baptista Figueiredo, último do período da ditadura, se recusou a passar a faixa para seu sucessor, José Sarney.
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